Sharon Sutton: representatividade negra nas escolas de arquitetura
Foco no socioeconômico, trabalhos para reforçar as políticas públicas de inclusão de grupos minoritários e formação humana compõem o currículo de Sharon Sutton.
A professora de Arquitetura vai fundo em campos para além de projetos arquitetônicos — buscando trazer para dentro dos ambientes quem sempre esteve fora.
Aliás, ela é uma figura emblemática do meio da Arquitetura. Não por construções nos mais variados estilos, mas sim por obras profundas na área social.
Neste artigo, você vai conhecer a trajetória e os trabalhos de Sharon Sutton, uma das maiores representantes negras em grandes universidades do mundo!
Por que Sharon Sutton é notória para a representatividade negra?
Sharon Egretta Sutton tem uma vida contada por formações, prêmios e, principalmente, superações.
Em 1973, ela se tornou a décima segunda mulher afro-americana formada e licenciada para atuar na área de Arquitetura.
Considerando que, à época, os Estados Unidos estavam no fim da segregação racial imposta por leis, Sharon se notabilizou como uma força que vencia o forte racismo do país.
Em 1994, ela se tornou a primeira professora titular negra de uma universidade norte-americana, no mesmo campo.
Isso abriu perspectivas aos afro-americanos, uma vez que a academia finalmente ganhava uma representante sua, o que possibilitava novos olhares e projetos.
Sharon também tem o mérito de ser a segunda arquiteta norte-americana a integrar o Instituto Americano de Arquitetos (AIA).
Qual é a formação de Sharon Sutton?
Sharon Sutton tem uma formação que agrega diversos campos, o que contribui para que seus trabalhos tenham a relevância pela qual são conhecidos.
Além da Arquitetura, Sharon é graduada em Música, Filosofia e Psicologia.
Para uma profissional que atua com foco em estruturar políticas de inclusão social, outras formações não seriam tão perfeitas quanto as que compõem esse conjunto.
Música
A primeira formação de Sharon Sutton é em Música, graduação que ela fez na Escola de Música de Manhattan, onde aprendeu a tocar trompa francesa.
Lá, ela teve aulas com Gunther Schuller, um dos maiores trompetistas e compositores de música clássica contemporânea.
Foi com ele que a então estudante passou a tocar o instrumento de sopro, considerado o que tem o som mais agudo dentre os de metal.
Depois, Sharon continuou a estudar trompa e música erudita na Universidade de Hartford, na capital do estado de Connecticut, onde se formou em 1963.
Graduada, ela atuou em grandes companhias de música, como Royal, Leningrado e Bolshoi. Também trabalhou para o Sol Hurok Attractions, famoso grupo empresarial que realizava concertos nos Estados Unidos.
Durante essa fase, ela viveu do ofício em Nova York. Vale destacar que Sharon participou em 1965 da ópera Man Of The La Mancha, um musical aclamado da época, baseado na história de Don Quixote de La Mancha.
Arquitetura
Sharon Sutton chegou a estudar Design na Escola de Design Parsons, em Nova York. Porém, se transferiu para a Universidade de Columbia, onde passou a cursar Arquitetura.
Lá, ela se formou em 1973. Começou a atuar como professora universitária pouco tempo depois, no ano de 1975.
A atuação de Sharon dentro da Arquitetura é totalmente voltada para a academia. Ela leciona há mais de 45 anos.
Seus grandes projetos estão em periódicos acadêmicos, trabalhos em parceria com instituições sociais e outros centros de ensino.
Filosofia
Sharon Sutton é mestre em Filosofia pelo Programa Socioambiental de Psicologia da Universidade da Cidade de Nova York desde 1981.
Ainda que seus trabalhos nesse campo não sejam aprofundados, ela traz conhecimentos da área para desenvolver suas teses e obras acadêmicas.
Psicologia
Sharon Sutton é PhD em Psicologia pela Universidade da Cidade de Nova York, tendo obtido esse título em 1982.
Uma formação que oferece um repertório sólido para trabalhar no campo de políticas sociais voltadas aos grupos vulneráveis.
Como é a atuação profissional de Sharon Sutton?
Sharon Sutton é docente em várias universidades e centros de ensino.
Atualmente, ela leciona como professora visitante para as turmas de Design e Arquitetura na Escola de Design Parsons.
Ainda é professora adjunta na Universidade de Columbia e foi professora emérita — já aposentada e com alto grau participativo — na Universidade de Washington.
Além de uma docente relevante no cenário acadêmico, Sharon é uma grande representante da cultura negra.
