Islândia: Terra do Fogo e do Gelo
Poucos lugares no mundo são tão inóspitos quanto a Islândia. Os Vikings que o digam. Ao chegarem à Terra do Fogo e do Gelo no século IX, provaram que o homem é capaz de sobreviver até num lugar assombrado por grandes tempestades de neve, vulcões em erupção, vegetação carente e fauna escassa. Apesar de todos estes obstáculos, a população conseguiu – ao longo dos séculos – desenvolver um mecanismo de defesa potente utilizando empreendedorismo, trabalho coletivo, perseverança e criatividade.
LEIA MAIS: Miami reinventada: investimento em arte derruba preconceitos e muda a cidade
De lá para cá muito mudou, no entanto, os islandeses ainda usam estas habilidades irraigadas no DNA da cultura local diariamente. A gente nota isso na gastronomia (a comida da ilha revolucionou o conceito de culinária nórdica), na arte (por anos Björk foi considerada a cantora mais inovadora do showbiz mundial), no design (aconchegante e minimalista com o intuito de tornar ambientes frios em locais convidativos), na política (a Islândia é pioneira na liderança feminina e nos direitos humanos de minorias) e, é claro, na arquitetura (arrojada, sustentável, geometricamente precisa, futurista e, na medida do possível, inspirada em tons presentes na natureza local).
A capacidade de transformar uma situação negativa em algo positivo é para poucos. De um tempo para cá, a Islândia tornou-se um exemplo de estratégia turística para países nos cinco continentes. Por incrível que pareça, desde 2010 este segmento cresceu 25% ao ano e, hoje, a ilha com pouco mais de 300 mil habitantes (pouca gente se levarmos em consideração que a Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, por exemplo, abriga mais que 700 mil pessoas) recebe em média 3 milhões de estrangeiros entre março e novembro.
Esta onda surgiu graças a três fatores. Primeiro, a crise econômica de 2008 impulsionou os islandeses a procurarem fontes de renda inusitadas e desenvolvimento em setores alternativos, entre eles, o turismo. Em seguida, a erupção do vulcão Eyjafjallajokull em 2010 ilustrou capas de jornais no mundo todo, trazendo a atenção de muita gente para a Islândia. Em terceiro, um fenômeno chamado Instagram mudou a forma como a gente escolhe nossos destinos de viagem. Nesse quesito, é raro encontrar um local mais fotogênico que esse país.
Sua autenticidade climática e social é claramente refletida em vários aspectos do dia a dia da população, que acredita em duendes e nos poderes cósmicos da Aurora Boreal. Eles também são pioneiros no sucesso de um partido politico pirata dedicado à transparência total da vida pública e a taxa de criminalidade é tão baixa que a polícia sequer anda armada.
O paisagismo, a decoração e a arquitetura também impressionam pela originalidade. Apesar de não podermos comparar as construções locais com as de grandes metrópoles como Roma, Paris ou Londres, há um estilo coerente com toda a autenticidade da ilha. Talvez o nome mais influente na Islândia nesse segmento seja Guojon Samuelsson. Nascido na capital Reykjavik, em 1887, foi responsável pelo Teatro Nacional, pela maior universidade do país e pela igreja Hallgrimskirkja. Tudo que ele fez foi inspirado na natureza local. Desde o formato pontiagudo dos icebergs do norte do país, até a textura porosa da superfície dos vulcões espalhados pela ilha, cada detalhe era ferramenta de criação para o que ele chamava de arquitetura modernista islandesa.
Entre outras construções memoráveis na Terra do Gelo e do Fogo estão a sala de concertos Harpa , a piscina Hofsos, a biblioteca Nordic House e uma das construções mais antigas do país: a residência Saubaerkirkja, erguida em 1858.
Nos meus dias em Reykavyk, tive a chance de entrevistar a primeira mulher a ser eleita à presidência de um país europeu. Durante nossa conversa, ela disse que a maior lição da vida dela veio de um ditado viking muito popular no país: “A sabedoria é sempre bem-vinda, independente de onde ela vier”. Talvez este ensinamento seja a inspiração por trás da atitude perseverante, adaptável e autêntica que se tornou marca registrada dos islandeses.
Sou fã! Adoro o programa Pedro pelo Mundo, principalmente o fechamento! Linguagem simples e bela! Parabéns !
Pedro, você é o cara que conta pra gente as melhores novidades da vida e do mundo. E revela isso como se estivesse sentado no sofá de nossas casas. Match point para seu texto. Sou cada vez mais fã. Um abraço fraterno, o meu maior e melhor.
Ótima narrativa, como sempre, bem pontuada, lí como se estivesse lhe ouvindo falar, de uma maneira clara, coerente e estimulante. Obrigada pelo texto maravilhoso!
Pedro, como sempre seus comentários e suas informações são de extrema cultura e sabedoria. Adoro seus programas, principalmente Pedro pelo Mundo! Já assistir todos os episódios.... sou sua fa!
O Pedro costuma fazer análises bem minuciosas e envoltas pela sútil descontração , o que eu gosta bastante. Espero que um dia ele escreve mais um livro , só que dessa vez mais subjetivo e pessoal
Que texto maravilhoso! Os islandeses, então, deram a volta por cima. Não sabia dessa história; obrigado por compartilhá-la. Muito interessante.