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Morando em Berlim desde 1985, Francis Kéré nunca se esqueceu das origens em Burkina Faso (Foto: David Heerde)
Morando em Berlim desde 1985, Francis Kéré nunca se esqueceu das origens em Burkina Faso (Foto: David Heerde)

Francis Kéré: a arquitetura comunitária e sustentável do vencedor do Prêmio Pritzker

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18.03.2022
O 51º ganhador do Prêmio Pritzker de Arquitetura fez da sua carreira um compromisso com o seu povo de origem. Saiba um pouco mais sobre Francis Kéré!
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O Prêmio Pritzker de Arquitetura 2022 já tem seu vencedor. Em 15 de março, o ativista social, educador e arquiteto africano Francis Kéré recebeu a consagração por um trabalho desenvolvido há anos em comunidades tanto em Burkina Faso, sua terra natal, quanto em Berlim, a cidade que ele adotou desde 1985.

Para ouvir o artigo completo, clique no play abaixo:

Considerado o Nobel da Arquitetura, o Prêmio Pritzker chegou à sua 51ª edição. O que se destaca, porém, é que Kéré é o primeiro arquiteto negro a vencê-lo. E, como é de se imaginar, essa conquista veio com muita luta. Ele fez de sua carreira uma retribuição material por todo o apoio emocional que sua aldeia lhe proporcionou.

Conheça um pouco mais sobre a vida e a obra do arquiteto!

História de Francis Kéré

Francis Kéré em 2019 (Foto: © Astrid Eckert)

Diébédo Francis Kéré nasceu na vila de Gando, em Boulgou, Burkina Faso, em 1965. Seu pai era o líder da comunidade e queria que seu filho aprendesse a ler e a traduzir suas cartas.

Portanto, ele se tornou a primeira criança da aldeia a estudar. No entanto, como não havia escola na região, o menino teve que ir morar com o tio aos sete anos na cidade.

Após concluir os estudos, Kéré virou carpinteiro. Depois, conseguiu uma bolsa de estágio na Carl Duisberg Society, instituição com programas educacionais voltada a países em desenvolvimento.

Essa oportunidade o levou para a Alemanha, em 1985, onde ele começou a estudar arquitetura na Universidade Técnica de Berlim.

Obras de Francis Kéré

A seguir, conheça as principais criações de Francis Kéré, tanto em Burkina Faso quanto em outros lugares do mundo.

Escola primária de Gando

Extensão da escola primária de Gando. O projeto fez tanto sucesso que não havia vagas suficientes para os alunos (Foto: GandoIT)

Gando é uma aldeia localizada em Burkina Faso, o sétimo país menos desenvolvido do mundo, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2019.

Entre os 189 países pesquisados, Burkina Faso ficou em 182º lugar, empatada com a Eritreia.

Os 3 mil habitantes de Gando vivem em cabanas de barro com telhados de zinco ou palha. Eles não têm acesso a água encanada ou a eletricidade. A taxa de alfabetização permanece abaixo da média nacional de 25%.

Ainda durante a faculdade, Francis Kéré sentiu que deveria retribuir à família e à comunidade tudo aquilo que havia conquistado.

Em 1998, com a ajuda de seus amigos, ele criou a associação Schulbausteine ​​für Gando e.V. (agora chamada Fundação Kéré), nome que pode ser traduzido como "Blocos de Construção para Gando".

A iniciativa nasceu com o objetivo de construir a primeira escola primária de Gando. Para isso, ele combinou os conhecimentos adquiridos na Alemanha com os métodos tradicionais de construção de Burkina Faso.

Abrigo para professores em Gando, Burkina Faso, projetado por Francis Kéré (Foto: GandoIT)

A primeira escola primária foi concluída em 2001.

Ela foi construída com tijolos de barro, algo que despertava o ceticismo da comunidade. Havia uma preocupação de que a matéria-prima não tivesse capacidade de resistir às chuvas.

Mas o design inovador de Kéré forneceu a solução. Um amplo telhado de zinco elevado protege as paredes da chuva e permite que o ar circule por baixo para manter o edifício fresco.

