Antoine Lavoisier já dizia que na natureza nada se cria; tudo se transforma. O mesmo pode se dizer da arquitetura: todas as construções bem-sucedidas, incluindo as mais geniais, são criadas graças à junção daquilo que foi aprendido e desenvolvido em centenas de anos.
Apesar disso, a primeira escola da área só foi criada há pouco mais de 100 anos e trazia a experiência de guerra para criar objetos artísticos, funcionais e industriais. Por isso mesmo, até hoje a Bauhaus é considerada a mais influente instituição voltada à arquitetura da história.
Ao unir arte e indústria, a escola mudou o mundo da arquitetura. É por isso que, 100 anos após sua criação, é difícil encontrar uma peça que não tenha influências diretas da Staatliches-Bauhaus. Saiba mais sobre as origens, obras e legados, além da linha Bauhaus, da Portobello, que presta uma homenagem ao movimento.
Origem
Fundada em 1919 na cidade alemã de Weimar pelo arquiteto Walter Gropius (1883–1969), a Bauhaus é considerada a escola de arquitetura e design mais importante de todos os tempos. Seu nome é a inversão do termo hausbau — "construção da casa".
Em 1926, ela foi transferida para Dessau, onde ainda se conserva seu célebre edifício. Ao contrário do que se poderia imaginar, a mudança de sede não a enfraqueceu.
Muitas construções que definem o movimento foram erguidas em Dessau, como o Edifício Bauhaus, ícone do modernismo. Ele foi projetado pelo escritório de arquitetura privada de Gropius em cooperação com as oficinas da escola.
Gropius dirigiu a Bauhaus até 1928. Durante a sua gestão, arquitetos, pintores e escultores trabalharam em uníssono com o objetivo de unir arte, técnica e produção industrial para repensar a vida contemporânea.
Em 1932, os nacionais-socialistas alcançaram a maioria na assembleia da cidade de Dessau e conseguiram aprovar uma resolução para fechar a escola. A transferência para uma antiga fábrica de telefones em Berlim foi apenas um interlúdio para o seu fechamento definitivo a mando do governo nazista, em 1933, que considerava sua produção "arte degenerada".
Mas isso não impediu que seu legado inspirasse arquitetos, artistas e designers até hoje.
Após o fim da Staatliches-Bauhaus, um grande número de pessoas que ensinaram e estudaram na escola emigraram, contribuindo grandemente para a disseminação global dos seus conceitos.
Em 1937, Walter Gropius, Lászlo Moholy-Nagy e, sobretudo, Ludwig Mies van der Rohe criaram a New Bauhaus, em Chicago. Assim, tornaram-se os arquitetos mais importantes e influentes dos Estados Unidos.
Já em 1945, Gropius criou o Architecte’s Collaborative (TAC), durante o período em que foi professor da Universidade de Harvard.
Ideia
A grande proposta da Bauhaus era a construção de casas simples, eficientes e acessíveis para os trabalhadores.
Era a primeira vez que grandes arquitetos não se concentravam em criar palácios para a realeza ou monumentos para a Igreja e o Estado, mas em algo pensado para o homem comum.
Por isso, eles se consideravam líderes de uma revolução social, e não meramente estética. Para alcançar a construção em larga escala com rapidez e baixo custo, eram usados componentes padronizados.
As características mais marcantes eram:
- interligação com todo tipo de artesanato, como cerâmica, tecelagem e marcenaria;
- produção industrial: valorização da máquina e do desenho de produtos;
- princípios racionais no lugar de padrões herdados do passado;
- interiores de planta livres, sem paredes internas;
- coberturas planas e transformadas em terraços;
- janelas amplas em fita ou fachadas de vidro;
- paredes lisas e, geralmente, brancas;
- nascimento do design industrial;
- predomínio de linhas retas;
- geometrização das formas;
- simplificação dos volumes;
- tubos brancos inflexíveis;
- materiais pré-fabricados;
- abolição da decoração;
- concreto, vidro e aço.
A escola de Bauhaus visava aprimorar desde os móveis até a malha urbana europeia.
Mais do que a estética, o movimento queria trazer praticidade e ergonomia aos objetos, já que um design de produto inteligente precisa ser funcional.
Cada material era valorizado individualmente, com diversas possibilidades de usos e experimentos.
Alfabeto
A tipografia sturm blond, desenhada em 1925 por herbert bayer — ex-aluno e diretor da oficina de tipografia e publicidade da bauhaus —, é um excelente ponto para demonstrar muitos dos princípios da escola. o fator mais marcante dela é o que chama atenção de cara: a falta de maiúsculas no seu alfabeto.
