Ar condicionado natural: como climatizar um ambiente sem energia elétrica
A climatização de um ambiente faz toda a diferença, ainda mais quando falamos do Brasil, um país tropical de verões intensos. Mas você já parou pra pensar no impacto de passar uma tarde com o ar condicionado ligado no talo para refrescar um ambiente da casa ou escritório? Segundo um estudo da IEA - Agência Internacional de Energia, o gasto energético dos sistemas de climatização corresponde a 10% do consumo mundial de energia e ainda é responsável por altas emissões de CO2 e outros gases do efeito estufa. Um problema que se retroalimenta, né? O clima está mais quente, os verões são mais severos, a gente fica mais tempo com o ar condicionado ligado, o que aumenta as emissões de gases que potencializam as mudanças climáticas.
É aí que entram em cena saberes ancestrais de climatização. Quando não existia energia elétrica, as pessoas já passavam calor e desenvolviam maneiras incríveis e inteligentes para refrescar suas casas. Hoje conhecemos sistemas naturais que já eram usados há mais de 2 mil anos e podem contribuir muito para a climatização e para o conforto térmico de construções atuais.
Os sistemas de resfriamento passivo são técnicas baseadas na ciência: sabendo que o ar quente é mais leve e sobe, e o ar frio é mais pesado e desce, esses sistemas consistem em entradas e saídas estratégicas para fazer o ar circular internamente, além de planejar construções aproveitando a incidência de sol, ventos e analisando a localização geográfica.
Ventilação cruzada
O sistema mais conhecido e que você pode aplicar na sua casa hoje mesmo é a ventilação cruzada natural. Basta ter mais de uma abertura, se possível em paredes opostas ou adjacentes, para permitir a entrada e saída de ar de forma natural. Você pode trabalhar essa circulação de ar com janelas e portas, e, se estiver pensando em uma reforma, vale também apostar nos cobogós. Criados na década de 1920, em Recife, são sensacionais para permitir a ventilação natural, além de serem lindos.
Torre de vento
Também existe a técnica da torre de vento, sistema típico dos países árabes. Aqui, se aproveita a entrada do ar fresco por baixo e a saída do ar quente por cima. Vale apostar em cobogós, janelas basculantes e passagens de ar instaladas acima das portas, técnica bem conhecida nos estados mais quentes do Brasil. O importante é ter uma abertura no alto para que o ar quente saia.
Poço canadense
Mais complexo, o poço canadense, ou poço provençal, usa uma série de tubos no subsolo, por onde o ar passa e é resfriado aproveitando a temperatura da terra, que é mais baixa do que a da superfície. O ar chega geladinho e circula de baixo pra cima dentro do ambiente. Incrível, né?
Resfriamento evaporativo
Ainda vale citar o resfriamento evaporativo, que tem exemplos bem conhecidos. Um deles é o Palácio do Planalto, em Brasília, que aproveita a umidade dos espelhos d’água para resfriar os espaços internos. Nessa técnica, é a evaporação da água que resfria o ar, que passa por aberturas levando a umidade.
Outro exemplo de resfriamento por evaporação que vem dando o que falar é o “ar condicionado natural” construído na Índia, usando cones de argila e água reaproveitada de uma fábrica. O ar que passa pelos cones é resfriado e chega no ambiente muito mais fresco e úmido.
Estes são exemplos de aplicações da arquitetura bioclimática, que propõe projetos que harmonizem totalmente o ambiente externo ao interno, passando por técnicas que aproveitem melhor as condições climáticas. O aumento da eficiência energética da construção permite que o impacto negativo da obra seja reduzido.
Nesses projetos, usamos de forma inteligente o que a natureza oferece a fim de diminuir o consumo de energias não renováveis ou poluentes. Na arquitetura bioclimática, são valorizados também os sistemas simples, comuns e até antigos ou vernaculares, e aqui temos todos esses exemplos de sistemas naturais de climatização.
Com a necessidade urgente de mudar nossos hábitos de consumo, aplicar tecnologias e saberes ancestrais para viver de forma harmônica com a natureza passa também pelo jeito que construímos nossas casas. Você já parou para pensar nisso?
Por Luísa Saldanha - @saldanhitos