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Arquitetura asteca: a materialização da riqueza cultural

Turistas sobem as ruínas do Templo Mayor (Foto: Rodrigo Malagón)

É comum acreditarmos que a humanidade evoluiu em todos os aspectos, tanto social quanto culturalmente. No entanto, nem sempre é assim. E, enquanto um traço de concreto errado pode fazer um arranha-céu desabar, existem construções que resistem à força dos séculos sem mostrar sinais de cansaço.

Um dos exemplos mais famosos é a arquitetura asteca, que atravessou tempo e guerras levando a história de um povo lutador, inteligente e civilizado, mas dizimado pela invasão espanhola. Neste artigo, você vai saber mais um pouco sobre a história, as características e principais construções deles. Confira!

Arquitetura asteca: história e características

Representação da partida do povo asteca de Aztlan no Códice de Aubin (Imagem: Domínio público)

Basicamente, a arquitetura asteca se refere ao conjunto de construções da Era Pré-colombiana feitas pela civilização de mesmo nome. 

Os astecas ou mexicas eram um povo que se estabeleceu na América e teve o seu auge entre os anos de 1324 e 1521. Vindos da atual Califórnia, ocuparam o planalto mexicano no final do século XII, dominaram as etnias que já viviam na região e, em pouco tempo, construíram um império teocrático.

Foram a última civilização a se desenvolver na Mesoamérica e, provavelmente, a mais envolta em mitos.

Quando os europeus chegaram à América, encontraram dois tipos de grupos: as comunidades primitivas e as grandes civilizações. Os astecas vieram fugidos de Aztlan, a lendária terra dos povos nahuas — "asteca", aliás, é um termo derivado do nahuatl que significa "povo de Aztlan".

Enquanto muitas lendas descreviam Aztlan como uma terra paradisíaca, o Códice de Aubin, documento textual e pictórico que relata a história dos astecas até o período colonial espanhol, dizia que eles eram um povo dominado por tiranos. Então, guiados pelo seu sacerdote, eles fugiram, mas o deus Huitzilopochtli os proibiu de usar o nome "asteca", dizendo que deveriam ser chamados de mexicas.

Inacreditavelmente, grande parte do que se sabe sobre a arquitetura asteca é graças às construções que resistem até hoje, já que unem o uso de materiais fortes e uma grande habilidade de construção. 

Estilos

Ehécatl, deus asteca que inspirou a construção de pirâmides de plano circular (Imagem: Xjunajpù)

As cidades astecas costumavam competir entre si para construir os maiores templos. Mas, em vez de demolir e começar a obra do zero, elas usavam uma estrutura antiga e construíam por cima. Por isso, alguns chegavam a ter quatro ou cinco camadas, o que ajudava a dar a resistência.

Os astecas eram excelentes arquitetos. Os seus templos eram imensos, mas muito proporcionais. Esse senso de ordem e simetria era comum nas culturas mesoamericanas.

As suas casas, construídas com troncos de madeira, tinham uniformidade, variando apenas no tamanho e na ornamentação. Curiosamente, muitas delas não foram separadas internamente, o que resultava em uma grande sala.

Outras características marcantes na arquitetura asteca são as linhas amplas e os desenhos geométricos, que simbolizam o poder do Estado e o caráter religioso da construção.

Materiais

As construções da arquitetura asteca também tinham materiais característicos:

Arquitetura asteca: principais obras

A cultura asteca era muito religiosa, o que se refletia em sua arquitetura. Os templos foram a forma que o povo encontrou de se aproximar dos deuses.

Embora as egípcias tenham mais fama, os povos mesoamericanos investiram muito em pirâmides e fizeram algumas das maiores construções do tipo no mundo. Até mesmo a maior.

Pirâmides redondas

Templo de Ehécatl, no sítio arqueológico Calixtlahuaca (Foto: Gumr51)

Algumas das construções mais marcantes são as pirâmides de plano circular. Acredita-se que os monumentos com essas características eram homenagens ao deus Ehécatl, a divindade do vento, pois lembram redemoinhos. Astecas e outras culturas pré-colombianas achavam que a forma arredondada facilitava a circulação de ar.

Grande Pirâmide de Cholula

Turistas visitando a Pirâmide de Cholula, o grande marco da arquitetura asteca na atualidade (Foto: Charmedsara)

Localizada na zona arqueológica de Cholula, a Tepanapa, Tlachihualtépetl ("colina artesanal" ou "montanha feita à mão" na língua nahuatl) ou Cholula é considerada a pirâmide de maior volume no mundo, com 4.500.000 m³.

Além disso, é o maior sítio arqueológico de um templo no ocidente, a maior estrutura piramidal já registrada e também o maior monumento já construído, segundo o Guinness Book. A sua base é 22 vezes maior que o gramado do Estádio do Maracanã.

