O mundo está menos colorido - e as casas também
Já reparou que roupas, carros e até itens de casa já foram mais coloridos? Quem viveu ou já viu as casas brasileiras construídas nas décadas de 40 e 50, lembra das louças coloridas de banheiro, que eram muito sucesso. E o clássico fusca, que podia ser encontrado em diversas cores diferentes?!
Um estudo feito pelo Science Museum Group mostrou que tudo está ficando mais cinza. De acordo com o Museu, houve um declínio na quantidade de cores dos objetos, mais ainda nos últimos 50 anos.
Nas construções, não é diferente. De prédios comerciais a residenciais, as paletas de cores foram de fato ficando menos variadas nas últimas décadas. Uma análise dos tons de tinta para parede mais usados em 2020, feito pela Dulux, mostrou que os tons de cinza, bege e brancos são os mais procurados atualmente.
O estilo de arquitetura industrial, que surgiu a partir da ocupação de galpões e fábricas industriais para moradias na Nova York dos anos 20, hoje é uma das tendências mais expressivas dentro do design de interiores. Essa vertente é um grande exemplo da estética que abusa do cinza do concreto aparente, bem como do preto de ligas e acabamentos metálicos.
O principal motivo por trás da neutralização do mundo está na padronização mercadológica. Produzir e vender em escala é mais difícil com muitas cores diferentes. No estudo do Museu, fica nítido que o aumento do cinza ao longo das décadas é acompanhado pelo declínio dos tons amarronzados, avermelhados e amarelados. Isso pode se dar pela mudança no uso dos materiais, como a substituição da madeira pelo plástico, por exemplo.
Um grande marco nessa padronização é o lançamento do primeiro Iphone, que aconteceu em 2007. Desde o início, a Apple apostou no design simplificado e nas cores neutras, como cinza e preto. O sucesso do Iphone ajudou a definir os caminhos não apenas da indústria tecnológica, inspirando toda a área do design.
Mas até aí, existe algum problema no uso excessivo dos tons de cinza? A forma como as cores influenciam no dia a dia vai muito além de uma questão de preferência, já que elas podem interferir no humor e ajudar a transmitir emoções. Falar que uma pessoa está “vermelha” pode explicar sentimentos de raiva ou nervosismo, por exemplo; enquanto ‘“verde” é uma cor usada para se referir a enjoos e mal estar.
Um estudo de 2010 publicado na BMC Medical Research Methodology mostrou que o cinza é comumente usado por pacientes para representar a depressão, enquanto o amarelo é uma metáfora comum para a alegria.
Essa é uma associação que faz todo sentido evolutivo, já que associamos o sol [amarelo] à saúde, enquanto dias muito nublados [cinzas] diminuem a produção de serotonina no corpo e nos fazem sentir uma certa perda de energia. A depressão sazonal, por exemplo, é um quadro muito comum em países nórdicos durante o inverno, quando as pessoas passam por muitos dias sem a luz do sol.
Porém, além dos efeitos neurológicos e biológicos, claro que as cores também carregam significados culturais. Por isso, as cores neutras também podem estar associadas a calma e relaxamento. Mas fato é que a gente não precisa se limitar aos 50 tons de cinza sempre rs. Um mundo muito padronizado se torna monótono e previsível, criando um desejo maior pelo novo.
Se as cores ajudam a contar histórias, as vibrantes ajudam a representar efervescência e diferenciação. Não é à toa que uma das tendências de moda mais marcantes surgidas no pós-pandemia foi o dopamine dressing, que parte da ideia de vestir cores intensas para auxiliar na sensação de bem-estar.
Quem não resolveu trazer cores para pelo menos uma parede dentro de casa durante o período de isolamento, que atire a primeira pedra. Lá nos meados de 2020, o Google Trends relatou um aumento de 250% nas pesquisas por “ideias diy para paredes de destaque” e por “tintas para interiores”. Segundo o Clever, os tons quentes e terrosos foram alguns dos mais procurados no período, e aparentemente, esse desejo veio para ficar.
Apostar nas cores como um artifício a mais na hora de transmitir sentimentos é sempre uma boa ideia. Fato é que, para a indústria criativa, as cores são melhores amigas das expressões. E você, é do time dos neutros ou dos coloridões?!