De origem ucraniana, Gregori Warchavchik veio morar no Brasil em 1923, pouco tempo depois da realização da Semana de Arte Moderna de 1922, evento que foi um marco para a cultura e as artes em nosso país.
Influenciado pelos novos valores e diretrizes que as artes brasileiras começaram a seguir, Warchavchik adotou o estilo modernista em suas obras, se tornando um dos principais nomes desse movimento no país.
Desenvolvemos este artigo para que você conheça mais sobre o legado desse grande profissional da arquitetura. Siga a leitura e conheça mais sobre a biografia e as principais obras de Gregori Warchavchik!
A vida, as influências e o legado de Gregori Warchavchik
Gregori Warchavchik nasceu em Odessa, na Ucrânia, que na época ainda era chamada de Império Russo, no ano de 1896. Ele passou toda a sua infância, adolescência e início da juventude na mesma cidade.
Inclusive, foi na Universidade Nacional de Odessa que ele ingressou na faculdade de Arquitetura, mas não chegou a concluir o curso. Em 1918, aos 22 anos, se mudou para Roma, na Itália.
Na capital italiana, Warchavchik se matriculou no Regio Istituto Superiore di Belle Art e deu sequência ao curso de Arquitetura, se formando dois anos depois, em 1920.
Assim que concluiu a faculdade, começou a trabalhar no escritório de Marcello Piacentini, que ficou conhecido como I'architetto del regime, ou seja, o arquiteto do regime, já que foi o responsável por conduzir as obras do governo fascista, que administrava o país na época.
Durante o período em que trabalhou com Piacentini, o projeto mais relevante em que ele esteve à frente foi o Cinema-teatro Savoia, em Florença, concluído em 1922.
No ano seguinte, em 1923, Gregori Warchavchik veio viver no Brasil. Segundo ele, o movimento modernista que o nosso país vivenciava após a realização da Semana de 22 era o terreno perfeito para conduzir os seus sonhos e as suas ideias.
No Brasil
Assim que chegou em São Paulo, começou a trabalhar na Companhia Construtora de Santos, que era dirigida por Roberto Cochrane Simonsen. Essa foi a primeira empresa do ramo da arquitetura a defender um modelo racional nas atividades, seguindo as linhas de organização do fordismo e do taylorismo.
Na capital paulista Warchavchik, passou a frequentar os encontros dos grupos de artistas modernistas. Ele fez amizade com nomes importantes do movimento, como Mário de Andrade, Heitor Villa-Lobos e Anita Malfatti.
Foi nas reuniões com os modernistas que ele conheceu a paisagista Mina Klabin, filha de um grande líder industrial da elite de São Paulo. Eles começaram a namorar e se casaram em 1927, o que fez com que Warchavchik fosse naturalizado brasileiro.
Antes disso, em 1925, o arquiteto escreveu o artigo Acerca da architectura moderna, publicado no jornal Correio da Manhã. O texto é considerado um manifesto da arquitetura moderna no Brasil e, até hoje, é objeto de estudo de pesquisadores da área.
No manifesto, Warchavchik argumenta que a arquitetura clássica deveria servir apenas para o uso de teorias, como a do equilíbrio e a da proporção. Fora isso, considerava o estilo antigo, inútil e absurdo.
Ele defendia que as casas e os prédios são máquinas de morar e, assim como os maquinários das indústrias se desenvolviam, o mesmo deveria ocorrer na construção civil.
Nos anos seguintes, Gregori Warchavchik seguiu desenvolvendo projetos modernistas, se tornando o pioneiro desse estilo arquitetônico no Brasil e ganhando muitos seguidores.
No decorrer da carreira, ele fez amizade e teve relações com nomes importantes da arquitetura, como Lúcio Costa, que o convidou para lecionar no curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes em 1931.
Durante os seus anos como professor, ele deu aulas para alunos que viriam a se inspirar nos seus trabalhos e virar arquitetos famosos, como Affonso Reidy e os irmãos Roberto e Jorge Moreira.
Ele ainda montou um escritório com Lúcio Costa, onde contratou como estagiário o principal nome da história da arquitetura nacional: Oscar Niemeyer.
Também conviveu com o suíço Le Corbusier, que acompanhou alguns de seus projetos e o convidou para ser delegado em congressos internacionais de arquitetura.
