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Arquiteto brasileiro no exterior: vale a pena fazer carreira lá fora?

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06.04.2018
Esse pode ser o sonho de muitos arquitetos recém-formados, pois trabalhar em outro país permite viver experiências diferentes e ter contato com grandes escritórios que podem enriquecer muito o currículo.
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Muitas pessoas pensam em fazer intercâmbio e iniciar a carreira fora do país. A busca por novas oportunidades, não só para um arquiteto brasileiro, não é tarefa simples: requer um grande esforço para se adaptar a uma nova cultura, às demandas de um mercado diferente e ao estilo de vida em outras nações.

render by MIR ©Zaha Hadid Architects

Archtrends Portobello bate um papo com o arquiteto Leo Alves, que dá dicas e conta um pouco da sua carreira no exterior. O profissional, que se formou no Brasil e hoje integra o escritório Zaha Hadid Architect em Londres, teve uma trajetória dentro da arquitetura nada linear até chegar ao cargo que ocupa atualmente.

Continue lendo e descubra se de fato vale a pena ser um arquiteto brasileiro no exterior!

As motivações para trabalhar e estudar fora do país

Leo estudou na Universidade Federal do Rio de Janeiro e, durante o curso, fez intercâmbio na Universidade Técnica de Lisboa, em Portugal. Essa experiência foi uma das situações responsáveis por sensibilizá-lo para uma possível carreira no exterior.

render by MIR ©Zaha Hadid Architects

Depois de formado, ele teve algumas experiências profissionais. Mas, com o tempo, percebeu que gostaria de tentar morar fora, não apenas pela experiência profissional, mas também por um desejo pessoal de vivenciar outras culturas. Então, resolveu se mudar de uma vez, porque sabia que quanto mais tempo passasse no Brasil, mais difícil seria deixar o país.

Ele relata:

“Depois de um tempo focado em juntar dinheiro e me preparar, me mudei para Londres. Isso foi em 2009, e embora tenha sido um ano de muitas descobertas, foi também muito difícil, já que a crise tinha limitado bastante as ofertas de trabalho. O fato de eu não ter experiência profissional na Europa também não ajudou, já que eu estava concorrendo com todos os europeus que deixaram seus países também em crise para tentar a sorte no mercado de trabalho britânico”.

O arquiteto, depois de passar um ano desempregado, decidiu que tentaria um mestrado. Se não passasse voltaria para o Brasil. Em 2010, ele se mudou para a Alemanha para fazer mestrado em Design de Arquitetura na Bauhaus-Dessau Institute of Architecture.

Durante o curso, teve a oportunidade de fazer mais um programa de intercâmbio, e cursou um período na Cal Poly — California Polytechnic, nos EUA. Na Bauhaus teve aulas focadas em novas tecnologias com diversos professores renomados. Um deles era Diretor Associado da Zaha Hadid Architects.

Depois de formado, esse professor o convidou para trabalhar com ele. Assim, Leo voltou para Londres, desta vez empregado na ZHA, onde está desde então. Hoje lidera uma equipe de dez pessoas em projetos internacionais de diversas escalas, primordialmente na Ásia e no Oriente Médio.

Assim como ele, é comum que as pessoas interessadas em seguir carreira fora do país escolham esse caminho por já terem uma afinidade com outro lugar ou uma predisposição para se adaptar a uma nova cultura.

Arquiteto brasileiro no exterior
Arquiteto brasileiro no exterior pode fazer enriquecer o currículo

A adaptação aos padrões de outros países

Principalmente na arquitetura, o padrão de organização e tecnologia empregado na Europa e na América do Norte pode surpreender. Algumas das diferenças marcantes entre a nossa cultura e a de outros países são o grande uso de softwares e a dedicação para entregar um projeto completo e fechado antes mesmo de derrubar qualquer parede.

Para Leo, um dos motivos que o fizeram sair do Brasil era o sonho de trabalhar em projetos de alta tecnologia, como os que via nas publicações internacionais. Segundo ele, a arquitetura brasileira é bastante tradicional em relação às técnicas construtivas.

