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O arquiteto Rodrigo Ohtake fala sobre sua família e o futuro do escritório em conversa (Crédito: Diego Madruga)

Família Ohtake: em podcast, Rodrigo Ohtake fala de legado e inspiração

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27.07.2022
Em entrevista para o Podcast Archtrends, Rodrigo Ohtake fala sobre sua carreira, a família Ohtake e parceria com a Portobello
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Antes mesmo dele precisar, o sobrenome de Rodrigo Ohtake já o apresenta. Neto de Tomie Ohtake, artista plástica pioneira do abstracionismo informal, filho do arquiteto Ruy Ohtake e sobrinho do também arquiteto Ricardo Ohtake, ele faz parte de um clã fundamental para o reconhecimento da arte e arquitetura brasileira, a família Ohtake. 

Neste ano ele uniu o seu escritório ao do seu pai, falecido no ano passado, e segue conciliando a carreira de arquiteto com a de designer e curador. No Podcast Archtrends, Rodrigo fala um pouco sobre sua carreira, continuação do legado da família e a parceria de longa data da Portobello com sua família.

Rodrigo bateu um papo com a equipe do Archtrends (Crédito: Diego Madruga)

Dinastia Ohtake

Dada a dimensão da família Ohtake, fazer parte desse círculo, bem como seguir a mesma carreira do seu pai e tio, pode ter algum peso. Entretanto, quando questionado sobre como é ser um membro da família Ohtake, Rodrigo é apenas sorrisos. 

“Tem sido um privilégio muito grande. É um sobrenome conhecido e isso deve-se a um trabalho muito árduo, que começou com a minha avó, que pintou por 70 anos, passou pelo meu pai, meu tio… Enfim, ser um Ohtake sem dúvida alguma me trouxe acesso ao conhecimento deles, e isso é uma coisa inestimável.”

As raízes orientais também são um fator determinante para que Rodrigo valorize sua ancestralidade. Não por acaso, no seu escritório, que hoje chama-se apenas Ohtake, a primeira coisa que se vê é uma das 30 obras icônicas de Tomie Ohtake.

Com a avó, ele conta que aprendeu o que é mais valioso: acreditar na sua intuição. “A intuição ocorre em uma fração de segundos. Se eu falar agora, por exemplo, imagina uma casa, você tem uma casa na sua mente na hora. Isso é ser intuitivo."

Para Rodrigo, a intuição existe para que possamos sair do campo racional e alcançar o lado mais lúdico. A partir disso, é possível criar uma obra única e particular. “Mas o resultado também está atrelado a toda a bagagem e referências que criamos ao longo da nossa vida”, completa.

Com o seu pai, Ruy, o aprendizado era ainda mais contínuo “Com meu pai teve muita troca sobre tudo: arquitetura, visão de mundo, ética. Inclusive estudei na mesma faculdade (FAU-USP) que ele.”

Para além das conversas e reflexões, o patriarca é um dos grandes responsáveis por treinar o olhar criativo de Rodrigo. Ele comenta que, quando tinha por volta de 12 anos, seu pai começou a chamá-lo para viajar sempre que precisava fazer palestras mundo afora - tarefa essa que era uma ocupação muito querida por Ruy, segundo Rodrigo. 

Durante as viagens, eles prolongavam a estadia para que pudessem aproveitar o local. “Em um desses passeios ele parou na frente da Sagrada Família e perguntou ‘Qual você acha que é o pé direito daqui?’ e era sempre assim, ele sempre fazia essas provocações.”

Passaram-se mais de 20 anos para que Rodrigo percebesse que aquelas atitudes eram muito mais do que simples provocações. Na verdade, era um treinamento para o olhar. “Meu pai considerava que quem trabalha com criação precisa ter um olhar muito atento, 24 horas por dia, inclusive dormindo. Ele dormia com um caderno na cabeceira e eu, mais moderno, durmo com um ipad ao lado”, brinca.

Inevitável que não ocorra algum tipo de comparação de Rodrigo com seu pai. Mas essa não é uma questão para o arquiteto. “Eu sinto muito a sensação de que ‘se der certo, é porque ele é filho do Ruy. Se não der, também é porque ele é filho do Ruy’, mas hoje me sinto muito tranquilo em relação a isso.”

Construção da carreira

A escolha de profissão também foi um dos temas que permeou a conversa. Além do pai e do tio, sua mãe, Silvia Vaz, também é arquiteta. Para Rodrigo, a escolha foi muito fácil - na verdade, quase natural. “Quando eu tinha seis anos eu já falava que queria ser arquiteto e guitarrista. Nunca disse que não seria arquiteto”, diz entre risadas.

Entretanto, segundo ele, essa pergunta nunca veio do seu pai nem da sua mãe, apesar de ambos sentirem sua pré-disposição. “Eu lembro que, na época do colégio, todos os meus amigos fizeram teste de aptidão para descobrir qual vestibular eles iriam prestar. O meu, claro, deu somente uma opção: arquitetura.”

