22.09.2022
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Ao longo de sua vida, Zanine Caldas foi escultor, maquetista, paisagista, designer de produtos, moveleiro e professor (Foto: Wikimedia Commons)
Ao longo de sua vida, Zanine Caldas foi escultor, maquetista, paisagista, designer de produtos, moveleiro e professor (Foto: Wikimedia Commons)

Zanine Caldas: um grande mestre da arquitetura brasileira

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22.09.2022
Conheça a história de Zanine Caldas, um grande artesão das madeiras que ajudou a moldar a arquitetura e o design brasileiros!
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Se cada período da história tem seus gênios em diferentes campos, Zanine Caldas está entre os maiores arquitetos do século XX. Afinal, ele tinha um olhar minucioso e original. Moldando com as mãos, deu seu toque peculiar à arquitetura e ao design de móveis.

Para ouvir o artigo completo, clique no play abaixo:

Não é fácil sintetizar o que é ser brasileiro em palavras, quem dirá em criações de produtos. Mas, ao que o legado desse mestre indica, é possível mostrar ao mundo as faces brasileiras da arquitetura e da decoração com simplicidade.

Neste artigo, você vai embarcar na trajetória do arquiteto que nunca teve diploma e aprendeu a moldar casas e móveis por meio da arte da observação e do esforço contínuo. Conheça Zanine Caldas, que misturou o que de melhor os povos e as matérias-primas dessa terra oferecem!

As origens do mestre Zanine Caldas

José Zanine Caldas nasceu na cidade de Belmonte, na Bahia, em 1919. Filho de um médico, ele começou a escrever sua história na arquitetura do Brasil ainda pequeno.

Aos 13 anos, Caldas fez uma maquete de um presépio de Natal se utilizando apenas de restos de caixas de seringas.

Nascia ali a primeira obra desse mestre que, mesmo em tom arcaico, já esboçava traquejo ao lidar com dimensões e harmonia.

Os primeiros trabalhos de Caldas

O autodidata se tornou um maqueteiro — ofício que, até então, exercia como um experimento quase que infantil.

Jovem, Zanine Caldas fundou sua empresa no Rio de Janeiro e passou a produzir maquetes de diversos projetos, para vendê-las a profissionais da construção.

Muito dessa habilidade em desenvolver maquetes com as próprias mãos, sem a parceria ou mentoria de profissionais, se desenvolveu pelo olhar.

Caldas observava os trabalhadores manuais em sua cidade, construindo canoas de madeira e outras peças que eram utilizadas nessas pequenas embarcações de pescaria.

A incursão a São Paulo

Ainda novo, Zanine Caldas viajou a São Paulo para conquistar um trabalho em um escritório. Com esse objetivo em mente e muita ousadia, ele chegou na cidade grande e conseguiu uma vaga em uma empresa de arquitetura.

Na Severo & Villares, desenvolveu seu lado mais técnico em desenhos. Isso permitiu que expandisse suas próprias formas de criação, agregando novos aprendizados e entendendo como funciona o ambiente de trabalho formal.

Na mesma época em que o jovem trabalhou no escritório, ele também começou a estudar no Serviço do Patrimônio Histórico Artístico Nacional, de que era membro. Esse período lhe rendeu muito conhecimento sobre história da arte.

As maquetes com grandes assinaturas

Zanine Caldas , maracaná
Esta imagem é parte do Fundo Agência Nacional Série FOT Subsérie EVE (Foto: Arquivo Nacional)

Na época em que Zanine Caldas esteve em São Paulo, ele recebeu muita notoriedade por conta das maquetes que produziu para nomes gigantes da arquitetura nacional.

Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, duas das cabeças que idealizaram Brasília, encomendaram maquetes de diferentes projetos a Caldas.

Entre as maquetes que ele realizou estão a do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, e a do Edifício Copan, em São Paulo.

A fundação da Móveis Artísticos Z

Zanine Caldas banco
As classes mais altas viam que o produto final de Caldas era arrojado e original, como de outros nomes do design mundial
(Foto: William Chevillon)

Em 1959, Zanine Caldas abriu junto de alguns sócios a Móveis Artísticos Z, em São José dos Campos. Sua proposta com a empresa era fazer mobiliários para as classes menos favorecidas financeiramente.

Apesar de os modelos e desenhos serem simples, por ironia, suas peças eram mais admiradas e compradas pelas elites.

A arte de lecionar em Brasília

Zanine Caldas não tinha limites territoriais. Embarcando para Brasília, ele recebeu um convite do antropólogo Darcy Ribeiro para ser professor de maquete na Universidade de Brasília (UnB).

A saída forçada do Brasil

Durante o período da ditadura militar no Brasil, Zanine Caldas perdeu seu cargo de professor convidado na UnB e foi morar na África e na Ásia.

Caldas era filiado ao Partido Comunista do Brasil e, apesar de ter se desfiliado anos antes do regime começar, ele esqueceu de dar baixa em sua filiação. Uma saída inteligente, pois uma vez dentro da sigla, seria perseguido pelo governo.

Fora do país, Caldas se aprofundou ainda mais na arte de fabricar móveis rústicos, utilizando o que a natureza local provia.

