Do formigueiro à casa do joão-de-barro: aprenda com a arquitetura animal
Muitos arquitetos buscam inspiração na natureza para criar obras coerentes e ousadas. As possibilidades são infinitas, afinal, várias formas, cores e texturas estão presentes na fauna e flora dos desertos, florestas, regiões montanhosas e oceanos.
O mais curioso é perceber a quantidade de bichos — aves, insetos, mamíferos e outros grupos — que criam abrigos fantásticos contando apenas com o próprio instinto e utilizando materiais naturais.
Sim, a arquitetura animal é realmente incrível! Por isso, trouxemos características das construções de diversas espécies para você conhecer. Acompanhe e saiba como aplicá-las em seus projetos.
A organização dos formigueiros
Existem diversos tipos de formigueiros, mas todos são conhecidos pela estrutura interna complexa. Composto por várias câmaras e túneis interligados, um ninho de formigas pode ser habitado por milhares de insetos e se dividir em áreas com funções distintas — torre de vigilância, aposento real, jardim de fungos etc.
Considerando seu tamanho de apenas um centímetro, a formiga vermelha europeia constrói verdadeiros arranha-céus na floresta, que é seu habitat natural. Já as formigas-tecelãs australianas, por exemplo, produzem abrigos nos galhos das árvores, juntando folhas e grudando-as com seda de larvas.
Como incorporar ao projeto
Organização é a palavra de ordem das formigas. Dentro de seus pequenos edifícios feitos com terra, palha ou madeira, existem sistemas de caminhos que otimizam o fluxo interno e que impedem a entrada da água.
A estrutura resistente e a setorização de ambientes presentes no formigueiro devem servir de exemplo para a construção de prédios mais funcionais e equipados com soluções contra enchentes.
A leveza das teias das aranhas
As teias são feitas a partir da seda produzida em glândulas específicas das aranhas. Existem diversos tipos de glândulas e, consequentemente, diferentes tipos de seda. Dependendo da espécie, o fio pode apresentar níveis variados de elasticidade e resistência e, ainda, ser usado para proteger os ovos ou para embrulhar as presas.
As teias aparentam ser bem frágeis, mas isso não é verdade. Cientistas que estudaram essa estrutura descobriram que as fibras das teias têm propriedades mecânicas fantásticas. Assim, mesmo os fios com menor espessura tendem a ser mais firmes que qualquer fibra de náilon.
Como incorporar ao projeto
A teia de aranha alia delicadeza e alta resistência. Sua composição permite criar desenhos com os mais variados tamanhos e formatos — esférico, triangular, emaranhado. Por isso, tem servido de inspiração para a criação de coberturas tensionadas, que podem ser feitas de malha ou de lona.
Essas coberturas costumam ser usadas para compor instalações de arquitetura efêmera em feiras e eventos. Comparadas a elementos construtivos feitos com materiais convencionais, como o aço e o concreto armado, elas trazem a vantagem da leveza e rapidez na montagem/desmontagem.
A sustentabilidade dos ninhos de marimbondos
Os marimbondos compõem o grupo de espécies de vespas que constroem ninhos de celulose. Eles mastigam fibras raspadas de troncos de madeira morta que, ao se misturarem com as secreções do aparelho bucal do inseto, geram um tipo de pasta com consistência e aparência de papel.
Os marimbondos ingerem parte da celulose para reutilizá-la na remodelagem do ninho. Dessa forma, não precisam buscar material novo a todo momento. Muitas vezes, é possível ver reservas do material estocadas do lado de fora do ninho, na forma de espetos ou espinhos.
Experiências com termômetros mostram uma diferença de até 15ºC entre as temperaturas interna e externa do ninho. Isso explica por que os insetos mudam a disposição no interior de suas casas de acordo com as condições do clima: no frio, larvas e ovos ficam no centro. No calor, são transferidos para as bordas.
Como incorporar ao projeto
As criações dos marimbondos superam muitas obras da humanidade. Por combinarem funcionalidade, adaptabilidade ecológica, economia, precisão e eficiência energética, elas podem servir de exemplo para modelos de construção sustentável.
Uma solução é compor residências modulares que permitam racionalizar as obras e reduzir custos no processo executivo. Nessa linha, casas e apartamentos podem ter seus encanamentos e fiações embutidos em divisórias e plataformas fáceis de remover.
