Uma das principais forças do design é o seu imenso potencial de transformação. E em um mundo em que ansiamos por soluções efetivas para novas e velhas questões, os jovens talentos trazem o espírito de renovação e inovação para a área. Nesse contexto, concursos e premiações focados em novos designers e suas criações funcionam como ótimas vitrines, dando boas pistas do que vem por aí.
Lançado em maio de 2018, fruto de uma parceria entre o Instituto Tomie Ohtake e a rede de lojas Leroy Merlin, o 1º Prêmio de Design Instituto Tomie Ohtake Leroy Merlin desafiou estudantes universitários e recém-formados, em qualquer área de atuação, a pensar propostas inovadoras envolvendo o design. Com o tema “Compartilhar” e aberta para todo o Brasil, a primeira edição da premiação registrou 127 inscrições e recebeu projetos relacionados ao desenho de produto, mobiliário, moda, interiores e paisagismo, entre outros seguimentos.
Juntando-se às já renomadas premiações realizadas pelo Instituto nas áreas de artes plásticas e arquitetura – Prêmio EDP nas Artes e Prêmio Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel, respectivamente –, e de olho na multidisciplinaridade, o Prêmio de Design aposta em um tema central e abdica de categorias e de uma formação específica para premiar propostas que pensem a relação do design com outros campos, como a arquitetura, a tecnologia e as ciências sociais.
A ideia é propor um diálogo entre diferentes especialidades e incentivar criações que possam solucionar questões sociais, políticas e urbanas da contemporaneidade, além de atender a novas demandas de tecnologias, equipamentos, publicações e mídias digitais.
O resultado desta primeira edição pode ser visto na exposição que fica em cartaz no Tomie Ohtake até o começo de março. Os 20 projetos finalistas vão de mobiliário a plataformas digitais, e seus criadores receberam R$ 5.000,00 para a produção dos protótipos que compõem a mostra e o catálogo do prêmio.
Anunciados na abertura da exposição, realizada no dia 23 de janeiro deste ano, os autores dos três projetos vencedores – o umidificador de ar criado por Rafael Alves Monteiro, a composteira de Julia Ries e a capa protética assinada pela dupla Ana Cristina Cabral Wasen e Heloísa Seratiuk Flores – foram contemplados com bolsas de estudo em cursos de design no exterior.
Em entrevista para o Archtrends, a curadora Priscyla Gomes fala sobre o Prêmio de Design Instituto Tomie Ohtake.
CS: O que levou o Instituto a criar essa premiação?
PG: O Instituto Tomie Ohtake vem há anos atuando fortemente no campo do Design, com uma série grande de exposições e de projetos educativos. Aliado a isso, o Instituto vem desenvolvendo premiações para jovens artistas, arquitetos, professores e, agora, jovens designers. É uma extensa trajetória de fomento das mais diversas produções buscando dar visibilidade ao que de mais novo tem sido produzido nesses campos.
CS: Como foi feita a escolha do primeiro tema? Por que “Compartilhar”?
PG: Quando definida a opção por tema anual que nortearia a chamada desses jovens estudantes universitários, realizamos uma série de pesquisas internas que pudessem levantar possíveis escopos. Foi escolhido o tema “Compartilhar”, que vem ganhando interpretação e leitura sob diferentes ênfases e problematizações no que tange à necessidade de uso de nossos espaços – sejam eles urbanos ou de menor escala –; ao aproveitamento e reutilização de nossos recursos, em sinergia direta com programas de sustentabilidade; ao uso cada vez mais frequente de plataformas e softwares on-line que permeiam nosso cotidiano, entre tantos outros exemplos. O tema também foi previamente desenvolvido em um Simpósio denominado “O Design do Contemporâneo”, realizado no lançamento desta edição. O simpósio trouxe uma série de convidados e especialistas que discorreram sobre a proximidade do tema a suas pesquisas e atuações.
CS: Trata-se de um prêmio de design, mas não exclusivamente para designers. Qual o papel da multidisciplinaridade no design do futuro?
PG: Em consonância com discussões recentes sobre a ampliação da definição do conceito de design, cada vez mais explorado e relacionado a outros campos de conhecimento, o Prêmio de Design abdicou do enfoque em diferentes categorias de premiação, mas ressaltando a proposição de um tema anual a jovens universitários, visando premiar a pluralidade de respostas que poderiam dele derivar. Dessa forma, o tema-desafio visou instigar soluções inovadoras que pudessem responder a questões contemporâneas problematizando nosso cenário social, político, urbano e habitacional, bem como demandas tecnológicas e novos equipamentos, publicações e também o âmbito das mídias digitais.
CS: Como foi o processo de curadoria desta edição? Que critérios foram usados na escolha dos finalistas?
PG: A escolha foi pautada por alguns requisitos norteadores: valorizar projetos que estivessem alinhados com o papel da multidisciplinaridade na concepção contemporânea de design; projetos que abordassem questões urgentes no que tange inserção, diversidade de gêneros, raça; além de projetos oriundos de diversos estados brasileiros, permitindo um amplo mapeamento de nosso território.
