No início do mês, viajei a Copenhague, na Dinamarca, para participar do 28º Congresso Mundial de Arquitetos da UIA, cujo tema central era sustentabilidade. Depois de acompanhar a intensa programação ao longo de uma semana, posso dizer que a escolha da cidade para ser a sede do evento foi bastante acertada. Isso porque, atualmente, podemos considerar Copenhague um laboratório urbano onde sustentabilidade, igualdade e diversidade são temas muito comuns nas dinâmicas de planejamento urbano e nas edificações de uso residencial, comercial e institucional.
Passado o evento, podemos fazer um balanço com base em um documento divulgado pela própria organização do congresso, que compila 10 lições apreendidas para nortear a atividade de arquitetos. São ensinamentos que representam e sumarizam bem aquilo que se discutiu nas palestras:
1. Dignidade e inclusão para todos
Estes devem ser dois pilares fundamentais na arquitetura. Não há beleza nenhuma na exclusão. A arquitetura tem que expressar forma e função, e é imprescindível que tenha todo tipo de acessibilidade, para todo tipo de pessoa.
2. Reuso de edificações
Com o passar dos anos, algumas áreas vão sendo degradadas nas cidades e os edifícios antigos ficam sem uso. É importante que as ocupações destes imóveis sejam feitas com qualidade e com dignidade, para que a cidade se mantenha viva e ativa.
3. Respeito às áreas verdes
O planejamento de crescimento de novas áreas das cidades deve evitar o uso e a ocupação de áreas verdes e áreas rurais. O perímetro urbano não deve se expandir para estes locais.
4. Manutenção de ecossistemas
Os ecossistemas naturais devem ser preservados e a produção de alimentos deve se manter sustentável independentemente da dinâmica dos edifícios e da construção de novas áreas urbanas.
Confira mais da cobertura do UIA:
- Enlai Hooi, do SHL Architects: “Reformulamos profundamente a maneira como abordamos sustentabilidade”
- UIA 2023: arquiteto Jan Gehl fala sobre qualidade de espaços públicos para saúde da população
- Tudo sobre o 28º Congresso Mundial de Arquitetos
5. Reutilização de materiais
Nas novas construções, é importante sempre fazer a reutilização de materiais minerais, como ferro e aço, ao invés de extrair novas matérias-primas da natureza.
6. Preferência aos materiais locais
No momento de especificação de materiais nos projetos, é importante que a gente use produtos locais, isto é, que sejam fabricados próximos à obra. Assim como existe o movimento slow food, devemos pensar em trabalhar com slow construction.
7. Carbono neutro
Por mais desafiador que pareça, recomenda-se que, em todas as construções, haja cuidado para que a pegada de carbono seja nula ou pelo menos perto disso.
8. Cidade formal para todos
A discussão sobre pessoas em risco e cidades informais é urgente principalmente em países subdesenvolvidos, a exemplo da região da América Latina. É preciso que pessoas com qualquer tipo de carência e em situação de vulnerabilidade social estejam inseridas dentro de um contexto urbano planejado, para que possam viver com mais dignidade.
9. Baixo impacto
Sempre que desenvolvermos, planejarmos e construirmos um novo edifício, é importante que a gente cuide bastante do impacto dessa construção, para que não prejudique sistemas hídricos e florestas.
10. Menos resíduos
Minimizar a produção de resíduos das construções é primordial. E, além disso, os resíduos produzidos devem ser apropriadamente destinados (como reuso, idealmente). Eles não devem nunca ser descartados nos arredores da obra após sua finalização.
Após estes ensinamentos, vale ainda mencionar que, no ambiente do congresso, tais temas são bastante contextualizados. No Brasil, apesar de a sustentabilidade ser assunto recorrente, sabemos que é, ao mesmo tempo, um campo delicado e difícil. Mas o fato é que estas conversas estão acontecendo no mundo todo. Foi bacana saber, por meio das palestras, que os maiores pensadores de arquitetura e os escritórios com grandes atividades no âmbito de projetos estão atentos a isso. O congresso demonstrou que nosso setor de arquitetura e urbanismo está ligado e pensando no futuro das cidades, no futuro dos edifícios, no futuro das pessoas e no futuro do planeta como um todo.