Os edifícios aqui, salvo poucas exceções, ainda são feitos com a mesma tecnologia de 30 anos atrás. Não se vê tanta variação no design, até mesmo porque as faculdades de arquitetura não ensinam a repensar dinâmicas arquitetônicas ou técnicas construtivas.

“Nesse sentido, o diferencial de trabalhar aqui [em Londres] é muito grande. A indústria da construção civil é muito mais sofisticada e flexível para realizar propostas diferentes. No Brasil, mesmo que você tente criar algo diferente das técnicas existentes, terá muita dificuldade em achar um empreiteiro capaz de realizar o seu design. Pelo menos no que diz respeito a minha experiência, a dinâmica dos escritórios europeus é muito diferente da dos brasileiros. Em parte porque trabalho num escritório de grande escala, focado em projetos internacionais. São 400 pessoas na ZHA — uma escala incomparável a escritórios brasileiros que, quando grandes, talvez venham a ter cerca de 40 funcionários”.

Na visão dele, o Brasil tem essa dinâmica um pouco mais informal, e é comum que as pessoas envolvidas na obra definam verbalmente o que precisa ser feito e desenhem menos.

Esse tipo de decisão traz agilidade para a obra e pode ajudar muito no andamento de uma construção. Enquanto esperar para que o desenho esteja 100% correto acaba atrasando, apesar de garantir um resultado que nem sempre é alcançado nas obras brasileiras.

render by MIR ©Zaha Hadid Architects

Em sua experiência na Europa, era totalmente impensado iniciar a construção sem ter o projeto completo. No Brasil não é incomum que a obra comece com o projeto pré-executivo e que o design seja desenvolvido em paralelo. Isso dificulta a resolução de problemas e resulta em um detalhamento descoordenado e menos sofisticado.

Com o advento do BIM (que hoje é mandatório para aprovações de projetos na Europa), a coordenação é feita toda antes do início e pode-se chegar a um custo estimado mais preciso. Embora no Brasil vários escritórios de arquitetura já usem BIM, ainda é raro encontrar consultores (sejam engenheiros ou empreiteiros) que também lidam com a tecnologia, podendo então proporcionar uma troca de informação entre disciplinas que é fundamental para um projeto bem-coordenado.

Por isso, para garantir a sua vaga, busque estudar fora antes de tentar um emprego. É mais fácil construir um bom network enquanto estuda, além de aprender como a profissão funciona no exterior, já que cada lugar é diferente. Com o tempo, você vai se acostumar aos sistemas métricos diversos e à cultura do país.

O desafio de oferecer "algo a mais" para conquistar seu espaço

Até mesmo para uma vaga no Brasil, todo mundo deve ter um diferencial a fim de garantir um cargo. Para trabalhar em outros países não poderia ser diferente: é preciso ter algo que o destaque das outras pessoas com as quais está concorrendo.

Esse "algo a mais" pode ser: estudar em algum lugar específico ou conhecer os profissionais da área que possam indicar você para uma vaga. O importante é não ser só mais um no mar de gente que se candidata para a mesma vaga, principalmente se seu alvo for um escritório grande e famoso.

Ser arquiteto brasileiro no exterior é permitir viver experiências únicas

A capacitação exigida para exercer a profissão lá fora

Leo afirma:

“Para todos que me pedem dicas de como conseguir empregos no exterior, sempre sugiro que façam um curso primeiro. O mercado — pelo menos aqui em Londres — é bem saturado de profissionais. Os Europeus vêm de experiências com padrões mais próximos do inglês e critérios de avaliação mais estandardizados”.

Fora isso, ele salienta que a cultura de indicação é muito forte. Para ele, a sociedade britânica é focada no networking. Justamente por isso, a dica principal é procurar cursos que podem ampliar a sua rede de contatos, criando oportunidades de emprego por meio de professores, amigos e até mesmo com iniciativas da faculdade que ajudam os estudantes a entrarem no mercado de trabalho.

E então? Acha que ser um arquiteto brasileiro no exterior é para você? Para conseguir um bom cargo lá fora, é importante ter alguma especialização. Que tal ler nosso conteúdo com as nove carreiras em Arquitetura que estão em alta no mercado?

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