Culpa materna
No último mês abri uma nova (e grande) aba na minha vida. Lancei a PALMA, minha marca de cosméticos naturais, que estava desenvolvendo há dois anos. Preciso confessar que estou amando essa nova fase, uma vez que é a concretização de tudo que fiz nos últimos 10 anos de trajetória. Em meio a todo esse novo mundo, tive a feliz surpresa em me conectar, mais do que nunca, com mães empreendedoras. Com a experiência de quem já passa por isso há anos, elas vêm até mim com conselhos e dicas de como entrar nessa jornada de maneira mais leve, já que o empreendedorismo no Brasil não é fácil, e quando você é mãe fica mais difícil ainda.
Uma das coisas que entendi é que não dá tempo de fazer tudo que precisamos, simples assim. Então aprendemos a fazer coisas em velocidade relâmpago. Aquela ideia de marcar uma reunião exclusiva para falar das ações do marketing é uma utopia. A gente está no meio de um evento, apresentando a marca, com um bloco de notas aberto, pensando nas próximas divulgações e costurando parcerias. Ou é assim, ou não vai acontecer.
Para quem tem como característica o perfeccionismo, essa dinâmica é um verdadeiro desafio e traz muitos aprendizados. Durante anos achei que o meu perfeccionismo fosse uma virtude, afinal de contas saber fazer as coisas bem feitas me dava muito orgulho daquilo que colocava no mundo. Até que essa maneira de ser começou a me prejudicar e se tornar um grande problema. Estava constantemente ansiosa, em sofrimento, culpada ou envergonhada de algo que achava que poderia ter feito melhor, até perceber que o meu perfeccionismo era autodestrutivo, simplesmente porque a perfeição não existe.
Entendi que o perfeccionismo não significa conquistas saudáveis, mas sim movimento defensivo. Eu me escondia atrás dele pra ganhar aprovação e o meu medo de falhar era tão grande que não me permitia jogar de cabeça, corpo e alma na vida que me espera. E, principalmente, não desfrutava minhas pequenas conquistas. Ufa! Me sinto meio verborrágica, mas como é bom a gente compreender algo que levamos anos e anos de análise pra descobrir, não é mesmo? Desde que cheguei a essas conclusões, venho mudando (ou pelo menos tentando mudar) minha maneira de ser no mundo. Primeiro de tudo, atravessei a clássica "o que as pessoas vão pensar?" para "sou o bastante" e isso só foi possível cultivando o amor próprio e sendo generosa comigo mesma. E daí a vida te prega peças, pra que você coloque em prática tudo aquilo que aprendeu.
Na semana passada fui a São Paulo num bate-volta maluco fazer o lançamento da PALMA em um evento super bacana. Na volta para o Rio, estava no ônibus super feliz por ter realizado tanto naquela lua cheia e também por passar as próximas 6 horas com o pé pra cima, ouvindo podcasts, cochilando, olhando a estrada ou o que mais me desse na telha. Alô mães, o quão valioso é a gente ter todo esse tempo pra simplesmente não fazer nada!
Mas, logo no início da viagem, uma amiga me manda um vídeo com a minha filha fantasiada num palco e a legenda: "Uau, Marieta está arrasando no teatro". O que? Que apresentação é essa? Na mesma hora liguei para o meu companheiro, porque a aula sobre dividir responsabilidades eu já aprendi. Ele também não sabia de nada e nós simplesmente deixamos passar batido o email da escola avisando sobre a apresentação.
Toda aquela sensação de felicidade que eu sentia há minutos atrás tinha se escoado pela janela do ônibus e o autoflagelamento havia aparecido rapidamente. Como sou a pior mãe do mundo era tudo o que pensava. E então o autoconhecimento começou a surtir efeitos. Há um mês atrás eu teria me apegado a esse acontecimento e ignorado a alegria que estava sentindo dos últimos dias. Como se o universo tivesse me escutado - e o algoritmo também -, vim ouvindo a Elisama Santos falando sobre culpa materna no podcast Sinto que lá vem história.
Eu falhei porque o ser humano falha e as mães também… Mas isso não significa que sou uma mãe distante ou ausente. Cheguei em casa tarde da noite exausta e com saudade e me deparei com uma cartinha da minha filha na minha cama. No dia seguinte, na minha melhor versão de mulher imperfeita, pedi desculpas a ela e disse como havia ficado triste em perder a apresentação. E transformei a culpa em responsabilidade.
No dia seguinte, teve o Dia da Família na escola. Na falta de um, fomos os dois, eu e meu companheiro, e participamos ativamente da festa. Também dediquei a tarde para nós duas com o máximo de presença possível. Meus trabalhos seguiram acumulando, mas terão que esperar. E assim vamos equilibrando pratinhos e fazendo o que é possível. Estou quase escrevendo no espelho do banheiro a frase de Voltaire: "Não deixe o perfeito ser o inimigo do bom."