Visitar Milão durante o Salão do Móvel é sempre uma oportunidade de perceber como o design traduz contextos e comportamentos, que, ao final, definem o que as pessoas desejam para si e seus espaços.
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O longo período da pandemia e a atual desaceleração da economia global transformaram o consumidor e, consequentemente, também o mercado de home design.
A pandemia reconectou as pessoas com a natureza e com a casa, ressignificando as formas e materiais das áreas externas, que ganharam protagonismo, e internas, mais aconchegantes. Esse movimento decretou o fim do minimalismo e das linhas retas, fazendo emergir formas orgânicas e volumes generosos, com superfícies cheias de texturas e relevos, cartela de cores terrosas, pontuadas por verdes e azuis, além de materiais naturais como fibras e argilas.
Uma história que já conhecemos, mas que evoluiu e vale observar em que direção.
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Adicionando o contexto econômico, quando os clientes estão mais seletivos com o consumo, o mercado fica mais pragmático e repercute em ações, produtos e experiências mais objetivas e comerciais.
E as marcas traduziram em design essas variáveis, que não são as únicas, mas arrisco fazer essa simplificação para identificar e compreender as “tendências” da Semana de Design de Milão 2023.
As formas, materiais, cores e texturas continuam mimetizando a natureza, tendência ainda em ascensão, mas de forma mais elaborada, e colocando o cliente - aliás, prefiro, colocando as pessoas - no centro das decisões. E as pessoas querem conforto, aconchego, praticidade e funcionalidade para viverem com mais intensidade cada espaço. O modo automático deu lugar ao modo humano. Não significa abrir mão da tecnologia, mas subordiná-la ao ser humano.
As formas orgânicas bem solucionadas e mais ousadas aparecem não só nos sofás, mesas e tapetes, mas também em bancadas e cubas de banheiros, na iluminação e nos cobogós e biombos - peças curinga que criam limites transparentes e se fizeram muito presentes.
As opções de texturas foram ampliadas, seja na escala de intensidade que vai dos micro relevos suaves aos volumes mais audaciosos, seja nos materiais como vidro, couro e bambu, além dos mais óbvios tecidos, madeiras, concretos, pedras, cerâmicas e metais.
O boucle ainda é onipresente, mas dividiram as vitrines com veludos e “pompons” em estofados e almofadas, combinados com tapetes cada vez mais fofos e espessurados.
A cartela de cores fez um mergulho nos jardins, trazendo tons de rosa como fúcsia e coral, além de sofisticar os tons metalizados com dourados mais claros e opacos e escurecer o inox e a prata. As cores primárias se mantiveram em uma proposta mais glossy, que incluiu a laca como destaque. Mas foi a cartela de crus e off whites em grandes áreas a novidade mais marcante da temporada e que, certamente, é uma proposta mais comercial.
Jardins e florestas estão dentro e fora dos ambientes, muitas vezes complementando a cartela de cores e fazendo dos vasos elementos importantes e que reafirmam as texturas, relevos e materiais da temporada. Paola Lenti é mestre nesse ponto e a Flexform também criou um clima perfeito em seu stand.
A tecnologia proporcionou interações e espetáculos, com destaque para o perfume personalizado na Moooi e as telas com imagens incríveis na Cassina.
Grandes marcas apresentaram experiências incríveis, transformando em oportunidade o momento econômico e com portfólios prontos para irem direto para os ambientes.
O Salone e o Fuorisalone nos deixam uma mensagem positiva e pulsante, colorida e ousada, mas, sobretudo, conectam de forma eficaz os negócios e o design.