Arquitetura verde: uma tendência que veio para ficar
Sustentabilidade é um assunto em voga nos últimos anos. Apenas separar o lixo corretamente não adianta: empresas precisam ter mais responsabilidade em suas ações, que vão desde a diminuição dos resíduos lançados nas cidades até a relação com a sua mão de obra. Conceitos como engenharia e arquitetura verde também não podem esperar mais.
Na arquitetura, assim como na natureza, tudo se transforma. É por isso que designs e construções mais sustentáveis precisam ser pensados e adotados em quaisquer tipos de projetos. No entanto, é necessário verificar e entender se essas medidas trazem resultados reais. Continue a leitura do nosso artigo para saber mais sobre o tema!
O que é arquitetura verde?
No período após a Segunda Guerra Mundial, foram feitas muitas construções que celebravam o futuro, a globalização e o consumismo. E isso se estendeu até 2010, época em que a construção civil era responsável por 40 a 75% do consumo dos recursos naturais do planeta.
Então, surge a arquitetura verde, uma abordagem que propõe residências, edifícios e instalações mais sustentáveis e otimizadas, com diminuição do impacto ambiental e melhoria de performance. O objetivo é minimizar os impactos negativos — tanto no local em si quanto nas pessoas. Afinal, sustentabilidade se refere a todos os personagens, não apenas ao cenário.
A arquitetura verde envolve diversas ideias:
- posicionamento do imóvel de acordo com seu impacto no local;
- utilização de fontes de energia sustentáveis;
- adaptação de técnicas construtivas;
- reuso de materiais de construção;
- adoção de materiais eco-friendly;
- conservação de recursos.
Ao reduzir o consumo de recursos naturais do entorno, é possível diminuir os efeitos negativos da construção à população e à região em si.
Características
Não existem regras para uma arquitetura verde. No entanto, para que seja mais sustentável, é provável que seu projeto tenha algumas destas características:
- otimização do posicionamento da obra no terreno para que haja o máximo possível de aproveitamento dos recursos naturais (luz solar, vento etc);
- paisagismo com vegetação nativa, visando a exposição das plantas à luz solar de maneira adequada;
- atenção para causar o mínimo impacto possível ao local onde a construção estará inserida;
- uso de matéria-prima local, evitando deslocamentos longos e desnecessários;
- reciclagem de restos de construções e resíduos industriais;
- fontes de energia renováveis, como a solar ou a eólica;
- sistemas hidráulicos voltados à economia de água;
- uso de madeira de reflorestamento;
- telhados verdes e jardins verticais;
- reutilização da água da chuva;
- sistemas de ventilação.
A arquitetura verde é uma realidade?
Em 2013, o Brasil já estava em quarto lugar entre os países que mais concentravam edificações sustentáveis. No entanto, até onde vai essa sustentabilidade? Muitos dos prédios ditos eco-friendly ou constituídos de uma arquitetura verde se mostraram tão nocivos quanto as construções comuns. Isso porque visam mais a adoção de medidas ecológicas do que um trabalho no cerne da tipologia arquitetônica vigente.
Embora agregar elementos mais sustentáveis possa fazer a diferença ou não piorar o problema local, isso também não necessariamente ajuda a melhorar. É como implementar o uso de aparelhos que consumam menos energia elétrica, mas continuar a adotar fachadas de vidro, que absorvem a luz solar e deixam o ambiente mais abafado.
Em 2009, o jornal The New York Times publicou um artigo chamado Some Buildings Not Living Up to Green Label, abordando primeiramente o caso do Federal Building, que conseguiu a tão almejada certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design ou Liderança em Energia e Design Ambiental) mais pelo paisagismo nativo do que por recursos estruturais de economia de energia.
Outro aspecto é não coordenar sustentabilidade com educação. Muitas vezes, uma tecnologia que possa resultar em economia financeira ou menos poluição faz com que a população se torne um pouco mais permissiva.
Usando um exemplo parecido com o anterior: ter uma estrutura que deixe o ambiente interno mais fresco pode fazer com que os usuários aumentem o consumo de energia com outros aparelhos. Há também empresas que mudam sua sede para um local eco-friendly mais afastado, exigindo maior deslocamento dos seus colaboradores e aumentando a poluição.
Por fim, o que pode esvaziar de sentido a arquitetura verde é seu objetivo: em vez de um local mais sustentável e correto, construtoras estão interessadas em criar um ambiente supostamente eco-friendly como forma de obter vantagens tributárias, atrair moradores mais abastados e/ou projetar uma imagem de responsabilidade ambiental.
É por isso que muitos edifícios antigos, que trabalham com o conceito de arquitetura passiva (aquela que aproveita elementos naturais do local para construir edificações com frescor térmico) sem que essa tenha sido a intenção inicial, conseguem resultados mais eficientes do que aqueles declaradamente sustentáveis.
