Quantas praças existem no bairro que você mora? Quais áreas verdes, dentre parques, praças, espaços arborizados você encontra no trajeto para o trabalho? As áreas verdes urbanas protegem a biodiversidade local e colaboram na redução de ilhas de calor, do ruído e da poluição do ar. Também aumentam a permeabilidade do solo, parte fundamental da gestão das águas pluviais.
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A vida do Beiral acontece no bairro Santa Mônica, região leste da cidade de Uberlândia (MG), um bairro com característica de subcentro que possibilita que a gente consiga passar boa parte do tempo por aqui, com eventuais deslocamentos para outros lados da cidade.
Dentre tantas vantagens de se morar aqui, a quantidade de praças certamente é uma delas.
As áreas livres têm grande potencial para fortalecer a economia local, especialmente quando falamos de empresas que contribuem para a identidade do lugar, pois se estabelece uma relação de ajuda mútua: enquanto as áreas livres incentivam a vida urbana, a presença do comércio gera mais segurança e atratividade ao lugar.
Quando o processo de urbanização brasileira supervaloriza o concreto e o automóvel, com ocupação urbana desenfreada e impermeabilização excessiva do solo, viver em uma região com grande número de áreas verdes e próximo a um parque, é um privilégio.
Vivemos, moramos e trabalhamos em unidades habitacionais cada vez menores, espaços verdes são um respiro em meio ao caos. Estar ao ar livre é perfeito para o cuidado físico e mental, é lugar para praticar atividades físicas, interagir com as pessoas, ter contato com a natureza ou simplesmente passar um tempo.
Quem nunca fez uma caminhada para espairecer? Ou procurou por uma praça para sentar em um banco e observar a vida acontecer?
A praça é, por definição, um espaço público e urbano, onde o caráter social é sua qualidade mais marcante. É um elemento fundamental na conformação das cidades brasileiras: historicamente, abriga as atividades culturais, econômicas, religiosas e políticas de suas comunidades, cotidianamente, é o lugar do encontro, do lazer e do ócio.
Praça Ismene Mendes - Uberlândia/MG (Foto: Acervo Acervo Tamires de Alcântara)
A configuração e entendimento do que pode ser ou não uma praça depende do contexto urbano, das edificações presentes em seu entorno, do período histórico e, principalmente, da relação estabelecida com as pessoas.
Quase 90% da população brasileira vive em cidades. Na maioria delas, a disponibilidade de áreas livres públicas é menor que o ideal, e estão desigualmente distribuídas no território: enquanto alguns bairros possuem praças, parques, ruas arborizadas e espaços livres facilmente acessados por seus moradores – como é o exemplo do bairro em que moramos – em outros, especialmente os periféricos, as áreas livres públicas são escassas ou não recebem manutenção e equipamentos adequados.
O crescimento desordenado das cidades brasileiras nas últimas décadas, acompanhado da forte especulação imobiliária e a disputa pela terra urbana, fizeram com que os espaços livres urbanos diminuíssem, atingindo não somente as praças, mas também as calçadas e parques. Os loteamentos são projetados para garantir o máximo de área vendável, ficando a área livre pública relegada ao mínimo exigido por lei, muitas vezes, na pior localização.
Publicado em maio de 2024 pela ONU-Habitat, “My Neighborhood” é um guia prático de design urbano para promover espaços urbanos sustentáveis. O compêndio propõe medidas na escala do bairro pautadas em princípios que nos levariam a 05 objetivos da vida nas cidades: compacta, conectada, vibrante, inclusiva e resiliente. Em cada um desses objetivos os espaços livres estão intimamente conectados.
1. Cidade compacta
Na cidade compacta a forma urbana eficiente é caracterizada pela densidade populacional, proximidade de serviços, tempo de deslocamento reduzido e variedade de usos e funções. Embora possa parecer contraditório, é possível alcançar o equilíbrio entre densidade e áreas verdes livres.
Nesse caso, os espaços públicos têm papel importante na percepção de densidade e devem estar bem distribuídos dentro da vizinhança, em rede, de forma a atender mais pessoas. De modo que o deslocamento entre a casa e um espaço público seja de até cinco minutos de caminhada (o equivalente a 400 metros de distância).
2. Cidade conectada
O modelo que dá prioridade às pessoas e ao trânsito, em detrimento dos automóveis. Ela conta com uma rede viária permeável e eficiente com distâncias percorríveis a pé e de bicicleta, para chegar a destinos mais próximos, com acesso a sistemas de transporte multimodais para se conectar com a cidade em geral.