Desde a entrada no curso de arquitetura e urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), passaram-se quase 10 anos. Nesse meio tempo, Rodrigo projetou mais de 60 obras, colaborou com arquitetos importantes como Mario Biselli, Alvaro Puntoni e Patrick Jouin, foi curador de exposições, como o ciclo de mostras promovido pelo Instituto Tomie Ohtake entre 2011 e 2013, e participou da edição de livros sobre obras icônicas, como “Oscar Niemeyer: 100 anos, 100 obras”.

Quando perguntado qual é o segredo para tamanha inspiração, Rodrigo é categórico: não ser monotemático. “É muito importante ter outros interesses. A minha inspiração não vem só da arquitetura, vem muito do campo das artes”. Ele é casado com a curadora de arte Ana Carolina e isso faz com que sua presença nas exposições de arte seja constante.

Mas o campo de interesses de Rodrigo não para por aí. “Eu gosto muito de coquetelaria, adoro sentar em um bar, em uma posição onde consiga enxergar o processo do bartender criando um drink. O processo é algo que me interessa muito, em todos os âmbitos”. No mais, o arquiteto pontua que a curiosidade também é determinante para a profissão que ele escolheu.

Rodrigo também comentou sobre uma das questões mais discutidas na profissão: se um arquiteto precisa mesmo saber desenhar muito bem. “Meu pai sempre dizia que a qualidade no desenho não implica no quão realista ele é, mas sim no quanto ele expressa. Eu concordo muito! Quando você já tem a ideia, aquilo precisa sair de você de alguma maneira, seja através do desenho ou de outra forma, como no uso das novas tecnologias na arquitetura.”

Perguntado se ele acredita ter dado certo nessa profissão, Rodrigo reflete sobre esse conceito. “O dar certo é um pouco momentâneo. Para mim, dar certo é conseguir fazer obras relevantes. e o relevante pode ser uma casa para uma família, pode ser uma obra relevante para a minha carreira, para uma cidade ou até para a história da arquitetura.”

Ele completa dizendo que deseja chegar no momento em que fique evidente nas suas obras que, apesar das influências, aquela é a arquitetura do Rodrigo Ohtake, autoral. “Eu acho que ainda não cheguei nesse ponto. Por mais que eu tenha mais de 60 obras construídas, acho que só vou chegar nesse nível daqui uns 20 anos. E isso trabalhando muito, fazendo muitos projetos. Mas ainda posso dizer que não cheguei na minha linguagem. Pra mim, eu não dei certo nesse sentido, ainda”, completa.

Futuro do escritório Ohtake

O escritório de Ruy Ohtake sempre foi conhecido por promover obras públicas. Nesta nova fase, Rodrigo garante que vai continuar esse legado. “No momento, eu estou tendo reuniões com prefeituras de cidades e tentando emplacar alguma obra pública, seja parque, teatro, centros culturais etc. Essa é a identidade do escritório.”

No entanto, o arquiteto não esconde a sua paixão por projetar casas. “Se eu eu pudesse sempre fazer uma casa, eu estaria muito contente, porque o ‘morar’ é um desafio muito grande na arquitetura.”

Tanto a arquitetura de Rodrigo, como a de Ruy, são conhecidas pela generosidade que aplicam nos espaços em comum das residências. Quando abordado sobre esse ponto, o arquiteto justifica. 

“No fundo, a gente faz arquitetura para as pessoas, para promover o encontro das pessoas. O que vai na contramão dos lançamentos residenciais dos últimos 20, 30 anos…. Em que você vê apartamentos de 100 m², com duas suítes enormes e mal se fala do tamanho da sala, que no fundo é o mais importante da casa.”

Família Ohtake e Portobello

Na 3ª edição da Mostra Unlimited da Portobello, Rodrigo foi convidado (ou desafiado) a fazer uma maquete com escala 1:10 (para parâmetro de comparação, a escala normal costuma ser por volta de 1:100) utilizando as Lastras Portobello da linha Oh!take, criada em parceria com o seu pai. O resultado foi o inconfundível Apartamento Escultórico.

Maquete do Apartamento Escultórico feito somente de lastras (Projeto: Rodrigo Ohtake)

O desafio era grande, tendo em vista a principal característica da arquitetura dele. “Foi um projeto que desafiou projetar as curvas Ohtakeanas com lastras. No final, eu fiz um apartamento cheio de curvas: parede, sofá, cama etc”. A solução para isso foi cortar as lastras em tiras.

A partir disso todo o apartamento foi composto por Lastras Oh!take, desde o acabamento até a cama, sofá e mesa de centro. Segundo ele, sua intenção era mostrar a versatilidade do produto, até mesmo nas cores. “Usamos seis cores para mostrar que há uma harmonia e que a escolha das cores não é meramente intuitiva”.

A construção dessa maquete é simbólica e quase poética. Mostra que mesmo carregando todas as influências que recebeu durante toda a vida, Rodrigo é o responsável por desenvolver o seu próprio estilo de projetar.

Ouça também o episódio do podcast Archtrends com o arquiteto Marcelo Rosenbaum falando sobre design e transformação.

Imagem principal: O arquiteto Rodrigo Ohtake fala sobre sua família e o futuro do escritório em conversa (Crédito: Diego Madruga)

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