O ano do Brasil

Final de ano, tempo de inevitável balanço. Todos querem saber o que foi destaque nas mais diversas áreas e, em se tratando da arquitetura de interiores, a conclusão é inevitável: 2022 foi o ano do Brasil. 

Também pudera. Nunca houve tanto a comemorar: bicentenário da Independência, um século da Semana de Arte Moderna, eleição para a Presidência da República e, apesar do resultado não ser o que esperávamos, a Copa do Mundo. Raras vezes o país esteve tão presente no imaginário coletivo quanto neste 2022.

Natural, portanto, que o Brasil, com toda sua história e diversidade, tenha se convertido em fonte de inspiração permanente para os profissionais da arquitetura e do design de interiores. E conferir um ou outro traço de brasilidade a ambientes residenciais ou corporativos não é propriamente uma novidade. 

Mas hoje, mais do que espaços que reproduzem cenários ou ambientes decorados com base nas nossas cores, o que se busca é uma apropriação mais elaborada e sutil da enorme variedade de paisagens, culturas e saberes nacionais. Algo, enfim, capaz de caracterizar um genuíno estilo brasileiro.  

Uma conduta, aliás, mais do que bem-vinda. Haja visto um mercado ainda dominado por modelos emprestados, sem maior reflexão, de outras culturas – sobretudo a escandinava e a oriental. Já não era sem tempo, começamos a valorizar propostas que, de forma intencional ou não, manifestam uma identidade brasileira por meio de seus móveis, acessórios e revestimentos. Também pela forma particular através da qual esses elementos se organizam no espaço. Conforme atestam os projetos que você conhece agora:

“Interessante como a brasilidade se torna perceptível nesse trabalho. Ainda mais quando a ideia foi justamente não fazer nada temático”, considera o designer de interiores Fabio Mota, da Todos Arquitetura, que ao lado de seu sócio, o arquiteto Maurício Arruda, acaba de concluir a reforma de uma arejada residência no Alto de Pinheiros, em São Paulo. Lar de um casal de advogados e seus dois filhos.    

“Acredito que essa sensação de identidade decorre da forma informal e colorida que o espaço se organiza, e, ainda, na liberdade com que nos permitimos misturar artesanato, arte e design brasileiros”, considera Arruda, que aponta como itens decisivos para produzir tal efeito o piso de madeira, a marcenaria em tons de rosa, as paredes beges, além dos muitos acessórios étnicos. “São elementos que reforçaram ainda mais a atmosfera orgânica que eles tanto adoram”. 

Outro exemplo de composição que reproduz o visual leve e depurado de muitos dos interiores brasileiros, o espaço recentemente elaborado pela arquiteta Marina Linhares para o lançamento de sua mesa Cosmopolita, para a Firma Casa, investe em elementos cerâmicos vitrificados, plantas em profusão, além de muita madeira. “Basicamente, a ideia foi compor uma ambientação acolhedora. Pronta para receber”, conta ela. 

“No final, acredito que acabamos atingindo nosso objetivo. Criamos um estilo de decoração que batizamos de ‘Parioca’, ou, em outras palavras, uma mistura de Paris com atmosfera carioca”, brinca o arquiteto francês radicado na cidade do Rio de Janeiro Jean de Just. Coube a ele a tarefa de dar forma e conteúdo nativos ao apartamento dos sonhos de um casal de franceses e de sua filha, no Brasil: um imóvel de 90 m², situado em um antigo prédio de Ipanema.

“Procurei usar cores alegres, além de materiais que se ligassem diretamente à tropicalidade e à arquitetura modernista brasileira”, explica ele, citando como recursos o uso de azulejos, as portas ripadas de madeira, os móveis e acessórios de palha, os objetos feitos à mão e os cobogós - blocos cerâmicos vazados, vistos pelo arquiteto como o mais brasileiro dos elementos construtivos. “Adoro. Costumo sempre usar em meus projetos”, diz.

Com sua natureza exuberante, a paisagem brasileira não poderia deixar de estar representada nos diferentes espaços. A começar pelo esquema de cores, que não se resumiu ao verde e amarelo, mas também passeou pelo rosa, pelo azul e pelo terra. Mas também por meio de um papel de parede, de temática tropical, que reveste uma das paredes no quarto do casal. “Trata-se de uma solução de efeito, mas que deve ser usada com parcimônia, para não cair no clichê”, alerta Just. 

Por fim, segundo o arquiteto, quem pretende imprimir uma atmosfera de brasilidade à decoração não deve nunca descuidar da iluminação natural. “Uma casa bem iluminada, por si só, já comunica a condição tropical do país. Valorizar esta característica é, portanto, essencial”, pontua o arquiteto, que, para ampliar ainda mais a sensação de frescor nos ambientes, recomenda que todas as janelas e varandas sejam equipadas com cortinas leves, feitas de tecidos finos e delicados.