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A força do ESG na arquitetura

Casa Aqua mostra que é possível aliar estética, design, funcionalidade e ecoeficiência (Foto: CASACOR)

A casa da gente é o nosso lugar no mundo. Grande ou pequena, com um ou dois quartos, dentro de um condomínio ou não, é o nosso universo particular. E já que estamos falando em mundo, você já parou para pensar que o nosso lar também pode ser um agente de transformação para um planeta mais sustentável? Esse papo pode soar como coisa de eco-chato, mas na Menos1Lixo garantimos que não. Afinal de contas, a sustentabilidade vem ganhando cada vez mais espaço globalmente e, claro, a arquitetura não fica de fora dessa.

Hoje, quando o assunto é sustentabilidade, um dos pilares mais discutidos é o ESG. Você provavelmente já ouviu falar nessa sigla, mas se não souber o que de fato significa é só seguir na leitura. 

Afinal, o que significa contemplar a sigla ESG na arquitetura?

Uma das técnicas que mais vêm crescendo no campo da arquitetura é o conceito ESG. O termo foi cunhado em 2004 num relatório feito pelo Pacto Global, braço da Organização das Nações Unidas (ONU). A sigla do inglês significa Environmental, Social and Corporate Governance, e é utilizada para referir-se à governança  ambiental, social e corporativa, em tradução livre, aplicados a empresas e instituições. Para se ter ideia, em 2021 o interesse em ESG bateu recorde no país; ou seja, nunca os brasileiros buscaram tanto pelo assunto quanto no último ano. Não é pra menos, já que, ao incentivar boas práticas nesses três campos, esse tripé proporciona impactos pra lá de positivos e maior credibilidade às corporações que o levam a sério, por meio da responsabilidade socioambiental e de uma governança empresarial eficaz e justa.

A arquitetura está diretamente relacionada com a construção civil, que pode proporcionar impactos ambientais negativos ao planeta. A pergunta que fica é: como mudar esse cenário? Sim, é possível fazer diferente, e a tecnologia tem ajudado através de novas alternativas que evidenciam que modelos extrativistas lineares estão fora de lógica. O Brasil, por exemplo, é o 4º país que mais cresceu em 2021 no setor de energia solar fotovoltaica

Se abrir para o universo do ESG na arquitetura é uma oportunidade. 

Fato é: a construção de qualquer projeto de arquitetura exige uma gestão atenta para se tornar de fato sustentável. Assim, as práticas corporativas do conceito ESG podem inspirar profissionais dessa área, e de várias outras, a terem um controle maior de prevenção à impactos negativos socioambientais. Se colocarmos na balança, que, de acordo com especialistas climáticos a serviço da ONU, o mundo só tem três anos para começar a derrubar emissões de CO2, ou perde a chance de aquecer menos que 1,5°C, tudo isso se torna ainda mais urgente.

Natana Angheben Eitelven, arquiteta e paisagista pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), se especializou em criar ambientes em que a natureza reafirme o seu poder na vida dos seres humanos. Para ela, não dá mais pra produzir sem pensar no antes e no depois, está tudo interligado. Pensando nisso, a arquiteta nos deu algumas dicas de como trabalhar os três pilares do ESG na arquitetura na prática. Confira abaixo. 

ESG na arquitetura
Natana em um dos seus momentos de pesquisa e inspiração do jeito que ela mais gosta: imersa na natureza (Foto: arquivo pessoal)

Ambiental (environmental)

A indústria da construção é um dos setores com maior potencial para reduzir significativamente a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa e, nesse pilar, o conceito ESG pode ser aplicado no campo da arquitetura por meio de práticas sustentáveis como:

Social

No âmbito social, o conceito ESG alerta sobre a importância de aspectos como direitos humanos, relações saudáveis de trabalho, diversidade entre os colaboradores, equidade, além de relações com a comunidade e claro, investimento em projetos sociais. 

A verdade é que o reflexo de uma arquitetura com mais sustentabilidade, atenta não só à edificação, mas também ao entorno dela, reflete na sociedade de uma forma muito positiva. Quer um exemplo?

ESG na arquitetura
Projeto mostra que sim, é possível construir visando também o entorno da edificação (Foto: Siméon Duchoud)

O projeto nasceu a partir do olhar regenerativo e inquieto de Francis Kéré. Quando criança, o nativo de Burkina Faso, país africano, viajava cerca de 40 quilômetros até a aldeia mais próxima para ir à escola, com má iluminação e ventilação. Quando decidiu estudar arquitetura na Europa, ele investiu o seu conhecimento para a construção de uma nova escola, trazendo uma lente otimista e propositiva para a sua aldeia natal.

O sucesso da Escola Primária se deve à otimização de resultados com mínimos recursos disponíveis. Uma construção híbrida de argila e lama foi levantada primeiramente, já que o primeiro item é abundante na região. A construção também conta com uma técnica de barro tradicional conhecida como ‘tijolos de argila’, material que tem a vantagem adicional de ser barato, fácil de produzir e também fornece proteção térmica contra o clima quente do país. O telhado da escola foi projetado para fora do espaço das salas de aula e um teto de argila perfurado com ampla ventilação foi introduzido. Esse teto de tijolos empilhados possibilita a ventilação máxima, proporcionando ar fresco e liberando o ar quente pra fora através do teto perfurado. Logo, a pegada ecológica é muito reduzida, uma vez evitada a necessidade do uso de ar-condicionado. Você concorda que esse é um baita exemplo de enxergar a construção e o seu entorno?

Governança corporativa (corporate Governance)

Quando o assunto é governança, o estímulo é para o cumprimento de obrigações fiscais e legais, transparência, e algo pra lá de importante para o campo da arquitetura: gestão de riscos e de crises. 

Só no Brasil, cem milhões de toneladas de entulho são descartadas anualmente. Então, quanto melhor pensado for o projeto e quanto mais interdisciplinares forem as equipes, maiores serão as chances de reduzir esse impacto. 

E você sabe qual é a importância disso? Resíduos de demolição compõem surpreendentes 90% do total de detritos, e grande parte desses resíduos é descartada em aterros ou por meio de incineração. Ambos os métodos prejudicam o planeta. 

Quanto mais compatibilidade entre os times de arquitetura e engenharia, os fornecedores e todos os envolvidos na edificação, menores serão as chances de desperdício e grandes erros que resultem em custos e degradação ao meio ambiente.

A mensagem que fica aqui é: o conceito ESG tem grande importância no campo corporativo por separar quem contribui para a preservação do meio ambiente de quem ainda não despertou para o assunto mais importante da atualidade.

Empresas e negócios são a engrenagem do sistema e podem sim mudar o mundo. Um novo futuro corporativo é essencial para um futuro mais justo, e é muito mais fácil do que parece participar da construção dele. Bora fazer a diferença? 


Por João Espingarda - @joaospng

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