O poder do design no contexto urbano
Quando falamos em design, a primeira imagem que vem à mente é a de um objeto. No Brasil, os cursos de graduação em desenho industrial, criados a partir da década de 1960 – denominados cursos de ‘projética’ –, foram primeiramente transformados em ‘design industrial’, depois se espalharam como design de objeto, automotivo, de interiores, de móveis etc. O termo em inglês é tão difundido que deparamos até com designers de sobrancelhas. Sim. Como se diz nos tempos atuais, o termo viralizou.
Quando se fala em design para todos, traduz-se como democracia. E nenhuma escala de projeto é mais democrática do que o planejamento urbano. Algumas iniciativas recentes trouxeram à tona um debate saudável sobre o tema, e começam a aparecer no cotidiano dos brasileiros.
A começar pelo mobiliário urbano, que durante décadas era concreto sobre concreto, em qualquer praça do país. Hoje, incentivados pela latente demanda por espaços públicos com qualidade paisagística e material, além das oportunidades advindas de leis como a Cidade Limpa, de São Paulo, fabricantes passaram a investir no desenvolvimento (outro termo possível para traduzir design) e comercialização de bancos, equipamentos esportivos e abrigos de ônibus, entre outros.
Foi comum, no início, o estranhamento do poder público em relação ao custo (hoje mais competitivo) e aos motivos pelos quais deveriam largar mão do banco de praça tradicional e passarem a olhar esses equipamentos como instrumentos de bem-estar para a população.
Licitações públicas, no geral, não consideram a qualidade do design, ergonomia e projeto urbano. Com isso, algumas empresas adotaram modelo pelo qual os projetos são previamente financiados por patrocinadores, e depois apresentados às prefeituras para que permitam a instalação. É o modelo mais comum no caso de parklets e equipamentos esportivos.
Um dos designers mais reconhecidos do país, o premiado Guto Índio da Costa pode ser considerado um expert em equipamentos urbanos. De sua autoria, podem ser vistos desde os abrigos de ônibus da cidade de São Paulo – a maior concessão de mobiliário urbano na história do Brasil –, passando pelos quiosques de Copacabana, no Rio de Janeiro, até o recente VLT Carioca, um exemplo literal de design aplicado ao bem-estar e à mobilidade urbana.
Em escala um pouco maior, projetos de escritórios renomados justamente pelo ativismo urbano começam a aparecer como diferenciais em relação ao contexto passado. Em ávida luta juntos aos contratantes – as prefeituras –, conseguem impor novas formas, necessidades e pensamento coletivo, com diferenciais agudos que saltam aos olhos.
Exemplos como a orla de Ilha Comprida, o Cantinho do Céu, ou o Parque Linear do Rio Piracicaba, no estado de São Paulo, são cada vez mais comuns. No intuito de formar uma geração de pensadores urbanos dentro das universidades, uma iniciativa da revista Projeto em conjunto com a Alphaville Urbanismo ganhou recente destaque no meio dos medalhões do urbanismo nacional. Com a ideia de discutir uma escala intermediária, entre a polarizada relação da edificação versus plano urbano, o Urban21 – Concurso Universitário de Urbanismo, indo para sua quarta edição e com participação de centenas de universidades de todo o país, traz o debate sobre pequenas possibilidades de ações locais, o estudo de áreas menores de intervenção, feito pelos estudantes que estão, in loco, vivenciando a questão. No médio prazo, esses futuros profissionais certamente trarão um olhar especial para as cidades brasileiras. Uma literal luz no fim dos túneis. Que haja, para cada via criada pela histórica política rodoviarista do último século, uma praça agradável para contemplar a vida urbana.
- Crédito da foto em destaque: Boldarini / Divulgação