Um artista completo. É assim que podemos descrever Oskar Metsavaht.
Em sua participação no Archtrends Podcast, o fotógrafo, pintor, designer de moda, médico (por formação e atuação) e embaixador da Unesco falou sobre suas duas coleções com a Portobello, seu processo de criação e sua relação com a natureza.
Quer conferir os melhores momentos? Neste texto, você confere os principais cortes do podcast.
Oskar Metsavaht no Archtrends Podcast: veja os destaques
Você pode conferir a entrevista completa no vídeo abaixo:
Espaço e terra
Para o homem, é intrínseco o olhar para o espaço. Essa visão romântica, fantasiosa e até esperançosa está presente nos textos bíblicos e até nas representações politeístas do Egito Antigo, que representava os astros por meio dos seus deuses.
Oskar Metsavaht, porém, acredita que agora é hora de olhar em uma nova direção: para a terra.
"Sabe quando você está deitado na grama sozinho, namorando, conversando com os filhos e olhando para o espaço? Imagine se virar e olhar para a grama da mesma forma. A gente mergulha no mar, no espaço, no céu, no mundo digital, estamos criando o metaverso, mas não mergulhamos para dentro da terra", explica.
Oskar ainda fala sobre a conexão de diversos elementos — plantas, fungos, cogumelos — pelo solo. Segundo ele, há uma rede de comunicação neuronal do planeta por debaixo da terra da qual as pessoas estão distantes. "Mergulhar nela é uma necessidade humana", afirma.
Ele continua: "Vamos, sim, para o universo, avançar pelo espaço, mas vamos também avançar para dentro, vamos aprender com a natureza. A gente está saindo do período antropocentrista (o homem como o centro) e passando para "nós" com a natureza numa unidade só."
Visita à fábrica da Portobello
No dia anterior à entrevista, Oskar Metsavaht fez uma imersão na fábrica da Portobello. Lá, ele acompanhou como funciona todo o processo de fabricação de um porcelanato.
Para ele, também foi uma imersão histórica, que vai desde quando o homem aprendeu a se beneficiar do solo.
"A gente tá com a mão muito mais no iPhone do que na terra. Então, como artista, digo para mim mesmo vamos colocar a mão na terra, vamos explorar a terra da mesma forma que a gente tá explorando tanto o espaço e o mundo digital. A gente tem que se reequilibrar", defende.
Para Oskar, é belo acompanhar como o homem evoluiu na manipulação do solo até chegar à criação do porcelanato — que, apesar do seu lado funcional, também é uma obra de arte.
"Artisticamente, a matéria-prima da cerâmica é a terra, e o homem foi evoluindo ao longo dos tempos, até criar a Portobello e outras empresas e indústrias do mundo inteiro que trabalham com a cerâmica", diz.
"É bonito ver a forma como hoje você pode levar para a sociedade toda essas coleções (...), pode embelezar muito mais o lugar onde as pessoas vivem."
Trabalho com a Portobello
Em 2020, Oskar Metsavaht cocriou sua primeira coleção com a Portobello. Chamada de Ipanema, a linha tem peças inspiradas no famoso bairro carioca, que consegue levar ao beira-mar a vida cosmopolita de maneira única. Foi a primeira vez que Metsavaht fez um trabalho do tipo.
"As pessoas sabem da qualidade da Portobello. Já tinha visto alguns projetos superinteressantes… Quando o Daniel me falou do convite, eu já saí criando, sabe?"
O projeto instigou o artista. "Para mim, é interessante trabalhar numa plataforma bidimensional. A roupa é tridimensional; a arquitetura é tridimensional…", explica.
"Criar um revestimento e saber que ele vai ser utilizado horizontalmente, verticalmente, e dentro de um projeto de arquitetura e decoração, dessa versatilidade que existe, é um desafio", revela.
Algo que prendeu a atenção de Oskar Metsavaht — médico por formação, o que fez dele "uma mistura de ciência e arte" — foi o método de criação do porcelanato pela Portobello.
"O processo, a história, o desenvolvimento, a cadeia de produção já são artisticamente inspiradores. Quando você vai entendendo a técnica, fica com mais possibilidades de desenvolvimento criativo e de seus limites."
O desafio da parceria se converteu em satisfação, na avaliação de Metsavaht. "É um projeto muito desafiador e que me satisfaz — tanto que já estamos na segunda coleção. É interessante fazer um projeto que se tornou comercialmente bom, tem um conceito forte, é reconhecido pelos arquitetos, decoradores e também por nossa equipe. Todos nos orgulhamos artisticamente e pelo reconhecimento comercial dele."
Oskar conta que, para criar a linha Ipanema, inspirou-se nos elementos do bairro — que, por si só, são símbolos do espírito brasileiro desejado pelo mundo.
"Ipanema é um conceito de estilo de vida, né? Óbvio que é um bairro, mas é um local que tem seus elementos de estilo: asfalto, pedras portuguesas, areia, mar. O asfalto, que representa a vida cosmopolita, e a areia, que representa a natureza", detalha.
Ele continua: "Existe uma cultura de praia hedonista, que representa o Rio e o Brasil, um estilo de vida que o mundo deseja, que é o equilíbrio entre a natureza e a vida urbana."
