Diversidade: práticas antirracistas para começar a agir!
Recentemente estivemos em São Paulo para prestigiar alguns eventos da DW!, a Semana de Design, dentre eles o Archtrends Summit, no qual pudemos encontrar com as queridas Gab de Matos e Lilian Santos, também colunistas aqui do Archtrends.
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O nosso último dia por lá e a despedida da DW! não poderiam ter sido mais especiais: fomos convidadas por Gab de Matos para acompanhar um talk entre ela e Guto Requena sobre o Futuro do Morar. Requena abriu seu escritório, um belíssimo casarão datado de 1911 localizado no centro de São Paulo, para alguns profissionais do design e da arquitetura, e foi ali, em seu quintal superaconchegante, que nos inspiramos para falar do tema desta coluna.
Dentre tantos assuntos abordados, Guto contou um pouco sobre o dia-a-dia no seu escritório e que, ao surgir a necessidade de contratar mais profissionais para a equipe, ficou em dúvida se a vaga com recorte racial seria o caminho a ser seguido no momento. Com o suporte e confirmação positiva de Gab de Matos, entendeu que sim.
Numa realidade profissional em que pessoas brancas são maioria numérica e detém o poder financeiro, de influência e de decisão, é fundamental contar com a colaboração dessas mesmas pessoas para a construção de um cenário de mercado mais justo e diverso, onde indivíduos de todas as etnias tenham oportunidade de desenvolver seu trabalho e serem reconhecidos.
Em outros textos já comentamos sobre o predomínio branco na arquitetura, confirmado pelo II Censo das Arquitetas e Arquitetos e Urbanistas do Brasil, realizado pelo CAU em 2021. Na última pesquisa, 69% dos participantes se identificam como brancos, 22% como negros (pretos e pardos), 4% como mestiços, 2% como orientais e outros 4% preferiram não responder a essa pergunta.
Lembrarem que existimos somente em novembro (mês da Consciência Negra) não é o suficiente, e se esconderem atrás do “não é o meu lugar de fala” para não se posicionar, muito menos. Para quem quer ser um aliado na prática, listamos algumas maneiras efetivas de como promover a diversidade da sua equipe.
Focamos em pessoas negras, com base na nossa experiência, mas esses caminhos são úteis para melhorar a inclusão de diversas minorias no universo da arquitetura, seja de gênero, raça, orientação sexual, território e tantas outras.
Olhou ao seu redor e está faltando diversidade? MOVIMENTE-SE!
Oferte vagas afirmativas
Alguns se assustam com essa prática, mas ela tem se tornado cada vez mais frequente em processos seletivos. É uma maneira eficiente de inserir grupos excluídos no mercado de trabalho. A divulgação de vagas de emprego nos escritórios de arquitetura e design costuma ser bastante restrita, poucas pessoas têm acesso e as contratações dependem, quase sempre, da indicação de alguém que já faz parte do coletivo.
Se a equipe é composta por brancos de classe média, por exemplo, o mais comum é que essas pessoas indiquem profissionais do seu grupo de amigos, parentes ou vizinhos. Essa prática dificulta o ingresso de negros no mercado de trabalho, pois esses raramente possuem uma rede de contatos que lhe apresente vagas ou possa indicá-lo para alguma oportunidade. Sem ampla divulgação você não fura a bolha e, dificilmente, vai compor um time diverso.
Construa parcerias
Ninguém trabalha sozinho, mesmo que seu escritório seja composto apenas por você. Nós precisamos de profissionais parceiros para manter as nossas empresas funcionando: engenheiros, advogados, contadores, arquitetos, designers, vendedores, representantes, uma gama enorme de profissionais. Ao estabelecer parcerias priorize minorias e fortaleça a rede de contatos desses profissionais. Quantos arquitetos, engenheiros, designers e advogados negros você conhece? Contrate-os.
Conheça e Divulgue
Arquitetos e designers negros recebem menos visibilidade na mídia em geral. Provavelmente você está deixando de conhecer muitos profissionais competentes e vários trabalhos relevantes por falta de divulgação. Busque referências, acompanhe o coletivo desses grupos e compartilhe para que mais pessoas conheçam. Não é normal que uma equipe de escritório brasileiro seja composta 100% por pessoas brancas.
Pesquise e se informe
Saiba quem está por trás das marcas que você trabalha e quem participa das ações promovidas por ela. Priorize empresas que têm a diversidade como compromisso real, não apenas em datas comemorativas ou como “maquiagem” da imagem.
É importante tirar parte do seu tempo para conhecer realidades diversas, se informar e estudar. Mais da metade da população brasileira convive com o racismo diariamente, o que são alguns minutos do seu dia dedicados a se informar sobre essas vivências?!
Livros, colunas, blogs, filmes e séries são alguns dos meios para você aprender, assim você ficará inteirado do assunto, não sobrecarrega ninguém e saberá como atuar por um mundo mais justo. A propósito, no episódio 8 do Archtrends Podcast, Gab de Matos falou a respeito de raça, gênero e inclusão na arquitetura, vale a pena escutar!
Olhe ao seu redor
Chamamos de “teste do pescoço” um hábito que temos ao entrar em um estabelecimento e buscar por pessoas semelhantes a nós. Em uma profissão majoritariamente branca como a nossa tornam-se exceção os eventos em que encontramos uma presença significativa de profissionais negros.
Faça esse teste, observe! Seja num evento social ou acadêmico, em um restaurante, peça de teatro ou coquetel. Onde estão as pessoas negras? Elas fazem parte do grupo de convidados ou estão trabalhando para te servir? Quando o olhar atento faz parte do seu dia-a-dia, fica mais fácil perceber o quanto os espaços são excludentes.
O Brasil ainda é um país muito desigual e segregacionista. As ações acima são uma pequena contribuição para que as oportunidades fiquem mais equitativas para todos. Cerque-se de pessoas plurais em contextos além do profissional. Faça amizades, contrate serviços e amplie horizontes.
Ser antirracista é um papel ativo e necessário!