Você se lembra da “lixeira do palhaço”? Certamente, quando era criança se deparou com esse item bizarro em escolas ou parques. Essa peça de arte duvidosa tem origem em um estilo que se desdobrou para todas as áreas. Estamos falando da arquitetura kitsch.
Talvez você tenha artigos kitsch em casa e nem saiba que eles fazem parte desse mundo. Neste artigo, vamos mergulhar nessa arquitetura, explorando suas raízes controversas, sua estética infantil e seu universo nonsense. Acompanhe!
O que é a arquitetura kitsch?
Não há uma figura que cunhou o termo "kitsch". Contudo, o dicionário etimológico do educador Friedrich Kluge (1856-1956) relata que, em 1870, pintores já utilizavam essa nomenclatura.
O motivo para o uso é que ela estava ligada à palavra alemã verkitschen, que tem uma conotação infantil e sentimental.
Para reforçar esse efeito, os termos terminados em “tsch” no alemão são relativos a coisas bobas, vulgares e ingênuas.
Para além dessa explicação da palavra, o filósofo Richard Avenarius (1843-1896) relatou outro indício sobre o significado de kitsch.
O pensador escreveu que a palavra tem como fonte o termo sketch — conhecido de designers de interiores e arquitetos.
Um sketch é a versão bruta de um desenho ou produto que, comumente, fica bem distante de seus traços finais.
O kitsch tem uma forte relação com a cultura alavancada pela industrialização. Dentro dessa premissa de atender às massas, a qualidade e a profundidade ficam em segundo plano.
Nesse contexto, o kitsch se torna a primeira alternativa para grandes públicos — seja por fatores monetários, pela facilidade de produção ou pelo apelo popular para “ganhar o cliente”.
Como resultado, leva à baixa qualidade e distorce a estética e o significado do que a cultura erudita produz.
Quais são as principais características do estilo kitsch?
Quando falamos em arquitetura kitsch, não podemos afirmar que ela é “fundamentada em pilares”.
Isso se deve ao fato de que é como uma “arte camaleão”, que não se preocupa em criar suas próprias bases.
Ela simplesmente incorpora resultados prontos, na tentativa de ser tão boa quanto, ainda que “bom” seja subjetivo.
No entanto, como todo estilo, a arquitetura kitsch tem suas “marcas padrão”, expressas na maioria das obras.
Veja as principais características:
- flerte com a decoração infantil: esse estilo não é exatamente lúdico, mas sim, traz elementos infantis para ambientes adultos. Vale desde papéis de parede de personagens até artigos para crianças, passando por brinquedos;
- nonsense: nada precisa combinar, como no mundo de Alice no País das Maravilhas. O estilo permite, por exemplo, uma parede grafitada e outra com papel em tom suave, adornada com figuras de palhaços;
- brega: lembre-se das roupas do cantor Falcão. Placas de carro, sirenes, lâmpadas e tons que fazem combinações ridículas propositalmente nos trajes dele são marcas do jeito kitsch de decorar;
- zero esforço intelectual: para ser consumido, o kitsch não exige uma bagagem cultural do seu observador. Ou seja, flerta com o “Control C + Control V”;
- produção em massa: ainda que em detrimento da qualidade, a fabricação para o consumo de uma quantidade de pessoas é um dos objetivos do kitsch;
- cores extravagantes: o kitsch não tem uma paleta. Ele aceita qualquer combinação, desde que o cliente ou apreciador goste do resultado;
- simplicidade: nada muito trabalhado, beirando até mesmo o mal feito. Para o kitsch, isso está à altura de ser comercializado;
- sentimentalismo: o kitsch tem a “missão” provocar emoções humanas, mas sem forçar reflexões aprofundadas;
- materiais de baixa qualidade: para atingir as massas, o kitsch se apoia em matérias-primas simples.
Quais são as principais obras kitsch no mundo?
Muitas obras kitsch não são conhecidas popularmente por serem desse estilo, mas sim por entregarem entretenimento e sentimentalismo às massas.
Entretanto, algumas das mais famosas tentam ser reconhecidas como eruditas, conforme veremos a seguir.
Castelo da Cinderela
Esse castelo imenso é digno da arquitetura kitsch.
A inspiração saiu das páginas do conto do escritor francês Charles Perrault e ganhou forma na terra encantada da Disney, atraindo curiosidade, turistas e dinheiro.
Crianças e adultos entendem e apreciam essa obra imensa, que não carrega um estilo arquitetônico “de origem”.
