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Novas unidades da APCEF/SC: projeto rigoroso e implantação ousada

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28.08.2020
Um novo prédio para um novo tempo. Um tempo em que o ativo mais importante está na relação do homem com a natureza, neste encontro espontâneo e cotidiano que estimula a observação e a contemplação. A obra da Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal (APCEF-SC), no balneário de Jurerê, mostra que esses valores foram a maior ousadia do projeto, junto com o desenho rigoroso da arquitetura, que explora o geometrismo modernista.
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Ousadia que considerou quatro premissas essenciais: implantação transversal ao mar, privilegiando a orientação solar e a vista; relação com o entorno existente; conforto térmico; e flexibilidade de uso dos alojamentos considerando a mudança de comportamento do usuário. As escolhas de projeto levaram o escritório Pimont Arquitetura a vencer a concorrência para o projeto dos alojamentos da APCEF-SC e ser selecionado para participar da XXII Bienal Pan-Americana de Arquitetura de Quito 2020.

Novos alojamentos têm edificação em dois blocos de apartamentos. A praça principal da associação se estende pelo vão entre os prédios, subindo por uma “arquibancada vegetal” (Fotos: Angelo Mincache)
Novos alojamentos têm edificação em dois blocos de apartamentos. A praça principal da associação se estende pelo vão entre os prédios, subindo por uma “arquibancada vegetal” (Fotos: Angelo Mincache)

“Vencemos a concorrência com a proposta de implantação do prédio integrado à praça central e a preservação da vegetação existente”, reforça o arquiteto Henrique Pimont, autor do projeto. Sua ideia levou a melhor solução ao cliente, atendendo a necessidade de 32 unidades de hospedagem com vaga para carro. A obra tem 3.297 m² de área construída e foi executada de julho de 2018 a dezembro de 2019. 

Para ficar alojado nas antigas 28 unidades disponíveis da APCEF a fila era até 4 anos. A instituição atende todo o Brasil e a sede de Jurerê é a das mais disputadas do país. O cliente solicitou novos alojamentos a serem implantados onde havia uma quadra polivalente, subutilizada. 

Pimont conta que, segundo uma “lenda urbana”, o projeto original da primeira sede da APCEF foi feito a partir de croqui do arquiteto Oscar Niemeyer, autor do primeiro plano de urbanização de Jurerê, na década de 1960. O segundo prédio foi edificado nos anos de 1980. 

Novos alojamentos têm edificação em dois blocos de apartamentos. A praça principal da associação se estende pelo vão entre os prédios, subindo por uma “arquibancada vegetal” (Foto: Fernando Willadino)
Novos alojamentos têm edificação em dois blocos de apartamentos. A praça principal da associação se estende pelo vão entre os prédios, subindo por uma “arquibancada vegetal” (Foto: Fernando Willadino)

EXPRESSÃO DOS MATERIAIS 

A expressão dos materiais explorada no desenho da volumetria é outro fator audacioso do projeto e que causa impacto na região. Pimont brinca com os recursos que o material propõe, sugere brasilidade ao projeto utilizando floreiras em concreto aparente em contraposição à marcação irregular dos montantes de madeira que marcam a composição modular como elemento básico da edificação.

A presença das garagens é filtrada pelos montantes de madeira que ocupam toda a altura do pavimento no térreo (Foto: Fernando Willadino)
A presença das garagens é filtrada pelos montantes de madeira que ocupam toda a altura do pavimento no térreo (Foto: Fernando Willadino)

No térreo, a presença das garagens é filtrada pelos montantes de madeira que ocupam toda a altura do pavimento, proporcionando um fechamento ventilado que ameniza o contato com o estacionamento. A praça principal da associação se estende pelo vão entre os blocos, subindo por uma “arquibancada vegetal”, valorizando esse espaço de convívio com infraestrutura para eventos.

“Nossa simplicidade subtropical tempera o geometrismo modernista”, conclui Pimont, cujo repertório se abastece na referência da arquitetura moderna brasileira sem, contudo, restringir-se a esta escola.

