Martha Cassell Thompson: arquitetura no DNA
O nome de Martha Cassell Thompson está marcado na história da arquitetura dos Estados Unidos. Responsável pela restauração da Catedral Nacional de Washington, ela foi uma das primeiras mulheres afro-americanas a se formar arquiteta.
Mais que isso, ela carregava no DNA o talento para a arquitetura, tendo sido filha e irmã de arquitetos. Quer conhecer mais sobre essa incrível arquiteta e sua família? Siga a leitura conosco!
Um pouco da sua biografia
Martha Cassell Thompson foi a segunda filha de Albert Cassell, que também era arquiteto, e de Ann Mason Cassell, professora de escola pública em Baltimore.
Assim como seus irmãos, Charles Cassell e Alberta Jeannette Cassell, Martha foi incentivada pelo seu pai a frequentar a escola de arquitetura da Universidade de Cornell.
Martha concluiu seu bacharelado em arquitetura em 1947 e se tornou a primeira mulher afro-americana, ao lado da sua irmã, a se formar em uma faculdade de arquitetura no país.
Seu pai também se formou pela mesma universidade em 1919, assim como seu tio, Oliver Cassell, que se formou em engenharia civil e se tornou um empreiteiro de sucesso.
Sua irmã Alberta Cassell foi uma das primeiras arquitetas negras formadas na Universidade de Cornell e trabalhou no escritório do seu pai por dois anos depois da graduação. Em maio de 1951, ela aceitou o cargo de engenheira naval no laboratório de Washington. E, em 1961, se tornou a primeira mulher arquiteta naval na Marinha Americana.
Em 1948, Martha se casou com Victor Thompson, estudante de medicina no Meharry Medical College. Eles tiveram apenas uma filha, Karen Thompson, que se formou no Illinois Institute of Technology e se tornou a terceira geração de arquitetos da família.
Martha Cassell Thompson faleceu em 1968 e está sepultada no Cemitério Lincoln Memorial, em Maryland.
Carreira e obras de Martha Cassell Thompson
Martha Cassell Thompson iniciou sua carreira em arquitetura em um escritório em St. Louis, onde trabalhou de 1949 a 1951. Na sequência, ela começou a trabalhar com o arquiteto Philip Hubert Frohnam, na empresa Frohman, Robb & Little, em Columbia.
Foi nessa época que Martha se tornou a arquiteta chefe da restauração da catedral de São Pedro e São Paulo, mais tarde conhecida como Catedral Nacional de Washington.
Isso só foi possível graças aos seus conhecimentos e experiência em arquitetura gótica. Martha Cassell Thompson foi também uma das únicas mulheres na equipe responsável por concluir o projeto, que teve duração entre 1959 a 1968.
Durante a restauração, Martha foi responsável pelos desenhos detalhados em perspectiva, representações, figuras escultóricas em argila e demais detalhes decorativos, trabalhando incansavelmente por quase 10 anos.
Um pouco sobre a arquitetura da Catedral Nacional de Washington
O plano mestre da catedral foi idealizado por George Frederick Bodley, fundador da Watts & Co. Ele era um arquiteto britânico muito conceituado entre o final do século 19 e o início do século 20. A criação da catedral Nacional de Washington foi bastante influenciada por Canterbury.
O paisagismo foi desenvolvido por Frederick Law Olmsted Jr., que criou um fechamento para a Catedral, e também Nellie B. Allen, que projetou o Jardim dos Bispos.
Após o falecimento de Bodley, em 1907, e a Primeira Guerra Mundial, o projeto ficou estacionado, sendo retomado apenas ao final da guerra. Foi nesse período que houve a contratação do escritório onde Martha trabalhava.
Nessa época, os arquitetos trabalharam para aperfeiçoar a visão de Bodley, ampliando a fachada a oeste, adicionando a seção do carrilhão da Torre Central e fazendo outras pequenas alterações no projeto inicial.
O desenho final demonstra uma influência de vários estilos arquitetônicos góticos, como os arcos pontiagudos, as inúmeras abóbodas no teto, os vitrais e as decorações em pedras, entre outros.
A incrível família Cassell
Em um período marcado por segregação racial e negação de direitos, a família Cassell ousou desafiar o sistema. O pai de Martha, Albert Cassell, ficou conhecido por transformar o campus e o currículo da Howard University, impactando as gerações futuras de arquitetura, o que incluiu, é claro, seus próprios filhos.
Um dos mais ambiciosos de seus projetos, contudo, nunca foi concluído. Em 1930, Cassell adquiriu 500 acres de terra na costa oeste de Maryland para criar o Chesapeake Heights, um lugar onde os afro-americanos pudessem viver e trabalhar sem serem limitados pela discriminação racial.
Embora o projeto nunca tenha decolado, Cassell conseguiu implementar essa mesma visão em uma escala menor no complexo Mayfair Mansions. Este foi um dos primeiros projetos habitacionais subsidiados pelo governo para afro-americanos nos Estados Unidos. O projeto foi idealizado e desenhado por Cassell e financiado por Solomon Lightfood Michaux. O próprio Cassell viveu no complexo com sua família até 1950.
Filho de um motorista de caminhão de carvão e uma lavadeira, a vida do pai de Martha Cassell Thompson não foi fácil. No ensino médio, seus conselheiros estudantis o aconselharam a mudar seus planos de estudar em Cornell. Mas sua mãe o encorajou a seguir seu sonho, juntando suas escassas economias e emprestando dinheiro para que Cassell se formasse.
Em 1920, Albert Cassell entrou para o corpo docente da Howard University e permaneceu na universidade até 1938, local onde deixou sua marca na arquitetura do campus e também no currículo da universidade.
Espelhando-se nas experiências das irmãs arquitetas, Charles Cassell também teve uma história de destaque. Ele projetou vários edifícios para a Marinha americana na década de 1950, supervisionando o projeto e a construção de 9 prédios para a Universidade do Distrito de Columbia (UDC), entre 1976 e 1986. Também atuou no conselho escolar dessa mesma universidade, além de fundar o Conselho de Arquitetos Negros da UDC.
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