Foi observando essa situação que o programa LEED começou a exigir que todos os edifícios recém-construídos forneçam contas de energia e água nos primeiros cinco anos de operação como condição para a certificação. A etiqueta pode ser revogada, caso os dados não sejam produzidos.
Outro grande desafio sustentável é o uso de recursos naturais que respeitem a população local. Indígenas, seringueiros, quilombolas e habitantes da zona rural têm um contato direto e sustentável com os recursos naturais, mas estão há décadas ou séculos vendo seus direitos cerceados para que deem lugar a grandes construções.
Quais são os principais exemplos de arquitetura verde?
Nem toda arquitetura verde é fachada. Pelo contrário: muitos profissionais conseguem ter uma visão além de ferramentas e recursos e vão mais a fundo na questão, oferecendo projetos que servem de exemplo ao mundo inteiro. Conheça alguns.
Casa Folha (Rio de Janeiro)
Localizada em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, a Casa Folha é o perfeito exemplo de arquitetura verde que une design, sustentabilidade e otimização. Seu telhado funciona como uma grande folha, que protege todos os cômodos e espaços livres.
Projetada pelos arquitetos Ivo Mareines e Rafael Patalano, da Mareines + Patalano, a casa de praia foi inspirada na arquitetura indígena brasileira. Os autores a desenvolveram como um meio de melhorar e tornar mais agradável à interação do homem com a natureza.
Todas as superfícies de acabamento da casa, com exceção feita ao vidro, são naturais. Ardósia, madeira e bambu fazem parte do local, além do cobre patinado, que adquire um tom esverdeado e tem vida útil longa. Sua composição dá a sensação de que a casa nasceu e floresceu com a natureza local.
Family Box (China)
Um jardim de infância feito para todos — essa é a Family Box, localizada em Pequim.
Desenvolvido por Keiichiro Sako e Kumiko Fukasawa, da SAKO Architects, o centro educacional foi projetado para enriquecer a imaginação das crianças chinesas de até 12 anos.
Isso já é perceptível no seu exterior, coberto por desenhos de bonecos-palito. Seu design foi desenvolvido a partir de um conceito de árvores coloridas; o resultado reflete essa ideia de maneira abstrata e lúdica, como a árvore branca estilizada no meio de uma das salas.
A diferença de altura entre adultos e crianças e suas visões de vida diferentes inspiraram os dois tipos de espaço que existem na Family Box: um na escala infantil e outro na adulta. Para valorizar esses pontos de vista diferentes, placas de piso foram deslocadas para cima e para baixo e cortadas fora no chão.
Unisinos (Rio Grande do Sul)
A Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) conta com um campus em Porto Alegre totalmente voltado à arquitetura verde. Idealizado pela AT Arquitetura, o espaço, com fachada, paredes e telhados verdes, foi projetado para otimizar o uso de energia.
Os 2776 m² de ecotelhados foram realizados com os sistemas laminar médio e alveolar. Para a cobertura, a vegetação utilizada foi o boldo, uma planta que é resistente e atrai abelhas sem ferrão, polinizadoras que estão com déficit de locais para polinizar.
Já o jardim vertical conta com mais diversidade: asparguinho, bulbine, falsa-érica, clorofito e tradescantia.
Cidade Matarazzo (São Paulo)
A Cidade Matarazzo é um empreendimento de 30 mil m² na região central de São Paulo. Idealizado pelo Grupo Allard, projeta o futuro de São Paulo enquanto resgata uma importante parte da identidade local. Para isso, conta com valores que enfatizam a cultura, a história e a arte brasileiras, buscando um equilíbrio entre sustentabilidade e tecnologia.
Para implementar uma arquitetura sustentável, o idealizador, Alexandre Allard, optou pela preservação da área verde do entorno e do patrimônio histórico que o terreno abriga. Além disso, toda a obra utiliza materiais, recursos, trabalhadores e fornecedores locais.
A Torre Mata Atlântica, uma das construções mais imponentes, marca a estreia de Jean Nouvel na América Latina. Seu design une o traço único do arquiteto francês às características da natureza brasileira. Ela vai funcionar como uma continuação vertical da área verde do complexo e contrastar com o concreto da capital paulista.
Como vimos, embora a arquitetura verde muitas vezes seja utilizada apenas para chamar a atenção dos clientes, ela não é só possível, como também uma realidade em crescimento no Brasil.
Para saber mais sobre um dos projetos sustentáveis mais interessantes da atualidade, assista agora à palestra dada por Alexandre Allard no Archtrends Summit 2020!
Foto de destaque: localizada no centro de São Paulo, o mercado orgânico da Cidade Matarazzo é um exemplo recente de arquitetura verde (Foto: Cidade Matarazzo)