“Arte tem a capacidade de tirar você de certas rotinas e trajetórias”, diz Vik Muniz
“Eu faço as coisas para depois ficar pensando para que serve aquilo, o que é, por que eu fiz”, indagou Vik Muniz. “Existe essa dificuldade quase no discurso de todos os artistas, eles não conseguem explicar o que fazem”.
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Nome forte na arte contemporânea, Muniz deu uma palestra no Archtrends Summit 2022, organizado pela Portobello e realizado nesta quinta-feira (8), no hotel Rosewood. Antes de sua apresentação, falaram também Alex Atala, Gabriela de Matos, Humberto Campana e Nina Talks, Patricia Pomerantzeff no evento âncora da DW!, semana de design que ocorre até o dia 11 de setembro em São Paulo.
“Eu tenho interesse grande por epistemologia, que tem muito a ver com a ideia de design e arquitetura, e é como a mente interage com o mundo físico, com a matéria”, refletiu Muniz. “A gente pensa pouco sobre isso, mas existe um mundo fora de nós e um dentro”.
Em sua apresentação, contou como foram feitas algumas de suas obras mais famosas. Entre elas, Medusa Marinara (1997), em que recriou a obra Medusa de Caravaggio em seu prato de espaguete.
“Eu estava trabalhando numa obra de chocolate do Caravaggio, e estava comendo esse macarrão. Sobrou porque não estava muito bom”, conta. “Eu estava com o livro e resolvi fazer. No domingo estava no New York Times o meu prato de comida. Cinco minutos eu levei para fazer”.
Em outra obra, de mesmo estilo, recriou a Monalisa com pasta de amendoim e geleia. “Muito do meu trabalho é baseado em ícones, arquétipos, coisas que conversam com uma bagagem visual que o espectador traz naquele ponto para a obra”, explicou.
No portfólio de trabalhos de maior escala, lembrou de quando desenhou nuvens sobre o céu de Nova York, em 2001, meses antes do ataque às Torres Gêmeas. “Durante três meses você andava no centro de Manhattan e passava uma nuvem, mas não uma verdadeira, mas o desenho de uma”, disse. “Quando você pergunta para que serve [arte], é bom. Se você coloca uma pedra no meio de uma calçada, aquilo é arte. Porque o camarada vai ter que mudar o rumo. Arte tem a capacidade de tirar você de certas rotinas, certas trajetórias”.
Em outro projeto, de escala microscópica, feito em parceria com o Massachusetts Institute of Technology (MIT), conseguiu desenhar castelos em grãos de areia. “Fiz também o retrato da minha filha e joguei em Ipanema”, conta. "Em algum lugar, ela está lá".
Numa das suas criações mais famosas, feita em um aterro sanitário no Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, reproduziu, com lixo, fotografias dos catadores locais. Esse projeto foi documentado no filme Lixo Extraordinário (2010), que chegou a ser indicado ao Oscar.
“Foi um projeto de três anos e mudou a vida dessas pessoas completamente, e mudou a minha também porque eu comecei a entender para que servia a arte”, disse. “Se ver numa escala enorme é fantástico, gera algo diferente na concepção que elas tinham de si mesmas. Para mim foi incrível, projetou a ideia da relação que o artista tem entre o intelecto e a criatividade, e o mundo físico. Se expandiu para o mundo das pessoas, humano”.
Ele também exibiu um dos seus projetos mais recentes, em parceria com a Casa da Moeda, em que usou dinheiro picado para recriar os sete animais das notas brasileiras, como arara, peixe e garça. “Eles me deram dinheiro picado que não era usado e comecei a refazer os próprios animais”, disse. Ele mostrou ainda imagens de florestas também feitas com notas.
“Fazer arte deveria ser uma ocupação como fazer exercício, todo mundo devia fazer porque é bom. Viver disso é um grande privilégio que eu tenho”, disse. "Arte é para todo mundo e tem que ter a capacidade de tirar a gente do lugar onde a gente está, mesmo que momentaneamente".
Confira a íntegra da palestra de Vik Muniz no Archtrends Summit: