Virgil Abloh: o pensar arquitetônico traduzido no criar irreverente
Com breve carreira de estrondoso sucesso, Virgil Abloh foi responsável por uma ponte firme entre o streetstyle e a passarelas de grifes internacionais. Ele era o nome por trás da marca Off White, que preencheu prateleiras com tênis e moletons alçados à etiqueta de luxo e, desde março de 2018, acumulou a função de diretor criativo de moda masculina da francesa Louis Vuitton.
Naquele ano, estreante na Semana de Moda de Paris, celebrou a diversidade com um palco em tons do arco-íris. Abloh foi o primeiro homem negro a assumir o cargo. Combinou a alfaiataria da grife com cores vibrantes. “You can do it too” (Você pode também), manifestou-se em seu Instagram, ao lado de foto na passarela, emocionado.
Filho de imigrantes ganeses e nascido em Rockford, Illinois (EUA), Abloh morreu neste domingo (28), aos 41 anos, devido à um câncer contra o qual lutava de forma privada há dois anos. “Estamos todos chocados com esta notícia terrível. Virgil não era apenas um designer gênio, um visionário, ele também era um homem com uma bela alma e grande sabedoria”, manifestou-se Bernard Arnault, presidente e CEO da holding LVMH, responsável pela Louis Vuitton, em nota.
Formado em Engenharia Civil e mestre em Arquitetura, Abloh dizia que a arquitetura seria, para ele, uma maneira de pensar e não uma prática que o rotularia para o resto da vida. Exerceria, portanto, sua criatividade em diferentes meios e materiais. Sua trajetória é a prova dessa versatilidade.
Ainda na adolescência, fã de hip-hop, trabalhou como DJ. No início dos anos 2000, foi estagiário da Fendi, quando conheceu o rapper Kanye West, com quem desenvolveu capas de álbuns e dirigiu shows.
Em 2012, fundou a Off-White, com tênis e moletons inspirados na cultura afro-americana dos anos 1970, que passaram a ser peças-desejo de celebridades e formadores de opinião mundo afora. Em 2018, lançou uma linha de mobiliário e objetos para a Ikea – um aperto de mão entre o minimalismo escandinavo e seu estilo descolado e irreverente. Entre as peças, um tapete com registros de nota fiscal, além de mesa, armário e cadeiras em tons claros e elegantes.
Em 2019, no campo das artes plásticas, montou a exposição panorâmica "Figures of Speech", no Museu de Arte Contemporânea de Chicago, com roupas, joias, tênis, peças de design gráfico e instalações de arte. Em 2020, desenvolveu carro conceito para a Mercedes Benz. No mesmo ano, fez linha para casa na Off-White com 80 objetos como capachos, cadeiras, relógios e jogos de cerâmica.
Em janeiro deste ano, em desfile para a Louis Vuitton, fez um “reencontro com arquitetura”. Abloh vestiu modelos com trajes acolchoados em formato de edifícios famosos do mundo. No palco, espalhou ainda poltronas Barcelona, de Mies van der Rohe, um dos seus ídolos.
A partir de ensaio do escritor americano James Baldwin, a apresentação falava sobre forasteiros culturais e preconceitos. A proposta era criar um novo olhar sobre personagens da cidade como o arquiteto, o estudante, o vendedor.
Dois dias após sua morte, sob o título de “Virgil was here”, a Louis Vuitton apresentou sua última coleção Primavera-Verão 2022 em Miami , exatamente como Abloh havia idealizado - modelos desfilaram seus looks ultra coloridos e ousados, mesclando alfaiataria e o conforto dos moletons e saias, em meio a um calmo bosque de inspiração oriental.
Virgil Abloh convidou a todos a uma intensa reflexão sobre inclusão e diversidade. Um caminho sem volta. O mundo agradece.