As tendências perderam o sentido?
As tendências podem significar uma mudança social significativa, um comportamento emergente capaz de mudar o rumo das coisas. Mas o que acontece quando temos uma enxurrada de tendências por segundo?
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A pressão para gerar novas tendências na velocidade das redes sociais desencadeou uma reação em cadeia que nos afastou da ideia original de tendência. Se a cada segundo surge uma nova tendência, nada dura o tempo suficiente para gerar algum efeito representativo nas nossas vidas.
Para o pesquisador Matt Klein, chefe de previsão global do Reddit, quando perseguimos a novidade constante, confundimos velocidade com novidade. Segundo ele, “no processo de perseguir o cool, perdemos o propósito de analisar a cultura. A maioria dos sinais considerados 'tendências' hoje não passam de entretenimento volátil”.
Nesse ciclo, essas microtendências acabam causando o efeito oposto, e em vez de trazer o sentimento de renovação e novidade, elas causam exaustão. O que fazer então? Matt convida a desacelerar o carro das tendências e voltar a olhar para as mudanças mais duradouras, que já estão em curso, mas que talvez não estejamos prestando atenção.
Para quem produz qualquer coisa com o intuito de chamar atenção de pessoas, seja um blog de moda, um estúdio de design, ou uma marca de alimentos, o mais importante é estar conectado ao seu público, e menos às tendências.
A pesquisa Modern Movements - Trends feita pelo Reddit mostrou que 70% das pessoas preferem que as marcas 'atendam às suas necessidades entendendo com o que se importam', contra 30% das pessoas que preferem que as marcas 'apareçam relevantes por se apoiarem nas últimas tendências'.
Com tantas referências e tanta fragmentação de informação, filtrar o que faz sentido para você é essencial. Aquilo que realmente toca as pessoas dificilmente perderá a relevância em poucas semanas ou meses. Para se conectar verdadeiramente com o que é importante de forma perene para sua marca e seu público, algumas perguntas podem ajudar a focar em tendências que realmente importam:
Isso realmente tem peso e energia para se sustentar? Isso realmente significa algo para as pessoas, não para um algoritmo? Isso realmente é um bom investimento de tempo, energia e recursos? Se a resposta for sim, vale prestar atenção nisso, entendendo de que formas essas tendências podem ser aplicadas.
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Outro caminho para fugir de febres instantâneas e sustentar-se em transformações culturais de médio a longo prazo é apoiar-se naquilo que demora mais tempo para se transformar. Seja esteticamente ou comportamentalmente, algumas coisas podem ser consideradas atemporais, ou pelo menos, estão em voga há tempo suficiente para terem se transformado em marcos culturais difíceis de passar.
No design e na arquitetura, existem alguns exemplos. Recentemente, falei por aqui sobre o minimalismo contemporâneo e as suas implicações. Apesar de todas as variações ao longo das décadas, o minimalismo é um bom exemplo de movimento estético atemporal, tendo surgido entre os anos 50 e 60 e fazendo sucesso até hoje.
Muitos fatores podem fazer com que um estilo seja considerado atemporal. A sua importância cultural é um dos fatores. Movimentos estéticos relevantes são aqueles que de fato refletem as necessidades, desejos e valores de uma época, também conhecido como o zeitgeist. Outro fator é a sua relevância econômica e social - o quanto aquilo se aplica à realidade vigente e ajuda a solucionar problemas do seu tempo.
Alguns dos motivos que fizeram o estilo minimalista se consolidar como atemporal estão relacionados a esses fatores, para além da sua beleza estética. O minimalismo por muito tempo se manteve relevante aos interesses comerciais e econômicos e se consolidou como uma estética capaz de personificar a globalização do mundo. Faz sentido para você?
No âmbito do design, o Brasil também tem o seu estilo próprio que se mantém relevante por décadas e décadas. O design brasileiro é atemporal, não só pela sua beleza, mas também pela sua capacidade de adaptar-se ao clima e às matérias-primas nacionais, à cultura e às necessidades do povo brasileiro, além de sua qualidade e durabilidade, o que faz com que as peças de design nacional permaneçam de geração em geração.
O barro, a madeira, o verde, os tons e as texturas naturais, as formas orgânicas: todos esses são elementos que ajudam a construir perenidade sem precisar ser chato, expressando também personalidade e conexão.
Se lembrarmos das perguntas feitas pelo pesquisador Matt Klein a respeito de tendências duradouras (Isso realmente significa algo para as pessoas? Isso realmente é um bom investimento de tempo, energia e recursos?), conseguimos entender um pouco melhor porque o design brasileiro permanece sendo relevante e consolidando-se como uma estética tão atemporal por aqui.