São mais de 2.300 metros quadrados de um pavilhão que emerge da água da Marina Bay. Todo de vidro e aço, o edifício abriga a loja da Louis Vuitton em Singapura. Mas não se engane: mais que a venda de bolsas e malas, trata-se de um monumento para celebrar a história da marca e seus valores.
Para quem vê de fora, o projeto é impressionante. Mas é ainda mais incrível para quem o observa por dentro! Além da óbvia beleza estética, o prédio é uma aula de como elementos físicos de um espaço, considerando as condições naturais do lugar, seus materiais de revestimento e decoração, podem transmitir informações e criar sensações e experiências.
Curioso para descobrir mais detalhes sobre essa obra de arte em forma de construção? Então basta seguir com a leitura!
O que é a Louis Vuitton e qual o histórico da marca?
Fundada em meados do século XIX em Paris, na França, a Louis Vuitton começou como uma simples oficina de malas e bolsas artesanais. Pela inovação impressa no formato das bagagens e pelo padrão diferenciado de desenho, seu trabalho logo foi reconhecido por toda a Europa.
Com o tempo, a Louis Vuitton se tornou símbolo de malas e bolsas de luxo, formalizando esse posicionamento em 1987, com a criação da Moët Hennessy Louis Vuitton (LVMH). A ideia do grupo era gerenciar e incorporar outras marcas de luxo. E deu tão certo que hoje já são 60 empresas dentro do projeto.
Por sua origem na produção de malas e bolsas, a Louis Vuitton automaticamente se ligou ao universo das viagens, ficando marcada especialmente pelas viagens náuticas, já que essa era uma maneira muito comum de se viajar nos séculos XIX e XX. Pois a empresa incorporou esse atributo à sua marca!
A Louis Vuitton tem como missão a transformação do ato de viajar em uma experiência única. E seus valores refletem justamente isso! Para proporcionar esse resultado, a empresa busca imprimir originalidade, um espírito de vanguarda, paixão e muita qualidade nos seus produtos.
Como é o projeto da loja da Louis Vuitton em Singapura?
O histórico projeto da maison Louis Vuitton em Singapura é impressionante em todos os pontos de vista. Construído em um dos 2 pavilhões flutuantes da Marina Bay, o edifício é conhecido como crystal pavilion (pavilhão de cristal) por seu revestimento em vidro e seu volume, fazendo-o parecer uma pedra preciosa.
Experiência única
O conceito de viagem como experiência única começa a ser projetado desde a localização da loja: em uma plataforma sobre o rio Singapura. Para acessar o edifício, os visitantes têm 3 opções: passar por uma ponte externa, chegar de barco ou por um túnel subaquático. Parece uma jornada? Pois a intenção é exatamente essa!
Tema náutico
Aliás, a ideia de reforçar a conexão da marca com as viagens por navio nesse projeto continua logo na entrada: o primeiro túnel da maison é decorado com mostruários preenchidos com bagagens icônicas da Louis Vuitton, usadas em viagens transatlânticas do começo do século XX.
O espaço da Louis Vuitton em Singapura é sim uma loja, mas é bem mais que isso. Trata-se de uma experiência focada em reforçar a história e os valores da marca, além de também conectá-la com a cidade-Estado de Singapura. Por isso a localização na Marina Bay.
Mais uma maneira de marcar essa conexão é com a presença de uma livraria localizada dentro da loja que traz estantes cheias de títulos sobre viagens, cultura, arte e design, todos cuidadosamente selecionados para ajudar na construção da marca.
Decoração interna
O tema náutico aparece com mais vigor na decoração assinada por Peter Marino, que trabalhou em projetos semelhantes para outras marcas, como Chanel, Valentino e Armani, além de outras lojas da própria Louis Vuitton. Como ele mesmo explica: “nossa loja conceito tinha como objetivo ser uma galeria de produtos da Louis Vuitton, mas também assumir a sensação da moda de alta elegância e estética náutica que tornou a marca conhecida".
Para a exposição dos produtos, a decoração é composta com o uso de madeira náutica em quase todos os lugares, desde o revestimento do piso a estruturas do mostruário e alguns móveis. Para acompanhar surgem peças ou estruturas de pedra e metais usadas em portos. Em certos trechos da loja existem inclusive mastros de navios suspensos no ar.
Um ambiente do edifício que merece destaque é o salão VIP, localizado no mezanino. Além da estonteante vista para a costa de Singapura, o local é inteiramente decorado como se fosse uma cabine em um transatlântico, incluindo até uma varanda exterior que simula o deck do navio.
Desafio estrutural
Curiosamente, o grande desafio desse projeto é sua própria estrutura. Por estar localizado em uma baía em uma região tropical, há abundância de luz solar. Surge aí uma dificuldade: com o prédio sendo inteiramente de vidro, a luz do sol tem fácil penetração, atrapalhando a visão das pessoas e aumentando a temperatura do ambiente.
O maior problema da luz solar, porém, é outro: o dano causado aos produtos da empresa pela incidência de raios ultravioleta. Tudo bem que era possível cobrir as paredes de vidro e bloquear a entrada de luz, mas isso significaria perder também a vista para a marina, além de comprometer a ambição artística do projeto.
Para solucionar a questão, foram instaladas placas automatizadas na cobertura e nas faces do edifício. Ao todo, são 300 painéis feitos com uma membrana resistente à radiação ultravioleta e com cerca de 6 metros de comprimento cada.
As placas são compostas por 2 tecidos: um feito de fibra de vidro revestida por polímero e o outro feito à base de teflon. Por causa disso, são muito duráveis e de fácil manutenção. Mas o melhor é que são capazes de difundir a luz do sol, protegendo os produtos, controlando a temperatura e permitindo que as pessoas tenham acesso à vista da marina.
Quem é o arquiteto responsável por esse projeto?
Quem assina o projeto da loja da Louis Vuitton de Singapura é o arquiteto Moshe Safdie, chefe do escritório Safdie Architects. Que tal conhecer um detalhe interessante sobre sua vida? Pois saiba que Safdie foi aprendiz do famoso Louis Kahn, responsável pelos projetos da Biblioteca Exeter, do Museu de Arte Kimbell e da Assembleia Nacional em Dacca, Bangladesh.
Depois de estudar com Kahn, o canadense Safdie voltou para sua terra para assumir uma tarefa enorme: a construção do Habitat 67 para abrigar a Expo 67 — Exposição Mundial de 1967. Aliás, vale lembrar que o Habitat 67 é um dos grandes exemplos da arquitetura brutalista.
A feira mundial foi uma gigantesca ode à humanidade. Foram 90 pavilhões representando o homem e seu mundo, com cerca de 62 nações participando ativamente do projeto. Até hoje, a feira é dona de vários recordes de participação, inclusive o de maior número de visitantes em um único dia de uma feira mundial: 569.500 pessoas. No total, foram mais de 50 milhões visitando o evento! Que responsabilidade, não é mesmo?
Essa é a história por trás da loja da Louis Vuitton em Singapura. Como deu para ver, trata-se de um projeto ambicioso, com dificuldades técnicas da natureza ao redor, mas que conseguiu passar pelos obstáculos para cumprir não só sua função operacional, mas também sua missão artística.
Se você quer continuar se inspirando em projetos arquitetônicos famosos, que tal fazer um tour pelo Museu Yves Saint Laurent e conhecer mais dessa obra?