Nas instituições de educação infantil, são diversos os aspectos necessários para criar ambientes favoráveis ao ensino e à aprendizagem. Gestão eficiente, estrutura adequada e bons profissionais são alguns exemplos. Mas existe ainda um fator pouco lembrado que faz toda a diferença na construção de espaços atrativos para as crianças: estamos falando da arquitetura escolar e suas particularidades.
Quando o conceito é aplicado com base no perfil e na rotina do público a que se destina, vários benefícios podem ser colhidos, desde uma maior integração ao aumento da criatividade, passando pela obtenção de um lugar propício para a troca de conhecimentos. Não parece ideal?
É claro que esse tipo de projeto exige atenção a uma série de detalhes. Por isso, convidamos os sócios da AUÁ Arquitetos para falar sobre o assunto. Acompanhe e descubra o que Diogo Cavallari, Isadora Marchi e Victor Berbel consideram mais relevante para se produzir arquitetura escolar!
Por que um espaço para crianças deve ser diferente?
Propor áreas e instalações para o público infantil exige que o arquiteto se coloque no lugar das crianças. De maneira concreta ou abstrata, é preciso exercitar a capacidade de ver o mundo como os pequenos.
Para tanto, o profissional pode se imaginar olhando a uma altura mais próxima em relação ao chão, bem como buscar referências que costumam alimentar o imaginário infantil. O objetivo é estudar a rotina, os interesses e hábitos das crianças para entender que tipo de ambiente pode ser útil para elas.
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A arquitetura escolar deve englobar espaços que promovam a descoberta, que despertem o interesse e que colaborem para o desenvolvimento das habilidades intelectuais e motoras desse público. Dessa forma, pode se tornar uma grande aliada do trabalho dos professores, que, com seus métodos pedagógicos, têm papel fundamental na formação das pessoas desde os primeiros anos de vida.
Quais são as dificuldades na produção da arquitetura escolar?
De acordo com Cavallari, Marchi e Berbel, o custo é sempre um obstáculo a ser vencido frente à demanda — principalmente nas escolas públicas.
Outro problema recorrente é a resistência a mudanças, visto que muitas instituições ainda seguem a fórmula do século XX, pouco efetiva para reter conhecimento por envolver ensinamentos rígidos e básicos que, muitas vezes, ignoram o fato de os estudantes apresentarem motivações, interesses e habilidades distintas.
Com conteúdos ministrados em salas retangulares e fechadas, não é raro ver imagens de escolas sendo associadas a prisões. Assim, embora muitos espaços para crianças sejam bem construídos do ponto de vista técnico, perdem no quesito qualidade por seguirem modelos pedagógicos ultrapassados.
E quais são as principais oportunidades?
Apesar dos desafios, sempre há a possibilidade de superar a resistência a mudanças a partir de transformações pontuais e criadas em conjunto com a comunidade escolar, funcionando como protótipos de transformações maiores que envolvam a concepção da escola e sua relação com a cidade.
Um bom exemplo dessa proposta está no projeto Escolas que inovam, feito pela AUÁ Arquitetos em parceria com o Grupo Tellus. Desenvolvido em Santos (SP), o trabalho possibilitou a criação de estudiotecas e a requalificação de bibliotecas em espaços existentes de nove escolas públicas.
São soluções pontuais, mas que servem como experimento e provocam reflexões sobre as novas formas de se aproveitar as instituições de ensino. Ao mesmo tempo, contribuem para que as pessoas pensem em alternativas que possam melhorar os espaços das escolas que virão — uma mudança da parte para o todo.
Como o espaço pode propiciar colaboração e criatividade?
Um projeto de arquitetura escolar deve prever espaços informais, que transmitam um sentimento semelhante ao de estar em casa. Para tanto, é importante trabalhar com ambientes variados, que tenham diferentes escalas e características.
A mistura de lugares reservados com áreas mais expostas é interessante, assim como a integração entre interior e exterior, que pode ser alcançada com soluções arquitetônicas que promovam relações com o mundo e o desenvolvimento de inteligências diversas, adaptadas à individualidade dos estudantes.
Em ambientes educativos, principalmente aqueles destinados ao público infantil, a monotonia se torna inimiga da criatividade. Portanto, um bom projeto para escolas deve ir além das salas padronizadas e dos corredores longos e estreitos, repletos de portas idênticas.
Como escolher cores, materiais, pisos e outros elementos?
Cada cor do círculo cromático é capaz de transmitir valores e sensações específicas. Assim, é possível aproveitar a simbologia de cada tonalidade para incentivar ações distintas, seja de movimento, expansividade, silêncio, concentração e por aí vai. Resumindo: a escolha das cores deve estar atrelada ao uso dos espaços.
Em uma escola infantil, os materiais certos são aqueles que aliam durabilidade, facilidade de instalação (em caso da necessidade de substituição) e bom custo-benefício. Também é importante buscar produtos termicamente confortáveis, além de agradáveis do ponto de vista tátil.
Quanto ao piso, é interessante trabalhar desenhos de modo a setorizar atividades, sinalizar caminhos e demarcar áreas de permanência. Efeitos como esses não só facilitam o uso dos espaços como também atraem a atenção das crianças, deixando os ambientes mais divertidos.
Outro elemento importante em um projeto escolar é o mobiliário. Considerando o público a que se destina, deve ser composto por peças ergonômicas e adequadas ao tamanho das crianças. Alguns modelos até permitem adaptações de altura e largura por meio de regulagens.
O que é essencial nesse tipo de projeto?
Um ambiente adequado aos usuários leva em conta suas necessidades, seus costumes e uma série de condicionantes, correto? Com isso em mente, são vários os aspectos que podem ser considerados essenciais em um projeto de arquitetura escolar, como:
- a alternância de espaços diversificados;
- a informalidade;
- o uso inteligente da cor;
- a existência de elementos lúdicos;
- a concepção de espaços de permanência;
- a criação de circulações que tenham alguma complexidade;
- a integração de áreas internas e externas;
- a presença generosa de iluminação natural;
- a proximidade com áreas verdes.
Esses aspectos ajudam a criar espaços dinâmicos sem prejudicar a liberdade de que os pequenos precisam para se movimentar, explorar lugares e interagir com os elementos a seu redor. É importante entender que, diferentemente dos adultos, as crianças têm sua natureza relacionada à descoberta.
Para o público infantil, não é nenhum problema se sujar ou quebrar algo. Os arquitetos devem ter isso em mente na hora de propor soluções para as escolas, sempre pensando na escolha de elementos adequados, que permitam às crianças brincar, descansar e estudar com total conforto e segurança.
E você, o que tem feito para desenvolver uma arquitetura escolar de qualidade? Concorda que os projetos devem partir da visão de quem fará uso de seus espaços? Aproveite para refletir sobre o assunto e compartilhar suas percepções com outros profissionais da área!