Cholula era uma cidade importante da Mesoamérica pré-colombiana, com existência datada de pelo menos o século II a.C. A sua pirâmide foi construída em homenagem a Quetzalcoatl — deus que, segundo os antigos, voltaria em um ano Ce-Acatl, ou ano da conquista do império —, mede 450 × 450 m e fica a 55 m da planície circundante.

O estilo arquitetônico tem raízes em Teotihuacan (vale do México) e em El Tajín (Costa do Golfo).

Seguindo a característica asteca, a pirâmide de Cholula é uma sucessão de sete pirâmides sobrepostas. Obviamente, esse trabalho não foi fácil: ela foi construída em etapas e por civilizações distintas, tanto que se estima que o processo começou em 200 d.C. e durou de 500 a 1200 anos. 

Durante o seu auge (século VIII), a cidade chegou a abrigar 100 mil habitantes, mas foi dizimada com a invasão espanhola. Em 1594, eles construíram uma igreja católica sobre o templo para substituir uma crença pela outra. O problema é que essa construção, também considerada um patrimônio histórico, impede a escavação completa da pirâmide e também o acesso do público a grande parte dela.

Alguns dos seus túneis foram encontrados na década de 1930 e equipados com maquetes e reproduções disponíveis para visitação, possibilitando que o público chegasse à entrada na igreja localizada no pico.

Pirâmide de Tenayuca

Construída pelas civilizações chichimeca e asteca, a Pirâmide de Tenayuca tem oito "camadas" (Foto: G. Emmanuel Hernández)

Apesar de ser uma das obras mais significativas da arquitetura asteca, a duas primeiras "camadas" da Pirâmide de Tenayuca foram feitas pelo povo chichimeca, enquanto as outras seis são de autoria da civilização mexica. Cada reconstrução acontecia em um intervalo de 52 anos, o equivalente a um século para esse povo.

Três de seus lados são cercados por 52 esculturas de serpentes, sendo que cada uma representa um ano. As maiores simbolizam os anos de melhores colheitas. Pelas semelhanças nos detalhes, acredita-se que Tenayuca serviu de inspiração para o Grande Templo de Tenochtitlán, o mais famoso exemplar da arquitetura asteca.

Tenochtitlán

Obra do pintor mexicano Diego Rivera mostra uma visão ampla da arquitetura asteca em Tenochtitlán (Imagem: Domínio público)

Considerada a capital do Império Asteca, Tenochtitlán ficava onde hoje é a Cidade do México. Era tão importante que a sua queda, em 1521, se tornou o símbolo da conquista da Mesoamérica pelos espanhóis.

Tenochtitlán tinha características de arquitetura e engenharia muito inteligentes:

Mesmo tendo sido devastada por uma inundação em 1517, Tenochtitlán já estava reconstruída em detalhes quando os espanhóis chegaram, em 1519.

Quando finalmente conseguiram dominar a capital, eles substituíram os templos astecas por edifícios em estilo espanhol, mas praticamente não mexeram no arruamento.

O povo nahua, que deu origem aos astecas, existe até hoje e vive em casas semelhantes às dos seus ancestrais. 

Grande Templo de Tenochtitlán

Destruído pelos espanhóis, o Templo Mayor é considerado hoje Patrimônio Mundial pela Unesco (Foto: Orientalizing)

Também conhecido como Templo Mayor, o Grande Templo de Tenochtitlán foi o principal monumento asteca da época. Era dedicado a dois deuses: Huitzilopochtli, da guerra, e Tlaloc, da chuva e da agricultura. Cada um tinha o seu próprio santuário e escadaria. Durante os seus aproximadamente 200 anos de existência, o espaço foi reconstruído seis vezes, mas foi destruído pelos espanhóis em 1521.

As ruínas do Templo Mayor fazem parte do Centro Histórico da Cidade do México e se tornaram Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 1987. Próximo a elas, há o Museu do Templo Mayor, para preservar a história desse grande monumento da arquitetura asteca.

Arquitetura asteca hoje

Muitos dos indígenas que vivem hoje na Cidade do México, incluindo o povo nahua, são descendentes dos astecas. Por isso, mantêm alguns de seus costumes, que vão desde as roupas tradicionais e coloridas até a arquitetura e decoração. 

Os nahuas modernos são agricultores: cultivam principalmente feijão, pimenta, tomate e abóbora. Também criam animais, como galinhas, perus, porcos, cabras e burros.

Os seus assentamentos são formados por aldeias centrais divididas em quatro seções (bairros) que se agrupam em torno de uma igreja. Cada seção recruta pessoas para trabalhar nas terras comuns. As suas casas são geralmente estruturas de um cômodo feito de cana, madeira, argila ou pedra, com telhados de palha ou telhas.

O próprio povo fabrica cerâmica, cordas, fibra de palmeira e tijolos de argila.

Olhar para trás faz com que a humanidade entenda muito sobre a sua cultura e faz até com que ela se perceba como resultado de conhecimentos, hábitos e erros apreendidos por milênios.

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Foto de destaque: Turistas sobem as ruínas do Templo Mayor (Foto: Rodrigo Malagón)

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