Em alta, o retrô contemporâneo é uma das tendências que deram o tom ao Salão do Móvel de Milão neste ano. Vez ou outra, tendências e movimentos artísticos retomam elementos de décadas passadas em releituras contemporâneas, misturando a nostalgia e o deslumbre em obras anacrônicas que confundem e encantam como uma viagem ao tempo.
Com raízes fortes no Art Déco, o retrô contemporâneo se diferencia do retrô tradicional também pelo uso de mármores em ambientes pop e objetos em dourado se contrapondo com madeiras naturais de tom escuro.
Neste artigo, vamos explicar melhor o que define o retrô contemporâneo, suas ligações com o Art Déco e como entender melhor essa tendência. Boa leitura!
Retrô contemporâneo: uma releitura do Art Déco
O retrô é uma interpretação moderna embasada por um mergulho em referências do passado. Isso significa que ele não é uma cópia exata de formas antigas, mas sim uma releitura que resulta em uma nova criação. No caso do retrô contemporâneo, a principal conexão é com o Art Déco, um estilo de arquitetura, arte e design extremamente influente.
Após desabrochar na Europa pouco antes da Primeira Guerra Mundial, o Art Déco alcançou seu pico de popularidade no velho continente entre anos 1920 e 1930, entrando em declínio no começo da década de 1940. Edificações como o Teatro dos Campos Elísios, em Paris; a Estação Maiakovskaia, em Moscou; e a Basílica do Sagrado Coração, em Bruxelas, são exemplos notáveis do estilo.
O Art Déco mistura paradigmas e elementos de estilos anteriores e, até mesmo, conflitantes entre si, com destaque principal para o seu antecessor Art Nouveau, a arte nova que dominou a arquitetura internacional entre 1890 e 1920.
Mas, diferentemente dos adornos mais carregados do Art Nouveau, o Art Déco privilegia formas compostas por linhas retas, círculos e semicírculos perfeitos, além de cores fortes em tons sóbrios e objetividade. A ideia na época era perseguir um ideal futurista geometrizado e funcional, que serviu como prenúncio para as manifestações artísticas modernistas que vieram depois.
Apesar de anteceder o modernismo, é possível perceber amostras claras do retrô em construções tardias do estilo Art Déco, graças à escola de design Bauhaus, que foi fundada na Alemanha em 1919. Posteriormente, os movimentos modernistas reagiram de formas diferentes e até mesmo conflitantes às influências do Art Déco.
O Art Déco foi bem além da Europa e é muito bem representado em arranha-céus monumentais nova-iorquinos como o Chrysler Building e o Empire State Building. No Brasil, o estilo também foi amplamente difundido e suas influências estão presentes em construções importantes como a Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro; o Estádio Pacaembu, em São Paulo; e o Elevador Lacerda, em Salvador.
Além disso, em várias outras cidades o Art Déco também predomina em construções residenciais e comerciais mais antigas, em especial aquelas que experimentaram um crescimento maior entre 1930 e 1940, como Belo Horizonte, Goiânia, Juiz de Fora, Campo Grande e Porto Alegre.
Elementos marcantes do retrô contemporâneo
Assim como no próprio Art Déco, o retrô contemporâneo busca por formas geometrizadas que são relativamente simples e objetivas, mas com um certo glamour e exuberância que o afasta do minimalismo. A presença de revestimentos com padrões e o uso do dourado como cor também são parte do estilo, além da predominância forte de azul, vermelho e uma paleta neutra de tons terrosos.
O concreto armado também se destaca neste estilo, o que também pode ser interpretado como uma referência ao Art Déco, que foi pioneiro no uso criativo desse tipo de material, que antes estava presente apenas em projetos de complexos industriais e prédios de apartamentos.
Além da possibilidade de deixar o próprio concreto aparente, revestimentos em tons de cinza que remetem ao cimento também são utilizados em ambientes do retrô contemporâneo, assim como madeiras naturais e elementos metálicos foscos. É possível perceber uma busca por materiais mais crus, mas que são adornados com outros de formas mais complexas.
Na homenagem do retrô contemporâneo ao Art Déco, também estão referências aos móveis que até lembram objetos modernistas, mas sem tanto apego à funcionalidade e aos desenhados com o objetivo de projetar uma imagem mais dramática. Ao combinar elementos contrastantes como cadeiras metálicas em mesas de puro mármore, a proposta de exuberância e intensidade é clara.
Presença de mármores em novas versões
Versáteis, duráveis e majestosos, os mármores são importantes para vários estilos de arquitetura. Mas, no retrô contemporâneo, o uso desse tipo de material vai além do usual. No Salão do Móvel de Milão, mármores foram destaque em ambientes pop, com aplicações que vão do piso até praticamente o teto, com mesas, rodapés, canteiros, paredes e outros pelo caminho.
Os padrões diversos e multicolores dos mármores podem fazer contraste a elementos mais sóbrios como madeiras escuras e materiais metálicos foscos, o que resgata também princípios do Art Déco. Mas não é incomum saturar um ambiente de mármores, enriquecendo a experiência visual e criando uma nova leitura para a rocha na arquitetura.
Cores do retrô contemporâneo
Apesar de normalmente utilizar tons sóbrios ou uma paleta de cores terrosas, o retrô contemporâneo também emprega elementos com cores mais fortes que se destacam e ampliam a complexidade da decoração.
As combinações de cores também são muitas, como o uso de vermelho e azul, verde e azul e até mesmo ambientes em que o azul é o protagonista, presente em quase todos os elementos. O cinza um pouco mais quente também é utilizado, especialmente nos tons de concreto, seja ele pelo cimento natural ou por revestimentos com padrões na tonalidade.
Por fim, as tonalidades metálicas também têm um espaço garantido no retrô contemporâneo, por expressar a obsessão futurista do Art Déco e, ao mesmo tempo, exaltar outros elementos da decoração, quando utilizados em conjunto com materiais mais discretos. O ouro também é uma cor bem presente e pode ser introduzido de forma que destaque o local onde é aplicado.
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