Círculo da Vida
Quem esteve no 3º ARCHTRENDS SUMMIT da PORTOBELLO, realizado nos dias 9 e 10 de março, projeto para o qual tive a honra de ser a curadora de conteúdo, pode se emocionar, como eu, com mais um dos lindos projetos capitaneados pelo designer e conector de ideias e pessoas, Marcelo Rosenbaum e seu instituto A Gente Transforma (“AGT”).
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Marcelo foi chamado pelo BID LAB, laboratório de inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento e pela Prefeitura de Maceió para contribuir com o projeto ‘Maceió mais Inclusiva através da Economia Circular’. Um dos problemas colocados à mesa foi a pesca do Sururu, molusco considerado patrimônio cultural de Alagoas, importante fonte de renda para a comunidade de Maceió, mas que ao mesmo tempo gera milhares de toneladas de resíduo por mês. Marcelo e o AGT se debruçaram sobre a pesca desse molusco realizada pela Comunidade do Vergel, às margens da Lagoa do Mundaú. Só ali são 300 toneladas de conchas ao mês que poluem a lagoa e seus arredores.
Marcelo e o AGT trabalham há mais de dez anos na melhoria do meio ambiente e na criação de oportunidades sociais para comunidades marginalizadas, através da valorização da sua cultura e saberes ancestrais e, especialmente, do resgate da sua autoestima. Neste processo de reconhecimento da comunidade do Vergel, Marcelo foi apresentado a Itamacio dos Santos, um artesão local que fazia caqueiras (vasos) de cimento. Juntos, Marcelo e Itamacio testaram colocar na massa das caqueiras as conchas do sururu moídas, substituindo assim a areia utilizada. Foram meses de testes, até se chegar ao ponto certo de trituração das conchas, para que a massa tivesse a liga e textura perfeitas.
Agora, o que fazer com aquela massa para das vazão à reciclagem das conchas? Marcelo trouxe ao debate Rodrigo Ambrosio, designer alagoano seu parceiro em projetos anteriores. Ambos colocaram, literalmente, as mãos na massa para desenvolver um cobogó - elemento arquitetônico estrutural, originário do nordeste brasileiro, que permite a circulação do ar - com o centro vazado na forma da concha do sururu. Itamacio deu a palavra final sobre o tamanho do cobogó: “os primeiros moldes eram muito pequenos e minha escovinha de polimento não cabia na parte vazada para dar acabamento. Tivemos que aumentar um pouco a peça. Agora esta perfeita“.
Graças à forca das mídias sociais, os posts de Rosenbaum sobre o processo de desenvolvimento deste cobogó chegaram ao conhecimento da diretora de inovação e branding da Portobello, Christiane Ferreira, que imediatamente escreveu a ele propondo a inserção deste produto no catálogo da Portobello, por meio de sua marca de design democrático Pointer (em breve estará disponível nas lojas Portobello Shop).
Por ora, já são 5 moradores do Vergel envolvidos na produção dos cobogós, sob a coordenação de Itamacio, responsável por desenvolver e capacitar a mão de obra local para viabilizar o aumento sustentável da produção.
Fruto deste casamento perfeito, a linha Cobogó Sururu teve seu pré-lançamento na EXPOREVESTIR , maior feira de revestimentos da América Latina que aconteceu em São Paulo de 10 a 13 de marco, dias antes do Brasil frear suas atividades por conta da disseminação do coronavírus.
Um lançamento que, mais do que nunca, revela a importância do design e do investimento industrial em ações sociais que geram trabalho em escala para comunidades carentes através da reciclagem de resíduos e outros materiais locais, proporcionando uma economia circular de valor agregado.
Obrigada Marcelo, BID LAB, Prefeitura de Maceió, Rodrigo Ambrosio, Itamacio, Christiane Ferreira, Pointer e Portobello! O mundo precisa cada vez mais de exemplos inspiradores como vocês!
[…] molusco considerado patrimônio cultural imaterial de Alagoas. Desenhado pelos designers Marcelo Rosenbaum e Rodrigo Ambrosio por meio das técnicas do artesão Itamácio Santos, a peça ganhou escala industrial com o apoio da Pointer, marca de design democrático da […]