As áreas públicas livres devem formar uma rede interligada e contínua, sem barreiras ou interrupções, que conecte as pessoas, casas e lugares. Os espaços públicos devem apoiar diferentes usos adjacentes, garantindo segurança e acessibilidade universal, como promoção de espaços adequados para crianças nas rotas para as escolas e creches, áreas de estar próximas às atividades comerciais, entre outros.
3. Cidade inclusiva
Pautada na equidade do direito à cidade, a cidade inclusiva oferece o acesso a serviços, emprego, espaço público aberto, transporte público e várias outras oportunidades. Seu ambiente urbano apoia necessidades físicas, econômicas, culturais e sociais de todas as pessoas, com suas habilidades, origens e níveis de renda diversos.
Ao seguir os princípios do desenho universal, esse espaço favorece a caminhabilidade e acessibilidade, promove encontros sociais e facilita a coesão social. Espaços que têm como base a inclusão garantem que as pessoas se sintam bem vindas, acolhidas, seguras e confortáveis, independente de idade ou habilidade, não havendo medo de intimidação ou violência, sem favorecer grupos específicos ou promover gentrificação.
Todas as estruturas e instalações devem ser universalmente acessíveis, seguras e convenientes para uso, sem medidas que causem exclusão e desconforto, como cercas ou segurança visível e ostensiva.
Isso pode ser feito por intervenções de design: sinalização de orientação, áreas adequadas para crianças, arte pública apresentando diferentes culturas, bibliotecas itinerantes, espaço projetado para expressão e reuniões públicas (mobiliário urbano, anfiteatros, tabuleiros, etc.).
4. Cidade Vibrante
Uma cidade vibrante possui um ambiente propício para a construção social, cultural e econômica. Um ambiente urbano vibrante forma a identidade do lugar, facilita interação social, comunicação, atividades físicas e de aprendizagem, atrai pessoas para viver, trabalhar e passar tempo, enquanto contribui positivamente para o bem estar da comunidade. Nessa modalidade de cidade o caráter urbano é enfatizado.
Para valorizar a identidade local e gerar uma forte relação entre as pessoas e o lugar que frequentam, é necessário considerar as especificidades de dinâmica social e cultural das comunidades e do património.
O espaço público é essencial para ativar a economia local! Para negócios informais, por exemplo, podem ser instalados quiosques que serão alugados por vendedores ambulantes. E para a população que frequenta o lugar? Elementos adaptados ao contexto e clima que mantêm o conforto: terraços, pérgulas, mobiliário urbano, arte pública.
Diversidade de atividades apropriadas para cada grupo é um modo de garantir a integração intergeracional, mistura social intercultural e reconhecimento de crianças e idosos como frequentadores ativos do espaço.
5. Cidade resiliente
Cidades resilientes estão menos vulneráveis a mudanças repentinas, mantêm a operação de serviços e sistemas urbanos que podem ajudar a resistir a potenciais crises e facilitar o processo de recuperação.
O design urbano responsivo ao clima é mais eficaz quando aplicado na escala do bairro, onde a morfologia urbana, a geometria de espaços e orientação da rua podem ser manipulados para aproveitar as condições climáticas, logo, tornar o bairro mais resiliente à mudança climática.
Áreas naturais existentes, vegetação e água devem ser preservados e integrados com o bairro através do sistema de áreas livres públicas, fontes de água e florestas urbanas.
A integração com o sistema natural facilita a redução de ilhas de calor urbana, melhora características naturais (superfícies permeáveis para absorver água, árvores duráveis para bloquear quedas de rochas/avalanches, lagoas de retenção, bacias de captação de águas pluviais para capturar o excesso água) mantém a biodiversidade local protegida e proporciona benefícios simultâneos à biodiversidade e ao bem-estar humano.
Usufruir de canais de comunicação com o poder público municipal para pedir manutenção e melhoria das áreas livres é um direito de todo cidadão. Como urbanistas, nos esforçamos para incentivar as pessoas que conhecemos a frequentar e usufruir dos espaços públicos. Quanto mais frequentamos e nos apropriamos desses locais, mais segura, viva e diversa a cidade se torna.
Quando foi a última vez que você fez um piquenique no parque? Que tal se programar para o próximo dia de folga? A construção de cidades mais sustentáveis passa obrigatoriamente pelo cuidado com as áreas livres urbanas. Que estejamos sempre engajados na luta por cidades melhores para todos!