Escritório em Brasília aposta no trabalho officeless para atender clientes ao redor do mundo
A experiência da vida em Brasília, percorrendo os espaços nos parques da SQS 308, do paisagismo e urbanismo da cidade planejada, que se transformam em locais de brincar e do viver o Núcleo de Vizinhança, proposto por Lúcio Costa, inspiraram Suyene Riether Arakaki a escolher a arquitetura como profissão.
Aos 20 anos de carreira, nove deles a frente do escritório TODO Arquitetura, ao lado da sócia Nazareth Pinheiro, com a colaboração do arquiteto Pedro Artur Silva, Suyene dedica boa parte do seu tempo aos projetos comerciais e residenciais. Para a profissional, é extremamente importante estar atenta a evolução da internet e das relações proporcionadas pelas mídias digitais, prova disso é que o seu escritório funciona em formato chamado officeless. Uma espécie de trabalho remoto, que permite a conexão entre profissionais em todo o mundo.
O escritório passou a viver a experiência officeless há apenas 10 meses. O movimento foi estruturado basicamente no conceito da autonomia das relações de trabalho. Tem vantagens como a redução de custos fixos, flexibilidade de locação, que pode ser home office ou em qualquer outro lugar. “Podemos trabalhar com pessoas de todas as partes do mundo. Mas, para chegarmos aqui tivemos que ter estrutura física durante muitos anos, equipe sempre ao lado, e fomos desmaterializando toda essa parte concreta. Isso nos permite voar mais longe”, pondera.
Atualmente, as reuniões de projetos com clientes são realizadas em cafés, coworkings – modelo de trabalho que se baseia no compartilhamento de espaço -, ambientes colaborativos, ou no próprio local da obra, o que de acordo com Suyene, tem dado muito certo. “É ótimo quando podemos ter essa liberdade, e ajuda no sentido de estarmos em contato com pessoas diferentes. Aumenta nosso networking e enriquece o processo de criação. Também é interessante em relação aos colaboradores, que podem ser contratados a partir da demanda”, completa.
Projetos
O escritório se voltou há aproximadamente três anos para trabalhos com abrangência maior, como escolas e projetos comerciais. É investida muita energia e dedicação a cada um deles, de maneira que sentiu-se necessidade de atingir mais pessoas com o trabalho, de aumentar o impacto positivo da arquitetura, levando essa experiência para um público maior. Foi o que aconteceu com projeto da escola de inglês Bilingual Adventure - da Casa Thomas Jefferson -, no Lago Sul, em Brasília.
Suyene explica que a cidade foi o cenário de descobertas, a partir da qual são exploradas as atividades da vida cotidiana. O urbanismo de Brasília se revelou através das vias de circulação interna da instituição, que distribuem as crianças nas várias estações de conhecimento. Alguns desembarcam no setor de alimentação e experimentam não apenas as texturas, gostos e temperos, mas também os sabores dos números que compõem uma receita especial ou o peso dos ingredientes. Outros desembarcam no setor de áreas verdes e descobrem todo sistema estrutural contido nas asas de uma libélula ou em como as aranhas fazem suas teias. E assim, seguem despertando para o mundo, experimentando a vida em cada estação.
As cores do projeto também foram pensadas a partir da paisagem de Brasília, a cor da terra, a cor do céu, das fachadas dos prédios. E as salas de aprendizagem tiveram as cores dos ipês, para que as crianças floresçam assim como as árvores. Por isso, as profissionais escolheram para as áreas molhadas as cores vibrantes do revestimento Liverpool – Portobello -, pois a proposta era que as cores fortes desse porcelanato estivessem alinhadas com o conceito do projeto.
Arquitetura e Solidariedade
O trabalho do escritório tem como diretriz a preocupação com o usuário e uma atenção grande na execução, com a viabilidade técnica do projeto, para que o sonho saia do papel e se torne realidade, afinal arquitetura é obra construída. “Todo esse contexto fica impresso em nossas memórias e influenciam o trabalho da gente. Acredito fortemente no detalhamento executivo como ferramenta poderosa de projeto”, diz Suyene.
Ter um pensamento mais humano e um desejo de trabalhar com foco no usuário final, que muitas vezes é esquecido, surgiu a partir de um trabalho voluntário realizado em 2014, quando foi criado o projeto chamado Fábrica de Brinquedos. Como dizia Fernando Sabino: “Liberdade é o espaço que a felicidade precisa”. O encontro com a felicidade não é uma descoberta e sim uma construção. O TODO acredita na arquitetura como ferramenta de transformação do homem. Por isso, os profissionais planejaram uma tarde de troca de sorrisos num orfanato onde a ideia foi plantar uma sementinha de autoestima nas crianças e assim, empoderá-las com a capacidade de realização, por si mesmas, das mudanças que as permitissem crescer e reescrever a própria história.
“Pré-montamos uma cidade com caixas de papelão, decoradas com muito grafite e imaginação. Cada criança escolheu o que desejava ser nessa cidade de sonhos: casas, prédios, carros, aviões e passaram a ser um cenário vivo, criando o seu próprio personagem”, e completa, a Fábrica mudou o escritório, redirecionou nosso percurso, e percebemos que a essência da arquitetura é servir. Servir à sociedade. Com isso, incluímos nas nossas rotinas de projeto mais pesquisas na etapa inicial, muitas vezes com o próprio usuário final, para entendermos melhor as suas necessidades”, conta com orgulho Suyene.
Experiência profissional
Suyene é Arquiteta e Urbanista graduada pela Universidade de Brasília, em 1997. Especializada em Interior Design pelo Instituto Europeo di Design em Milão - Itália, em 1997. Mestre em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília – UnB, concluído em 2012. Associou-se, em 1997, ao arquiteto Sérgio Roberto Parada, colaborando na empresa, na condição de coautora em diversos projetos, dentre os quais destacam-se o Aeroporto Internacional de Brasília, Edifício SIVAM - Sistema de Vigilância da Amazônia-, Terminal de Cargas do Aeroporto de Manaus e o Edifício Garagem de Congonhas, em São Paulo. Participou de mostras nacionais e internacionais de arquitetura e urbanismo.
Participou como coordenadora dos concursos públicos nacionais de projetos promovidos pelo IAB/DF, para Passagens sob o Eixão e Brasília: Território e Paisagem, para os Estudos Preliminares de Arquitetura e Paisagismo para o Parque Urbano e Vivencial do Gama e para o Parque Ecológico Canela de Ema, em Sobradinho II, Distrito Federal. Possui ainda artigos publicados na imprensa especializada. Atua também como professora, desde 2004, no Centro Universitário de Brasília - UniCeuB nas disciplinas de Projeto de Arquitetura, Desenho, Sistemas Estruturais e Projeto de Diplomação, e na Pós Graduação do IPOG, atuando nas disciplinas de Compatibilização de Projetos e Gerenciamento de Projetos e Obras.