Talvez este seja o texto mais duro e verdadeiro da minha coluna aqui no Archtrends. Mas, como referência no nicho de revestimentos e professora, me sinto na obrigação de ser honesta com você, arquiteto ou designer de interiores: a única pessoa travando a sua carreira e a sua vida, provavelmente, é você mesmo.
Sei que no dia a dia, gerenciando várias obras, lidando com inúmeras pendências e tarefas burocráticas, perdemos de vista que a maioria dos problemas em uma obra são causados por falhas técnicas que poderiam ser evitadas. É o caso de falta ou perda de material, atraso nos prazos, mão de obra ineficiente…
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E se eu te disser que seu trabalho pode ser muito mais tranquilo? Que viver no caos não é a regra para um arquiteto ou designer de interiores? Quando fortalecemos a base técnica, nosso crescimento é sustentável e a rotina mais prazerosa. O conhecimento é o ponto de partida para bons projetos, obras bem executadas e clientes mais satisfeitos com seu trabalho.
Se você ainda não está convencido que investir em educação é o caminho para evitar erros e frustrações, existem seis verdades que ainda precisam ser ditas!
1. Você terá que superar suas crenças limitantes
Em qualquer profissão, é natural deixarmos as nossas próprias vivências e experiências interferirem. Mas, na hora de especificar, faça um exercício de distanciamento e reflita: é caro para mim ou para o cliente?
Quanto mais tempo de carreira temos, mais difícil é nos libertarmos de crenças limitantes, quando, na realidade, não existe certo ou errado. Existe o melhor para o cliente e isso independe da sua opinião pessoal sobre o assunto.
Quando era consultora de vendas, eu perdi diversos negócios por especificar produtos que não condizem com a realidade do cliente. E quando falo da realidade, estou abrangendo desde a obra mais econômica até as de alto padrão.
Quantas vezes eu senti medo de colocar Lastras no projeto achando que o cliente não fosse conseguir pagar, quando na verdade era eu quem achava o produto caro?
Sair da minha bolha para entender o perfil do cliente na hora de especificar fez toda diferença em minha vida.
2. O Briefing Sensorial será a virada de chave da sua carreira
Superadas as suas próprias crenças limitantes, é hora de olhar para o cliente. Preste atenção, essa é a virada de chave para criar projetos que atinjam as expectativas do cliente e ainda impulsionem a sua carreira.
O briefing sensorial é um método que desenvolvi para especificar acabamentos de forma assertiva, conforme as necessidades, os sonhos e os desejos do cliente. Através de uma série de perguntas, conseguimos compreender a cultura, os hábitos, a rotina da casa e o quanto o morador está disposto a investir em revestimentos.
Conhecendo as características técnicas de cada revestimento, chegamos facilmente ao material que melhor atende àquelas demandas. Para isso, é importante ter muito claro quais são as prioridades daquela família. Se o cliente valoriza conforto visual e térmico, mas não está disposto a pagar muito, talvez a melhor opção seja um vinílico ou laminado, comparado ao piso de madeira, por exemplo. A escolha entre um ou outro perpassa outras questões, como conforto acústico e resistência a riscos. Onde quero chegar? Você só conseguirá criar o melhor projeto possível para aquelas pessoas quando se dedicar a conhecê-las e levá-las em consideração em cada etapa da obra.
3. Não adianta comprar material caro se não investir em mão de obra
Você sabia que as maiores patologias em obra vem na fase de assentamento? Muitas vezes. o cliente até está disposto a investir mais do que o planejado no revestimento, mas quer compensar o prejuízo economizando na mão de obra. Quem nunca?
Durante anos como vendedora de revestimentos, atendi muitos chamados de assistência técnica por conta de desplacamento ou trincas nos revestimentos. Em todos os casos, esses danos irreversíveis, que representam um enorme prejuízo para o cliente e para o arquiteto, poderiam ser evitados com a aplicação correta do material, uso de argamassa apropriada e contratação de mão de obra especializada.
Por isso, sempre digo: é preferível que o cliente invista em um revestimento mais simples, com menor valor por metro quadrado, mas possa ter a mesma qualidade nos insumos e na mão de obra, garantindo um resultado muito mais satisfatório.
4. A responsabilidade é sempre de quem acompanha e gerencia a obra
Você pode bater o pé, chorar, implorar… Mas as fabricantes de revestimento não irão se responsabilizar pelos prejuízos financeiros e físicos do seu cliente. E eles não estão necessariamente errados: essa é a sua responsabilidade como arquiteto, engenheiro civil ou designer de interiores.
Durante o levantamento inicial, quando coletamos todas as informações necessárias para os desenhos técnicos, especificações e planejamentos, é fundamental prever todas as causas de acidentes ou erros na obra, pois é você quem arcará com o custo disso caso o cliente resolva entrar na justiça.
Variação de temperatura, umidade, dilatação dos materiais, intensidade de tráfego e coeficiente de atrito são apenas alguns pontos a se observar durante a especificação. Entender que cada material é único e tem suas particularidades é fundamental para um projeto seguro.
Para além das regras básicas do bom senso, como “não especificar piso polido para o banheiro”, garantir a segurança do espaço e do cliente, proteção jurídica e prevenir problemas envolve uma série de normas técnicas e recomendações do próprio fabricante. Dominá-las exige muito estudo e aperfeiçoamento na área.
5. O rejunte sempre vai encardir
Quem me conhece sabe que sou uma grande defensora da franqueza, e isso também se aplica na relação profissional-cliente. Não adianta prometer mundos e fundos para o cliente se você sabe perfeitamente que não atenderá a essa expectativa.
Uma situação muito comum é a irritação do morador com o rejunte encardido. Para a especificação do rejunte, sempre recomendo averiguar com o cliente seus hábitos de higiene e rotinas de limpeza. Isso porque essa é uma questão que pega mais para uns do que para outros.
Se você imagina que este será um grande incômodo para o cliente, recomendo a aplicação do rejunte epóxi. Este produto à base de resina possui elevada resistência química e mecânica, além de ser extremamente impermeável e resistente a fungos e manchas, sendo o acabamento de melhor qualidade e o mais caro. Mas mesmo o rejunte epóxi pode encardir com o tempo e isso precisa ser dito, e repetido, para o morador. Assim, você garante que essa escolha não se voltará contra você no futuro.
6. O erro de cálculo começa na paginação
A falta de material é um dos principais motivos para atrasos na obra e, consequentemente, estresse na relação com o cliente. Para um projeto ser bem sucedido, você profissional de arquitetura não pode cometer erros no cálculo de revestimentos.
Mais do que uma regra pronta, esse cálculo começa pela paginação, um planejamento que estabelece como será o desenho do piso para guiar a instalação ou assentamento. Nela, definimos o ponto de início, o sentido e, então, chegamos ao melhor formato para aquele ambiente.
A escolha do melhor formato leva em consideração tanto a questão estética, como o melhor aproveitamento do revestimento, optando por um formato que exija menos recortes e perdas.
Paginação e formatos definidos, é possível calcular a quantidade de peças necessária para o assentamento. Neste processo, não esqueça de adicionar a porcentagem de perda conforme a paginação e o produto especificado. Infelizmente, a regra dos 10% não é válida para todos os casos. Em uma paginação espinha-de-peixe, por exemplo, as perdas variam entre 15 e 25%, uma escolha que acaba sendo mais cara para o cliente do que a paginação alinhada.
Ouvir verdades pode doer. Mas elas também são libertadoras! Um grande abraço e até a próxima coluna.