Tunísia através dos azulejos
Quem visita a Tunísia certamente repara na beleza dos azulejos de cerâmica característicos do país. Eles revestem paredes inteiras e também são aplicados como painéis emoldurados. Essa arte em revestimento tornou-se parte da identidade cultural local e, consequentemente, internacionalmente celebrada. É conhecida como jelliz, uma corruptela da palavra árabe zellige.
Na arquitetura islâmica, a azulejaria desempenha papel fundamental na ornamentação de casas, palácios, mesquitas e madrassas. Com o decorrer da história, cada cultura desenvolveu características próprias. Identificá-las é parte do grande fascínio em aventura-se por este universo.
O mundo muçulmano é composto por diversas órbitas culturais complementares entre si (regiões), sendo cada uma delas um conjunto de partes menores (países) que orbitam ao redor dessa cultura comum. Para exemplificar, a região do Levante é composta por países como o Líbano, Síria, Palestina, Jordânia e parte da Península do Sinai (Egito). A região do Magrebe, no norte da África, é composta pelo Marrocos, Mauritânia, Argélia, Tunísia e Líbia. O Golfo é composto pelos Emirados Árabes, parte da Arábia Saudita, parte do Iraque, Catar, Bahrein, Omã e Kwait. A cerâmica e a azulejaria estão presentes em todas as regiões e cada uma tem suas particularidades.
Estive no Marrocos não faz muito tempo e o país compartilha da cultura magrebina, dos países do norte africano. A azulejaria e o minucioso trabalho em estuques andam lado a lado e se expressam através das padronagens geométricas repetitivas criando lindos mosaicos.
Já na Tunísia, a aplicação do revestimento traz cores e características que evocam toda uma riqueza e um savoir-faire mesclando o legado hispano-mourisco ao turco-persa e também italiano. Uma bela síntese mediterrânea. O revestimento em mural tunisiano se divide em dois estilos: azulejos com padronagem repetitiva, floral ou geométrica; e de painéis figurativos com temas diversos.
A cerâmica da Tunísia se origina na antiguidade e a arte do jelliz aparece junto às conquistas árabes a partir do século 7. A fabricação de cerâmica no país continua por séculos, mas é sob a influência andaluza a partir do século 13 que o jelliz se desenvolve na Tunísia.
Durante os séculos 15 e 16, a chegada dos muçulmanos, judeus e mouros expulsos da Espanha durante a Reconquista provoca um grande enriquecimento nas técnicas artesanais em diversos ofícios. Dentre esses, os ceramistas andaluzes partilham técnicas com os artesãos locais e essas técnicas incorporadas foram importantes no desenvolvimento dos famosos ateliês Qallalines, em Tunes.
O nome Qallaline é conhecido mundialmente dentro do universo da cerâmica islâmica e evoca toda a beleza e caráter único dos azulejos tunisianos. Como curiosidade, qallal é o singular para ceramista em árabe. Qallaline significa tanto o plural de ceramista, quanto a região de Tunes onde se concentravam os ateliês, além da própria cerâmica em si.
Apesar do prestígio internacional, a produção da cerâmica Qallaline infelizmente não resistiu à forte concorrência europeia, o que acabou acarretando no fechamento de inúmeros ateliês até sua extinção no começo do século 20.
Contudo, sua influência certamente permanece presente na arte da azulejaria e cerâmica na Tunísia. Muitos ceramistas do país continuam a explorar as técnicas e padronagens desenvolvidas há séculos que sublimam a riqueza do patrimônio mediterrâneo.
Com o passar dos anos, a produção dos azulejos se transformou e mudou. Novas técnicas foram desenvolvidas, a produção foi simplificada e o custo barateado, permitindo a aplicação dos azulejos em maior quantidade e menor preço. Assim, o uso do azulejo se popularizou e se tornou disponível para todas as classes sociais.
Quanto ao legado de Qallaline e sua produção artesanal, a cidade de Nabeul, ao sul de Tunes, se tornou o polo ceramista do país. Hoje, quem deseja obter novas peças ou restaurar antigas tem ali o lugar ideal para buscar a azulejaria e cerâmicas utilitárias.
Se algum dia visitar a Tunísia não deixe de reparar neste lindo patrimônio cultural tunisiano.
Esplêndido, parabéns. Sinto que estou nessa viagem 😀
Alexandre, parabéns seu artigo é rico em detalhes e um convite maravilhoso de leitura, além das fotos incríveis!!👏👏👏😍
Amei os lugares, cada detalhe Alê, os azulejos diferentes, desenhos maravilhoso, que bom que os azulejos mão perderam a majestade, parabéns pela sua coluna,continue brilhando
Cultura, conhecimento e simpatia, com certeza é o sobrenome do Alexandre!! Sou fã, cada dia mais!! Obrigada por nos trazer tanto conhecimento e dicas de viagem!! 😘❤️ ( Corrigido)
Parabéns por essa coluna , o Alexandre tem um olhar maravilhoso para a fotografia, passou com muita qualidade essa excelente matéria para o público conhecer as maravilhas desse lindo lugar e história.
Cultura, conhecimento e simpatia, com certeza é o sobrenome do Alexandre!! Sou fã, cada dia mais!! Obrigada por nos trazer tanto conhecimento e dicas de viagem!! 😘❤️
Cultura, conhecimento e simpatia, com certeza é vo sobrenome do Alexandre!! Sou fã, cada dia mais!! Obrigada por nos trazer tanto conhecimento e dicas de viajem!! 😘❤️
Viagem*
Obrigada por compartilhar toda essa cultura!
Impecável o discorrer do excelente fotógrafo @alexandredisaro, sobre essa azulejaria milenar do norte da África que muitos como eu desconhecia, mas que através destas lentes sintonizadas podemos ter acesso a esta arte cultural de forma muito real como se estivéssemos in loco. 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
Amei a nova coluna! Alexandre Disaro é um fotógrafo incrível e tem uma cultura impressionante. Estou acompanhando essa viagem e o trabalho sobre a azulejaria tunisiana que ele desenvolveu é uma preciosidade. Parabéns Archtrends pelo novo colunista. Parabéns Ale por trabalho tão primoroso.