Segundo Metsavaht, esse equilíbrio entre asfalto e natureza é representado pelas cores preta e areia, usadas nas coleções da Osklen, em seu modo pessoal de se vestir e na linha de porcelanato Neotropical. É quase que um yin yang contemporâneo.
"Eu me inspiro muito nos elementos que tem em Ipanema e os fotografo. É interessante olhar o mundo pelo view finder (visor) (...) Gosto muito de olhar para um pequeno detalhe, ampliá-lo, e ele representar simbolicamente o todo."
Todo o processo artístico que gerou a linha Ipanema se tornou uma exposição com fotos, pinturas e videoinstalação na Casa de Cultura Laura Alvim.
Isso fez com que Oskar não enxergasse os porcelanatos apenas pelo viés comercial, mas como peças de arte.
"Com a linha, a gente dá a possibilidade ao arquiteto de recriar, de ter aquele momento de criação que eu tive. Cada painel é diferente. É um projeto que me deixou muito satisfeito. As pessoas me marcam no Instagram e é interessante ver como cada uma o interpreta."
Relançamento de Neotropical
Um dos principais itens da linha Ipanema, a versão Neotropical, será relançado pela Portobello. Inspirado no calçadão, o revestimento traz as dualidades do bairro e representa o joie de vivre brasileiro desejado pelo mundo.
Além do calçadão, Oskar se inspirou no modernismo, que também se reflete em toda a atmosfera do bairro carioca.
"[O porcelanato] tem dois elementos, ou seja, preto e branco, preto e areia. São formas modernistas, concretas. Só que elas, juntas, criam uma composição. Elas têm um minimalismo", explica.
Outro fator que inspirou Metsavaht foi a bossa nova. Segundo ele, um estilo de samba igualmente minimalista, mas de linguagem estética universal, que leva a alma brasileira dentro dele.
"Através de duas cores frias, você consegue ver aquela alegria de praia, de Brasil, nossa ginga. Esse meu trabalho sobre a linha Ipanema na versão Neotropical, eu colocaria dentro de uma letra de bossa nova. A bossa nova se inspirou muito naquele momento dos anos 1950. 1960. Eu tenho esse olhar. Ipanema é isso aqui imageticamente. Componho com imagens no meu trabalho. É pura poesia", reflete.
Nova coleção com a Portobello
Essa necessidade de se reconectar com a natureza e colocar a mão na terra também está pautando a nova coleção com a Portobello.
As texturas, variações de tons e possibilidades que o solo traz serão retratadas nos revestimentos, com previsão de lançamento para março de 2023.
"Quando fomos fazer o ajuste de cores, aqueles tons estavam me nutrindo, sabe? Aquele conjunto de cores me aconchegou."
"Quando pego o espírito do tempo, absorvo, visceralizo e expresso de alguma forma, minhas coleções dão mais certo, minhas posições agradam mais. Nessa coleção, a gente está acertando. Ela vai estar linda", antecipa.
Pós-covid
As últimas três coleções de Oskar Metsavaht para a Osklen ("Gaia", "Balance" e "Pantanal") foram pensadas na relação com a natureza, nos reencontros pós-covid e em recomeço.
A próxima coleção, "Blooming", representa o momento em que a sociedade volta a florescer. "A alegria volta para o nosso olhar; estamos nos reconectando com a natureza", diz Metsavaht.
Oskar Metsavaht por Oskar Metsavaht
Médico, embaixador da Unesco, embaixador e diretor criativo da Osklen... Apesar de tantas profissões, Oskar se considera um artista por todo o seu método de construção de uma coleção — tanto de roupas quanto de porcelanatos.
Num primeiro momento, sua criação não segue um viés comercial, estratégico ou de design. Todo o seu trabalho é uma coletânea de estilos que cria sozinho, com a família e sua equipe.
"Sou uma pessoa que criou um estilo. As pessoas gostam de dizer aquilo é do estilo da Osklen. Na verdade, elas querem dizer que aquilo é do estilo do Oskar. O que trago para a Osklen são meus elementos de estilo, que fui criando ao longo do período, depois meus elementos de estilo no meu trabalho como artista", explica.
Imaginação
Oskar Metsavaht acredita que imaginar é algo muito importante para o indivíduo executar seus projetos — tanto que ensinou essa qualidade a seus filhos.
"Acho que é muito importante você ter tempo para imaginar. Gosto de dizer que aquilo que você imagina já se transforma em real."
"Acho que o mais importante para não ficar só na imaginação, no discurso ou só na tentativa, é levar (o projeto) ao final. Que seja escrever uma frase, fazer um livro, um filme, uma peça de roupa, qualquer área de profissão."
Oskar também acredita que seu trabalho como médico fez com que seu trabalho artístico, que parece ter métodos independentes, consiga se interligar.
"Quando você entende a fisiologia do corpo humano, a interatividade que tem entre todos os órgãos, seu funcionamento e a questão emocional que interfere nisso, talvez entenda essa relação de todas as minhas plataformas de criação, onde existem elos que se encontram, que são os elementos de estilo", reflete.
"Acho que eu vivo pintando na minha mente e vou falando as coisas. Sai, no final, um retrato."
Gostou de saber mais sobre Oskar Metsavaht? Outro profissional que passou recentemente pelo Archtrends Podcast foi Lufe Gomes, dono de um dos principais canais de arquitetura do Brasil. Confira a entrevista!