Para justificar a sua escolha, bayer dizia que a palavra falada não fazia distinção entre maiúsculas e minúsculas, além disso, facilitaria a aprendizagem da leitura na escola primária e economizaria espaço de armazenagem para os tipos. enfim, só traria vantagens.
Essa lógica minimalista, utilitarista e prática permeava um país que, mesmo com recursos escassos, tentava se recuperar de uma derrota traumática na primeira guerra mundial. a ideia se repetiria em diversos projetos da bauhaus: móveis sem ornamentos, pouca diversidade de materiais e traços retos e objetivos.
Walter Gropius
Um dos principais nomes da arquitetura do século XX, Walter Gropius nasceu na Alemanha, mesmo país onde começou a carreira e desenvolveu sua escola. No entanto, com a ascensão do nazismo na década de 1930, emigrou para os Estados Unidos e lá desenvolveu a maior parte de sua obra, tornando-se, inclusive, diretor do curso de Arquitetura de Harvard.
De 1928 a 1933, esse último o ano de sua emigração, desenvolveu sua obra arquitetônica em Berlim, onde construiu a cidade de Siemens. Exilou-se no Reino Unido e depois seguiu para os Estados Unidos, assumindo a direção em Harvard de 1937 a 1952. Foi nesse país que ele desenvolveu suas principais obras, como o Harvard Graduate Center (1949–1950).
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Walter Gropius regressou à Alemanha para desenvolver alguns projetos, como a criação da cidade de Gropius, em Berlim (1964–1968).
O dom para a arquitetura vem de família. Antes de nascer, seu tio-avô, Martin Gropius, já havia construído o espaço de exposições que hoje é conhecido pelo nome de Martin Gropius Bau, um dos mais célebres prédios da capital alemã.
Ao estudar na oficina de Peter Behrens, um dos precursores da arquitetura moderna, Gropius conheceu outros que, futuramente, se tornariam grandes nomes da área: Le Corbusier e Ludwig Mies van der Rohe. Esse último, aliás, foi o terceiro diretor da Bauhaus e cunhou a frase “menos é mais”.
Legado
Bauhaus também valorizou e desenvolveu diferentes tipos de arte, como fotografia e fotomontagem, colagem, teatro, xilogravura, arte de vanguarda e tipografia.
Além disso, o plano educacional da Bauhaus era um treinamento social: oferecia tanto o conhecimento técnico quanto a educação artística e humana. Foi essa uma das causas da perseguição sofrida pelo movimento.
A escola inspira uma arquitetura que mistura passado e presente, mas que é sempre atemporal. Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas, Roberto Burle Marx, Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha e Rino Levi são alguns dos arquitetos modernistas que levaram o legado da Bauhaus.
O estilo industrial, muito em voga atualmente, tem inspiração na escola de Bauhaus, principalmente pela utilização de aço, concreto e madeira.
Tel Aviv
Apesar de ser uma escola alemã com prestígio em diversas partes do mundo, impressiona a relevância da Bauhaus em Tel Aviv.
Com apenas 100 anos, a cidade foi na contramão da arquitetura de Israel e abriu espaço para outros estilos construtivos. Graças a essa influência, ganhou o apelido de Cidade Branca.
Em 2003, esse conjunto arquitetônico foi tombado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio Mundial da Humanidade.
Mas a escola não chegou a Tel Aviv por acaso. Durante o nazismo, diversos arquitetos judeus fugiram para o antigo protetorado britânico da Palestina, levando consigo vários elementos — ladrilhos, portas e folhas de janelas. Tudo o que era possível levar, eles levaram, incluindo o racionalismo arquitetônico da Bauhaus.
Graças a essa grande miscelânea trazida pelos judeus que Tel Aviv se tornou sede de mais de 4 mil prédios racionalistas.
Entre os imigrantes, estavam muitos artistas e arquitetos como Arieh Sharon, Richard Kauffmann e Erich Mendelsohn.
Linha Bauhaus
Inspirada na racionalidade e no minimalismo da arquitetura modernista, a linha a Bauhaus, da Portobello, reproduz o concreto com relevos suaves, cores urbanas e muita fluidez. A coleção conta com porcelanatos e peças de acabamento que se dividem nas cores Cement e Lime.
Viu como a Staatliches-Bauhaus influenciou a arquitetura no Brasil e no mundo? Para saber ainda mais sobre o desenvolvimento da área desde o seu surgimento, conheça alguns dos designers mais importantes da história!
Foto de destaque: Bauhaus-Archiv, em Berlim, coleciona obras de arte, documentos e objetos relacionados à escola Bauhaus (Foto: Joel Filipe)