“O pavilhão apresenta as águas brasileiras, dos seus rios e seus mangues. Nascedouro de toda a fertilidade da vida, patrimônio natural que dá a base para toda a discussão da sustentabilidade do planeta”. É desta maneira que começa o memorial escrito pela equipe vencedora do concurso de arquitetura que escolheu, em novembro passado, o projeto do Pavilhão do Brasil para a Exposição Universal 2020.
A grande atração do espaço será a água e o público poderá entrar num espelho d’água que é envolto por uma membrana onde imagens serão projetadas. De certa forma, a experiência replica o uso que o público faz, espontaneamente, no terraço do SESC 24 de Maio.
A disputa pelo pavilhão brasileiro foi vencida pela equipe liderada por Marta Moreira e Milton Braga (do MMBB, parceiros de Paulo Mendes da Rocha no desenho do Sesc 24 de Maio) em parceria com José Paulo Gouvêa e Martin Benavidez. Além do projeto de arquitetura, o edital incluía no certame o desenho da expografia e a curadoria do conteúdo que será apresentado no espaço nacional, que ficou a cargo de Guilherme Wisnik e Alexandre Benoit.
A proposta venceu outros 40 projetos em disputa promovida pela Apex Brasil e contou com a organização do departamento do Distrito Federal do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/DF).
A exposição, também conhecida como Expo 2020 ou Dubai 2020, uma vez que será realizada em Dubai, no Oriente Médio, terá como tema Together for Diversity. As expos são um circuito periódico, iniciado em 1851, onde países montam espaços para divulgar novidades tecnológicas e produtos. Foi na Expo Paris, em 1889, por exemplo, que a torre Eiffel foi montada para receber o público. O telefone também foi mostrado pela primeira vez em uma expo: em 1876, na Filadélfia.
Do ponto de vista da arquitetura, as mostras são uma oportunidade de expor obras da vanguarda arquitetônica dos países em pavilhões temporários, que na maioria dos casos, são desmontados após o evento. Em Dubai 2020 já foram divulgadas imagens de pavilhões criados pelo inglês Norman Foster e pelos dinamarqueses do BIG. Muitos países utilizam a modalidade dos concursos como maneira democrática de escolher os projetos. No caso brasileiro, alguns pavilhões integram a história da arquitetura nacional.
Na edição de Milão 2015, por exemplo, a disputa foi vencida por Arthur Casas, cujo pavilhão recebeu mais de cinco milhões de visitantes. O projeto era composto por pórticos de aço e a grande atração do espaço era uma rede inclinada onde as pessoas podiam interagir umas com as outras.
Para a Expo Sevilha, montada em 1992, o governo brasileiro realizou um concurso. Num clima de abertura econômica, política e cultural, a disputa contou com a participação de 154 concorrentes. O pós-moderno reinava no debate arquitetônico e o resultado foi considerado passadista para grande parte dos arquitetos e da mídia especializada, por reavivar características da escola paulista, movimento arquitetônico que despontou no final dos anos de 1950. A proposta, abortada pelo governo Collor, foi vencida por jovens profissionais Angelo Bucci, Álvaro Puntoni e José Oswaldo Vilela, que tinham menos de 30 anos de idade. No segundo lugar, foi classificada a equipe do MMBB, da mesma geração dos vencedores e que ganharam a recente disputa para Dubai. O concurso para Sevilha marcou o início da produção desta geração – classificada como Geração Sevilha – integrada por arquitetos e colaboradores das equipes que ficaram em primeiro e segundo lugares.
Antes de Sevilha, a concorrência mais calorosa ocorreu no final da década de 1960, quando os arquitetos brasileiros disputaram pelo desenho do pavilhão da Expo 1970, de Osaka, no Japão. O concurso foi vencido por Paulo Mendes da Rocha, que compôs o júri do pavilhão de Sevilha. Curiosamente, está em cartaz em São Paulo a exposição Arquitetura de Exceção – O Pavilhão do Brasil na Expo’70 Osaka que inaugurou a Galeria da Arquitetura, um espaço expositivo dedicado ao tema, que ocupa o térreo da Escola da Cidade em São Paulo. De quem é a curadoria da exposição? De José Paulo Gouvêa, um dos arquitetos vencedores do espaço de Dubai. E a expografia? De Alvaro Razuk. A mostra paulistana fica em cartaz até 25 de janeiro.
Na história dos pavilhões brasileiros ainda é necessário citar dois outros pavilhões: o de Bruxelas, montado em 1958, e o de Nova York, na Expo 1939. O projeto na Bélgica foi criado por Sergio Bernardes e era marcado por uma estrutura metálica cuja cobertura poderia ser fechada por um balão, que destacava a presença do pavilhão. A ideia foi um artifício utilizado pelo arquiteto para chamar a atenção para a construção, que não estava implantada em um local nobre.
Por fim, o espaço de Nova York teve disputa arquitetônica vencida por Lucio Costa, que reclamou com o organizador que o melhor projeto havia sido classificado em segundo lugar. Assim, Costa convenceu-o que era necessário criar um outro projeto, aglutinando ideias do primeiro e do segundo lugares. Quem ficou em segundo? Oscar Niemeyer. Mas esta já é outra história.