Sobre premiações, Gregori Warchavchik obteve troféus como o da categoria "prédios de apartamentos", no concurso promovido por Prestes Maia na Prefeitura de São Paulo, em 1939, pela execução do projeto do Edifício Barão de Limeira.
Warchavchik faleceu em 1972, aos 76 anos, enquanto dormia em sua casa, na cidade de São Paulo. Como herança, deixou o seu legado para os seguidores do estilo e uma grande marca na história da arquitetura brasileira.
Principais obras do pioneiro da arquitetura modernista no Brasil
Durante a sua carreira, foram muitos os projetos marcantes desenvolvidos por Gregori Warchavchik. A seguir, falaremos brevemente sobre alguns dos principais deles.
Casa Modernista da Rua Santa Cruz
Localizada na Vila Mariana, em São Paulo, a casa modernista da Rua Santa Cruz foi a primeira desse estilo construída no Brasil, em 1928.
O imóvel é considerado pelos críticos como um marco na transição do estilo clássico para o inovador em nosso país.
Também é interessante destacar que Mina Kablin, esposa de Warchavchik, foi responsável pela elaboração do paisagismo da residência.
A parceria do casal nesse projeto pioneiro tinha um motivo especial: essa é a casa onde eles foram morar depois de casados.
Casa Modernista da Rua Itápolis
A casa modernista da Rua Itápolis, localizada no bairro do Pacaembu, em São Paulo, tem grande relevância para a arquitetura modernista.
O imóvel conta com 499 m² de área total e tem uma base quadrada, que dá um efeito prismático. Ele ainda possui muros de arrimo e usa assimetria, rompendo com os padrões clássicos.
A inauguração da casa, em 1930, teve um evento com 21 dias de duração, aberto ao público, que podia andar pelos cômodos e ver exposições de artistas renomados, como Tarsila do Amaral.
Desde 1986, a casa é tombada como patrimônio histórico e artístico do nosso país. Atualmente, ela ainda é de propriedade da família do arquiteto e segue tendo uso residencial.
Casa Modernista do Rio de Janeiro
A primeira casa modernista do Rio de Janeiro também foi desenvolvida por Gregori Warchavchik.
Inaugurado em 1931, o imóvel aproveitava a inclinação do terreno para fazer um jogo de volumes entre os pavimentos. Para a época, isso era algo bastante inovador.
As linhas retas e a ausência de adornos no imóvel também eram aspectos que surpreendiam os arquitetos e a sociedade da época.
A casa modernista do Rio de Janeiro ficava no bairro de Copacabana. Ela foi demolida em 1990, quando a área passou por um processo de gentrificação.
Edifício Mina Klabin
Localizado na Alameda Barão de Limeira, em São Paulo, o Edifício Mina Klabin leva o nome da esposa de Gregori Warchavchik, que foi homenageada com a obra.
Inaugurada em 1939, a construção era considerada muito arrojada na época. Na estrutura, por exemplo, foram usadas lâminas de concreto, em um período em que o processo geralmente era feito com colunas.
Ao todo são cinco pavimentos, com dois apartamentos por andar. Com o passar dos anos, o prédio ficou em péssimo estado de conservação. Até que, em 2010, passou por uma reforma, mantendo toda a estrutura original.
Após a revitalização, as unidades foram colocadas à venda e, atualmente, o prédio segue sendo utilizado para fins residenciais.
Edifício Cícero Prado
Outra obra que marca a arquitetura modernista em São Paulo é o Edifício Cícero Prado, localizado no bairro Campos Elíseos. O condomínio possui três blocos, com apartamentos que variam de 90 m² a 160 m².
Nesse projeto, Warchavchik não utilizou apenas o estilo modernista. Também é possível observar curvas esculturais, que remetem ao estilo expressionista alemão. Percebe-se, assim, uma mescla de inspirações para a composição da obra.
Atualmente, o prédio segue sendo residencial, com os apartamentos servindo de moradia para diversas famílias.
Para quem trabalha com arquitetura ou é amante da área, conhecer sobre a história de grandes nomes — que ajudaram a, literalmente, construir o segmento como vemos hoje — é muito interessante. Esperamos que você tenha gostado deste conteúdo sobre Gregori Warchavchik.
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