Por isso, a construção proporciona um conforto térmico muito maior que as outras escolas de Burkina Faso, feitas de concreto.

Um fato interessante é que a escola acabou se tornando seu projeto de conclusão de curso, em 2004. A iniciativa foi reconhecida internacionalmente com o Prêmio Aga Khan de Arquitetura do mesmo ano.

Escola secundária Lycée Schorge

Obras da Lycée Schorge (Foto: Iwan Baan)

Localizada na terceira cidade mais populosa de Burkina Faso, a Escola Secundária Lycée Schorge é composta por nove módulos dispostos radialmente em torno de um pátio, protegendo o espaço central do vento e da poeira.

Suas paredes são construídas com pedra de laterita de origem local, o que lhes confere um tom profundo de vermelho.

Quando extraída da terra, a laterita pode ser facilmente cortada e moldada em tijolos, que são então deixados ao sol para endurecer.

O material fornece uma excelente fonte de massa térmica, absorvendo o forte calor diurno e irradiando-o à noite.

Uma fachada secundária transparente, feita de madeira de eucalipto local, envolve as salas de aula, criando diversos espaços com luz e sombra.

O teto das salas de aula é feito de abóbadas de gesso perfurado, que difunde a luz solar indireta para melhorar a qualidade da iluminação, mas evita o calor causado pela radiação direta.

Torres eólicas localizadas na parte de trás de cada sala de aula permitem que o ar quente escape, ajudando a diminuir ainda mais a temperatura interna.

Para minimizar os custos e reduzir o desperdício de material, os móveis da escola são feitos de madeiras de lei locais e sobras de aço da construção do telhado.

Outros trabalhos de destaque

Serpentine Pavillion, em Westminster, Londres (Foto: Images George Rex)

Após anos defendendo uma arquitetura comunitária e sustentável em Burkina Faso, em 2005 Francis Kéré abriu o seu primeiro escritório na Alemanha, o Kéré Architecture.

Atualmente, ele transita por Burkina Faso, África e Europa, com pavilhões e construções em países como Alemanha, Dinamarca, Estados Unidos, Itália, Reino Unido e Suíça.

Sua carreira é marcada pela construção de escolas, hospitais, centros de saúde, abrigos para médicos, instalações para o Coachella e muito mais. Em 2017, Kéré se tornou o primeiro arquiteto africano a projetar um painel temporário no Hyde Park, em Londres.

Prêmios de Francis Kéré

Instalação para a exibição Sensing Spaces, Architecture Reimagined, na Royal Academy of Arts (Foto: dvdbramhall)

Francis Kéré é a primeira pessoa negra a vencer o Prêmio Pritzker.

Segundo Tom Pritzker, presidente da Hyatt Foundation, patrocinadora do evento, o arquiteto conquistou a premiação pelo pioneirismo de seus desenhos, que são "sustentáveis para a Terra e para seus habitantes em terrenos de extrema escassez".

No entanto, o que mais se percebe, das palavras às obras, é a dedicação em retribuir o que Burkina sempre lhe proporcionou: uma família. Kéré resolveu cuidar daqueles que, quando criança, cuidaram dele.

"Eu cresci em um local onde não havia jardim de infância, mas a comunidade era sua família. Todos cuidavam de você e a vila inteira era seu playground. Meus dias eram preenchidos com a garantia de comida e água, mas também de estarmos juntos, conversando, construindo casas. Lembro-me do quarto onde minha avó se sentava e contava histórias com um pouco de luz, enquanto nos aconchegávamos e sua voz nos envolvia, convocando-nos a chegar mais perto e formar um lugar seguro. Esse foi o meu primeiro sentido de arquitetura", contou Kéré para o Prêmio Pritzker.

A carreira de Francis Kéré foi para a frente quando pessoas ao seu redor reconheceram o valor do seu trabalho. A Portobello sabe dessa importância. Por isso mesmo, quer valorizar os novos talentos. Conheça o programa Portobello+arquitetura!

Foto de destaque: Morando em Berlim desde 1985, Francis Kéré nunca se esqueceu das origens em Burkina Faso (Foto: David Heerde)

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