Zanine Caldas , mesa
Mesa de centro Zanine Caldas, criada nos anos 1970 (Foto: Leo Reynolds)

A volta à terra e a expansão do lado designer

Em seu retorno ao Brasil, na década de 1980, Zanine Caldas fundou o Centro de Desenvolvimento das Aplicações da Madeira (DAM), situado no Rio de Janeiro. O local tinha como objetivo fazer estudos com madeiras de diferentes tipos.

Já na volta de Caldas à sua terra natal, a Bahia, mais precisamente Nova Viçosa, ele soube dos desmatamentos e das queimadas das vegetações nativas do estado. Ao perceber que a madeira era destruída, resolveu propor uma solução para a devastação da mata.

Nesse período, ele fabricou móveis com a madeira queimada e destruída que era nativa do local. Essa fase do designer, arquiteto e maqueteiro ficou conhecida como móveis-denúncia.

Zanine Caldas, mesa madeira
Mesa de jantar da fase móveis-denúncia de Caldas aproveita troncos de árvores como pés (Foto: Mercado Moderno)

A medalha de honra ao mérito

Zanine Caldas foi ignorado ou mal visto por diversos profissionais de arquitetura e construção.

O motivo é que mesmo depois de várias décadas com trabalhos importantes no mercado nacional, ele não tinha diploma na área.

A falta de uma graduação implicou em impedimentos em trabalhos, a exemplo do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) o ter proibido de atuar em alguns projetos.

Contudo, em 1991, Caldas recebeu, por meio de Lúcio Costa, seu honoris causa, concedido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).

Ele aprendeu arquitetura e design ao seu modo, na popular “faculdade da vida”, que não o impediu de ter tanta exatidão, criatividade e profissionalismo quanto diplomados.

Zanine Caldas, Lúcio Costa
Lúcio Costa (segundo da esquerda para a direita) e Zanine Caldas (terceiro), durante as obras de construção de Brasília (Foto: H. Gallery)

As marcas do legado

Zanine Caldas deu sua cara aos móveis e às casas que criou, tanto por iniciativa própria quanto por encomenda de clientes, que buscavam refúgios em construções carregadas de brasilidade.

Veja as principais características da arquitetura de Caldas:

  • incorporação à topografia local: as obras não alteravam as superfícies dos terrenos. Elas se adaptavam a eles com criatividade e aproveitavam os recursos locais;
  • trabalho manual: as madeiras eram trabalhadas à mão por Caldas, conferindo um toque autoral a cada metro quadrado de um projeto;
  • uso de telhas de barro: telhados de duas águas marcavam presença nas casas projetadas por Caldas, um traço de suas origens baianas;
  • simplicidade: por mais robustas que fossem as obras, elas carregavam traços simples e não buscavam ser magnânimas;
  • utilização de madeira nativa: as espécies brasileiras foram largamente usadas nos projetos de Caldas;
  • regionalismo: traços culturais e naturais da área onde a obra é feita eram incorporados ao projeto.

As obras de destaque do mestre da arquitetura e do design brasileiro

zanine caldas, moveis
Além de grandes casas, Zanine Caldas tem sua própria coleção de mobília, que casa perfeitamente com os demais tipos de projeto que desenvolvia (Foto: Dave Pinter)

O mestre tem suas marcas pessoais na arquitetura, que se espalham por diversas obras e permanecem vivas como seu legado.

Residência Arnaldo Cunha Campos

No interior dessa casa, tijolos foram pintados de branco e deixados à mostra. Na área externa, os mesmos blocos são rebocados.

Para completar, portas feitas com madeira de demolição mostram que o arquiteto já tinha a sustentabilidade como mote.

Casa Cuca

Essa é a residência onde o mestre morou por longos anos. Hoje é habitada por sua filha mais nova, Dea Dória Zanine Caldas, a Cuca.

Residência Ivan Valença

A casa é de propriedade de Ivan Valença, diretor do CasaPark, um conglomerado de várias lojas do setor de decoração.

Namoradeira

zanine caldas, namoradeira
É nítido que o bloco sólido de madeira foi trabalhado à mão, entregando a autoria de Zanine Caldas (Foto: Mercado Moderno)

A peça sintetiza com fidelidade as ideias simples de Zanine Caldas — que buscou, em um pedaço único de tronco de árvore, elaborar um clássico dos móveis à sua maneira.

Poltrona Zanine Z

Nas laterais dessa cadeira, o desenho das madeiras se parece com um caminho de labirinto. Elas são sustentadas por um reforço nos pés, pelo assento e pelo encosto.

Zanine Caldas deixou viva em suas obras sua própria história de trabalho duro, marcas de culturas e muita brasilidade.

Esse “carimbo” na arquitetura e no design de móveis mostra que de um país miscigenado saltam pontos que nos unem.

Como você deve ter percebido, a madeira é uma das tônicas da arquitetura de Zanine Caldas. Veja formas de usá-la em seus projetos, assim como fez o mestre!

Foto de capa: Ao longo de sua vida, Zanine Caldas foi escultor, maquetista, paisagista, designer de produtos, moveleiro e professor (Foto: Wikimedia Commons)

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  1. Possuo algumas peças inspiradas no trabalho dele em Nova Viçosa, BA feitas pelo seu assistente.



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