Ecce Homo
O que saiu na imprensa como “a restauração que estragou uma grande pintura” se tornou rapidamente um artigo pop e lucrativo.
É que de tanto que o Ecce Homo foi desfigurado, ele virou atração do mundo todo, graças à sua disseminação via internet.
O efeito colateral foi levantar o turismo da província de Saragoça, na Espanha, levando massas a consumirem essa obra de arte controversa.
Cupid on the Lookout
Apesar de ter seu grau de beleza e complexidade, essa obra foi condenada por grupos de pintores modernos à época — 1890 — como sendo kitsch.
Ou seja, ela tenta reproduzir algo de alto nível conceitual, mas não o entrega, na visão de outros artistas do mesmo período.
Puppy
Jeff Koons é um artista norte-americano que molda sua arte com o kitsch. Puppy é uma das amostras do trabalho dele, realizada em 1992, na Alemanha. A obra é totalmente feita de flores coloridas que são preservadas por onde a obra vá.
Quais são os principais exemplos do cotidiano em estilo kitsch?
Se você nasceu antes da década de 1990, vai se lembrar de vários artigos kitsch famosos que a cultura popular consome há décadas.
Veja os principais do cotidiano:
- bugigangas do comércio popular: relógios de parede, esculturas de plástico, despertadores, potes e outros objetos comprados em grandes centros comerciais, como a Rua 25 de Março, no centro da cidade de São Paulo;
- castelo Rá-Tim-Bum: “morcego, ratazana, baratinha e companhia, está na hora da feitiçaria”; tanto a decoração externa quanto a interna têm elementos que são puro kitsch;
- anões de jardim: eles cuidam de plantas e flores no mesmo estilo. Feitos de argila e pintados à mão, com ar grosseiro e cores vivas;
- jarra do abacaxi: famoso artigo de cozinha que fez sucesso na mesa do almoço na década de 1980;
- lixeira do palhaço: escolas, parques, quermesses e festas juninas tinham essas peças coloridas.
Quais são as dicas para usar a arquitetura e decoração kitsch?
Para garantir o melhor da arquitetura kitsch em seu projeto, ressalte todos os aspectos do estilo com os quais você se identifica. Não se preocupe, pois o excesso faz parte dessa tendência.
Quadros que imitam obras famosas
A imitação é uma marca da arquitetura kitsch, que se aproveita de obras consagradas para ganhar apelo popular e vender suas peças.
Assim como no restante do décor, as paredes com quadros não precisam seguir um estilo artístico específico.
Têxteis coloridos
Roupas de cama, mesa e banho, cortinas, tapetes e almofadas, entre outros têxteis, devem contar com muitas cores.
A parte boa é que eles não precisam contrastar ou se complementar. No entanto, se você quiser adotar essa linha, não há restrições.
Mobiliário reutilizado
Móveis reciclados — que não necessariamente têm baixa qualidade, mas denunciam que são de segunda mão e foram reformados ao estilo kitsch — são bem-vindos.
Brinquedos
Tanto brinquedos antigos quanto novos combinam com a proposta da arquitetura kitsch. Então, pode usar vários deles, com destaque para ursinhos.
Se os produtos forem de plástico, porcelana ou metal, com marcas aparentes de desgaste, fica até melhor.
Figuras de animais
Seja em estampas ou bibelôs, os animais aparecem no kitsch. Vale peças de todos os tamanhos, como estátuas para decorar áreas externas ou amplos espaços internos.
Artigos nonsense
Móveis com formatos esquisitos e quadros com pinturas que em nada combinam com o décor em volta são exemplos de nonsense.
Então, aqui a regra é não ter regras e seguir o que convém para o gosto pessoal, de preferência com alguma extravagância.
Plantas
As plantas têm muito espaço na arquitetura kitsch. Você pode trabalhar esse décor com a ajuda de vasos e suportes.
Pinturas em cores excêntricas e tamanhos dos mais diferentes são apostas certas para seguir bem a linha kitsch.
O que a arquitetura kitsch prova é que tudo pode ser kitsch. Muitas vezes, basta um bom olhar e o encaixe adequado de uma peça, imagem ou cor, que a sua decoração se transformará nessa arte controversa.
Como vimos, a arquitetura kitsch tem seu lado surrealista, no qual muitos profissionais se baseiam. Descubra o mundo mágico de Giardino dei Tarocchi, em meio à Toscana, na Itália!