CS: A sustentabilidade, de modo geral, é uma das principais preocupações no mundo contemporâneo. Com o design não poderia ser diferente. Como os competidores pensaram essa questão?
PG: O tema sugerido na edição deste ano já fazia uma referência direta às preocupações vinculadas à sustentabilidade. Pensar os usos dos nossos produtos, seu descarte e reaproveitamento são essenciais ao entendimento de uma economia compartilhada. Inúmeros projetos inscritos tratam a sustentabilidade como um desafio, abordando desde o desenvolvimento de uma composteira industrial, a ser utilizada em pequenas e médias residências, a pontos de ônibus com tetos-verdes, pensando uma nova possibilidade de mobiliário urbano.
CS: Os três vencedores serão contemplados com bolsas de estudo em cursos de design no exterior. Quais serão os cursos e em que instituições? Como foi feita essa escolha?
PG: Foram definidas três instituições renomadas com cursos livres voltados a áreas de pesquisa e interesse dos estudantes vencedores. Nessa seleção constam a University Of The Arts London e o Istituto Europeo di Design (com sedes em Barcelona e em Florença). A escolha dos cursos baseou-se num levantamento minucioso de pontos que poderiam auxiliar no desenvolvimento da pesquisa já em processo, abrindo o escopo da atuação desses profissionais.
CS: Foram 127 inscrições, de estudantes e recém-formados, de 16 estados brasileiros. Entre os projetos selecionados temos, por exemplo, uma proposta de dispositivo de mediação entre museu e cidade, um projeto de um livro e um projeto de módulos para compartilhar. O resultado atendeu às expectativas?
PG: Sim, a diversidade de projetos era desde o princípio uma das principais diretrizes do Prêmio. A concepção envolveu a possibilidade de tratar de propostas e trabalhos muito distintos, mas que trouxessem densas reflexões ao campo do design.
CS: Quais os planos para a próxima edição?
PG: Partiremos de uma conversa com o júri deste ano, buscando um balanço das inscrições e listando alguns desafios para o próximo ano. A ideia é realizar, a cada edição, uma série de debates acerca do design contemporâneo que incluem: um simpósio de apresentação do tema anual, uma publicação com textos do júri acerca de sua experiência junto aos projetos orientados e uma conversa final com sugestões de temas para o ano seguinte. Dessa forma, o prêmio busca se consolidar como uma plataforma de discussão de concepções contemporâneas de design.
SERVIÇO
Exposição: 1º Prêmio de Design Instituto Tomie Ohtake Leroy Merlin
Até 10 de março de 2019, de terça a domingo, das 11h às 20h – entrada franca
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima 201 - Complexo Aché Cultural
Fone: 11 2245 1900
www.institutotomieohtake.org.br
premiodesign.institutotomieohtake.org.br
Legendas das imagens:
- Ponto Planta. Projeto: Bruna Ribeiro Machado Tonso (PUC-SP). Imagem: Divulgação/Instituto Tomie Ohtake
- Hurbanize: aplicativo de compartilhamento de ideias para a cidade. Projeto: Fernando Souza Ferreira (UFRGS-RS). Imagem: Divulgação/Instituto Tomie Ohtake
- Projeto Manual: espaço de experiência da FLUTUA, plataforma colaborativa com fins educativos, artísticos, arquitetônicos e ambientais que atende crianças em escolarização formal ou informal na cidade de Uberlândia (MG). Projeto: Luiza Dalvi e Rayssa Carvalho, com a colaboração de Isabela Magro, Rodrigo Pereira, Ariane Freitas e Alexandre Machado (UFU-MG). Imagem: Divulgação/Instituto Tomie Ohtake.
- Plataforma Digital de Incentivo ao Fazer Manual - Clube das Miçangas. Projeto: Mariana Soares da Costa, Ana Maria Copetti Maccagnan (UFRGS-RS). Imagem: Divulgação/Instituto Tomie Ohtake
- Sororas: aplicativo para mulheres empreendedoras/autônomas. Projeto: Francisco Everardo Lima de Castro Junior, Kathleen Porto Marcilio e Leticia Cavalcante Martins, com a colaboração da Profa. Dra. Georgia da Cruz Pereira (UFC-CE). Imagem: Divulgação/Instituto Tomie Ohtake
- MOBS: Módulos para Compartilhar. Projeto: Paul Newman dos Santos (USP-SP). Imagem: Divulgação/Instituto Tomie Ohtake
- Maucx: proposta de dispositivo de mediação entre museu e cidade. Projeto: Maria Lorrine Silva Sampaio (UFC-CE). Imagem: Divulgação/Instituto Tomie Ohtake.
- Catatau: bancada de ferramentas compartilhada e interativa para ativação de ecopontos. Projeto: Andres de Paula Dare (UniNove-SP). Imagem: Divulgação/Instituto Tomie Ohtake