Por serem flexíveis, esses elementos permitiriam mudar e adaptar o layout conforme a necessidade. Tudo isso sem envolver grandes reformas para quebra de paredes ou de pisos — o que geraria custos extras e maior desperdício de materiais.
O conforto dos montes dos cupins
O cupinzeiro é outro belo exemplo de arquitetura animal. Ele é feito a partir da mistura de saliva dos cupins com partículas do solo e outros resíduos. O resultado é um monte duro e resistente, como uma parede de tijolos. Assim como o formigueiro, seu interior é repleto de labirintos que dão acesso a áreas com diferentes funções.
Os cupins fazem seus montes para se protegerem de predadores e, por isso, passam a maior parte do dia escondidos. Um fato interessante sobre esses insetos é que eles constroem o cupinzeiro de modo a garantir um microclima na parte interior. Nesse local, a umidade, ventilação e temperatura são devidamente reguladas e controladas.
Isso acontece devido a um sistema acionado pelas mudanças de temperatura que ocorrem entre o dia e a noite. No centro do monte, existe um buraco que atua como uma chaminé. Diversos túneis se conectam a essa chaminé e ventilam o cupinzeiro de maneira eficiente, em qualquer horário do dia.
Como incorporar ao projeto
Os cupins provam que é possível garantir o conforto térmico de uma obra sem recorrer a sistemas de climatização. Para isso, é fundamental que arquitetos e engenheiros pensem em soluções que facilitem a circulação do ar no interior dos edifícios.
Aberturas amplas, pé-direito duplo, jardins de inverno, claraboias, shafts e chaminés otimizam a ventilação natural e ajudam a regular a temperatura nas residências, estabelecimentos comerciais, ambientes corporativos e indústrias.
Porém, não adianta caprichar nesses recursos se a orientação solar do projeto estiver inadequada. Afinal, o percurso do sol não é o mesmo em todos os cantos do mundo. O cupim-bússola, da Austrália, parece saber disso.
Ele mantém seus montes em uma orientação norte-sul, que é a mais adequada para proporcionar o conforto térmico naquela região específica. Logo, é importante se espelhar no exemplo do inseto para tirar bom proveito do sol e, ao mesmo tempo, da iluminação natural em cada fachada.
A decoração da cabana do Caramancheiro
O Caramancheiro é uma ave da Austrália que ficou conhecida por seus dotes decorativos. Na época do acasalamento, o macho da espécie constrói um ninho com gravetos em formato de cabana, também conhecido como pavilhão.
A parte realmente interessante é a ornamentação do ninho. Para atrair a atenção da fêmea, o Caramancheiro enfeita a sua escultura recém-criada com tapetes de musgo, ossos de animais, sementes, folhas, cascas e muitas flores. Quanto mais colorida e diversificada a composição, maiores as chances de encontrar uma parceira.
Como incorporar ao projeto
A cabana do Caramancheiro mostra que uma boa arquitetura não precisa ignorar a beleza e a estética. Mesmo buscando soluções sustentáveis e funcionais, o arquiteto pode personalizar ambientes considerando um objetivo específico do cliente, seja ele impressionar ou simplesmente garantir conforto e praticidade.
A segurança da casa do joão-de-barro
O joão-de-barro é famoso por construir abrigos simples e, ao mesmo tempo, resistentes. A casa — feita com lama, palha e um pouco de esterco — tem como principal objetivo proteger a ninhada dos predadores e das intempéries. Por falar nisso, o pássaro se preocupa em manter a abertura do ninho na direção contrária à dos ventos e, consequentemente, das chuvas.
A ave aprende a identificar o sentido predominante dos ventos em diferentes regiões ao longo de sua vida. Então, tira proveito disso para proporcionar mais segurança à fêmea durante o choco e também aos filhotes, logo após o nascimento.
Como incorporar ao projeto
O ninho do joão-de-barro se organiza em dois "cômodos": uma área de acesso e uma câmara interna. Da mesma forma, o homem constrói suas casas e prédios com divisões de espaços para criar diferentes nichos e setores.
Inspirados na ave, arquitetos devem ter cuidado ao planejar cada ambiente, bem como a disposição das fachadas e suas respectivas aberturas. Assim, podem tirar bom proveito da ventilação, da luz e do sol para conceber projetos de qualidade e que tragam a mesma eficiência e elegância presente na arquitetura animal.
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Espetacular a sensibilidade