Afinal, como ela própria disse em entrevista ao podcast GSAPP, da Universidade de Columbia: “desde que sou professora, [...] talvez tenha tido 12 estudantes negros”.
Quais são as obras e os trabalhos de Sharon Sutton?
A arquiteta trabalha bastante em projetos sociais, com pesquisas e proposições de melhorias para a situação de jovens de baixa renda e moradores da periferia.
Seu objetivo é proporcionar maiores chances de ingresso em universidades públicas e privadas para pessoas em condições vulneráveis.
Ou seja, Sharon Sutton usa a educação como ponto de partida para que esse público alcance a igualdade no mercado e, principalmente, na sociedade.
Para impulsionar seus projetos, ela é financiada por grandes instituições, como a Fundação Ford, a Fundação Kellogg e a Universidade de Michigan, entre outras.
Sharon também faz centenas de publicações em revistas científicas e produz trabalhos autorais dirigidos ao grande público.
Assim, transforma seu conhecimento acadêmico em textos simples, que atingem mais pessoas.
Por meio de análises e histórias sobre a marginalização de alguns grupos sociais, ela propõe reflexões e medidas para combater a segregação social.
Confira algumas de suas obras.
The Paradox of Urban Space: Inequality and Transformation in Marginalized Communities
Sharon Sutton foi coeditora dessa obra, cujo título pode ser traduzido livremente como O Paradoxo do Espaço Urbano: Desigualdade e Transformação em Comunidades Marginalizadas.
Ela discute como a localidade tem grande impacto na opressão das pessoas. Sharon constrói sua tese e propõe como agentes de mudanças, privados e públicos, podem mudar essa realidade.
When Ivory Towers Were Black: A Story About Race in America's Cities and Universities
Quando as Torres de Marfim Eram Negras: Uma História Sobre Raça nas Cidades e Universidades da América, em tradução livre, traz a história de duas universidades que se uniram para fazer com que negros tivessem acesso ao Ensino Superior. Abrindo, assim, um espaço dominado por brancos.
Weaving a Tapestry of Resistance: The Places, Power and Poetry of a Sustainable Society
Tecendo uma Tapeçaria de Resistência: os Lugares, o Poder e a Poesia de uma Sociedade Sustentável, em tradução livre, fala sobre a importância dos locais que habitamos e frequentamos.
Discorre a respeito dos impactos dos espaços no desenvolvimento pessoal e profissional das pessoas no longo prazo.
Learning Through the Built Environment: An Ecological Approach to Child Development
Aprendendo Através do Ambiente Construído: Uma Abordagem Ecológica Para o Desenvolvimento Infantil, em tradução livre, mostra como a arquitetura influencia no aprendizado.
Trata de como os espaços construídos ensinam sobre épocas, formas de organização, culturas e divisões sociais.
Quais são os prêmios de Sharon Sutton?
Por seu trabalho diversificado e suas conquistas pessoais, que repercutiram como uma força representativa da cultura negra, Sharon Sutton recebeu diversos prêmios.
Veja as principais condecorações da arquiteta e professora:
- Prêmio de Professor Distinto da ACSA, em 1995-96, pela Associação de Escolas de Arquitetura (ACSA);
- Prêmio de Reconhecimento de Vida, do Hall da Fama das Mulheres de Michigan, em 1997;
- Prêmio Nacional Whitney M. Young, Jr., do Instituto Nacional Americano de Arquitetos Whitney M. Young, Jr., em 2011;
- Medalha de Honra do Instituto Americano de Arquitetos de Seattle, em 2014;
- Medalha de Honra do Instituto Americano de Arquitetos de Nova York, em 2017.
Vale reforçar que as medalhas de honra são as maiores honrarias dessas unidades do Instituto Americano de Arquitetos.
Desde os tempos de estudante, Sharon Sutton representa os negros nas universidades, que deveriam ocupá-las em maior escala.
O impacto da profissional no sistema de ensino e as oportunidades que ela encontrou para colocar esse tema em pauta a tornaram um marco na academia.
Como exceção dos ambientes acadêmicos, Sharon buscou em cada projeto no qual esteve envolvida dar foco à população negra.
Algo que ela alcançou e, hoje, ganha mais espaço de debate norte-americano, repercutindo em ações cada vez maiores.
Sharon Sutton foi e é inspiração para diversas profissionais. Veja um olhar de dentro do 27ª Congresso Mundial de Arquitetura sobre as arquitetas negras brasileiras!