Arquitetura e Urbanismo para menores
Há mais de uma década, em 2006, Paulo Mendes da Rocha já buscava espalhar a ideia da educação de arquitetura para crianças, desde a primeira infância. Em entrevista à revista PROJETO, naquele ano, o maior arquiteto brasileiro vivo – vencedor das mais diversas e principais premiações mundiais da profissão – falou sobre o assunto em referência à possibilidade de melhoria das cidades. “A escola é uma coisa muito importante. Falo tudo isso não para exibir um privilégio, mas para dizer como são pobres as nossas escolas e como se ensina mal, desde criança, os nossos futuros empreendedores. Talvez por isso as cidades sejam um desastre”, disse à época.
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Passados onze anos, em nova entrevista à PROJETO, concedida ano passado, Mendes da Rocha retomou o assunto de maneira ainda mais didática e incisiva, ao indicar a educação como questão fundamental. Seu pensamento, então, foi colocado de forma ainda mais clara: “A escola está toda errada, é feita com o propósito mercadológico de um capitalismo sem inteligência. Falta ensinar física, mecânica elementar, junto com a alfabetização, porque, brincando com uma bolinha de gude, a criança aprende, intuitivamente. Elas são os agentes do futuro".
O mesmo discurso foi proferido em palestras recentes, como na Convenção do CAU/BR ao final de 2017 e durante o Fórum Internacional de Arquitetura e Urbanismo realizado pela Expo Revestir e a PROJETO, em março de 2018. “Arquitetos podem influir na educação das crianças nas escolas, usando brinquedos, como uma pipa ou um pião, para estimulá-las a conhecer princípios básicos da física”, exemplificou.
Na esteira desse pensamento, duas empreendedoras de nosso mercado trouxeram uma agradável inovação: a jornalista (quase arquiteta) Bianca Antunes e a arquiteta (quase jornalista) Simone Sayegh se uniram em torno do projeto Casacadabra, um conjunto de publicações que recentemente iniciou a captação de recursos para o segundo volume da série.
Tratam-se de livros infantis que explicam de forma lúdica conceitos básicos – e alguns mais técnicos – da arquitetura e do urbanismo. Seu primeiro volume, lançado por financiamento coletivo em 2016, trouxe dez casas ao redor do mundo - quatro brasileiras -, que serviram como base para o aprendizado de termos como pilotis, brise soleil e balanço, com brincadeiras, interatividades e exercícios para se fazer em casa ou nas escolas. As escolhas foram cirúrgicas e atingiram em cheio o objetivo de prender a atenção das crianças: uma casa-bola, um dragão no telhado ou uma casa em cima de uma cachoeira.
O segundo volume, que iniciou recentemente seu processo de financiamento coletivo (a quem interessar participar, podem fazê-lo clicando aqui), se volta agora ao urbanismo: um rio escondido que reaparece, uma escadaria para encontrar os amigos, ruas onde a regra é brincar, são alguns dos exemplos que mostram o espaço urbano como algo dinâmico e aberto a transformações.
Assim como Mendes da Rocha, as autoras se basearam na ideia de transformação das cidades em espaços mais justos e humanos, por meio da educação de base, desde os ensinos infantil e fundamental, e não apenas nas faculdades de arquitetura. Partem da premissa que a qualidade do espaço de convivência é agente de mudanças de comportamentos, em todas as escalas. As crianças, com esse aprendizado, passam a ter pensamento crítico em relação às casas, praças, bairros e cidades.
"Acreditamos na educação para abrir os olhos das pessoas, desde cedo, para o lugar em que vivem. Se o ensino de arquitetura começar pela criança, as cidades têm a chance de receber, no futuro, um olhar mais crítico e apurado de quem a constrói, na busca de melhores soluções urbanas", dizem as autoras.
Que as palavras de nosso grande mestre possam ressoar além desse belíssimo projeto chamado Casacadabra, e que iniciativas como essas possam fazer eco nas escolas, e em nossas casas. O futuro agradece.
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