O projeto explora a expressão dos materiais: mistura floreiras e escadas em concreto aparente em contraposição a vegetação e a madeira que marcam a composição modular como elemento básico da edificação. Fotos Fernando Willadino.
O projeto explora a expressão dos materiais: mistura floreiras e escadas em concreto aparente em contraposição a vegetação e a madeira que marcam a composição modular como elemento básico da edificação (Foto: Fernando Willadino)


VISUAL PARA A PRAIA

“Procuramos traduzir na arquitetura um equilíbrio entre a informalidade de uma sede balneária e a institucionalidade adequada a uma associação de servidores de um banco estatal, de forte papel social”, reforça o arquiteto, dizendo ainda que o próprio local sempre aponta uma sugestão de projeto. Ele cita o que ensina Paulo Mendes da Rocha que é “não repetir os mesmos erros”. Por essa razão, um fator decisivo foi a implantação do projeto no terreno. 

Por isso, a escolha por dois blocos de apartamentos implantados de frente para o mar, virados para o norte, com a intenção de privilegiar os visuais, respeitar o ambiente existente e considerando, ainda, as condições climáticas (sol, vegetação, chuva, vento) para minimizar os impactos ambientais e reduzir o consumo energético. 

Fabíola Guimarães e Henrique Pimont, do escritório Pimont Arquitetura (Foto: Pedro Caetano)
Fabíola Guimarães e Henrique Pimont, do escritório Pimont Arquitetura (Foto: Pedro Caetano)

Quebrando o paradigma de implantação transversal ao mar, presente na maioria das edificações próximas, na implantação privilegiamos a orientação solar ideal para todos os apartamentos”, afirma Pimont. O resultado foi um alto nível de adequação bioclimática e eficiência energética, complementado por um layout de plantas que explorou ao máximo a ventilação natural e cruzada.

A implantação também desviou de árvores de grande porte existentes, preservou o ambiente e micro clima local e o projeto se estendeu até o espaço público, requalificando a rua de acesso à praia. Com a reorganização dos espaços de veículos, a via para os pedestres foi valorizada, além do cliente fazer o replantio da restinga junto à praia, contribuindo para a reconstituição do importante bioma.

Pode-se considerar, ainda, que outra ousadia de projeto é a proposta de circulação aberta nas escadas, proporcionando ao usuário a observação da paisagem enquanto caminha pelo prédio. 

A implantação dos prédios voltados para o mar desviou de árvores de grande porte existentes, preservou o ambiente e o projeto requalificou a rua de acesso à praia (Foto: Fernando Willadino)
A implantação dos prédios voltados para o mar desviou de árvores de grande porte existentes, preservou o ambiente e o projeto requalificou a rua de acesso à praia (Foto: Fernando Willadino)

PROGRAMA PROPOSTO

O programa proposto atendeu a Associação com os 32 novos alojamentos e apontou caminho para ampliação futura. A edificação tem elevadores, sinalização tátil e apartamentos desenhados e mobiliados especialmente para utilização por pessoas com deficiência. 

Os novos alojamentos, com estrutura modular, atendem a mudança no perfil das famílias, se adequando aos novos comportamentos. As antigas unidades abrigavam de 5 até 8 pessoas, tornando o espaço ocioso a cada ano. As novas se dividem entre unidades padrão para 4 pessoas, estúdios para 2 pessoas e unidades conjugadas para até 6 pessoas. 

Os apartamentos têm plantas flexíveis, com estrutura modular, para atender a mudança no perfil das famílias (Foto: Fernando Willadino)
Os apartamentos têm plantas flexíveis, com estrutura modular, para atender a mudança no perfil das famílias (Foto: Fernando Willadino)
Os apartamentos têm plantas flexíveis, com estrutura modular, para atender a mudança no perfil das famílias (Foto: Fernando Willadino)
Os apartamentos têm plantas flexíveis, com estrutura modular, para atender a mudança no perfil das famílias (Foto: Fernando Willadino)

ENERGIA FOTOVOLTAICA

O prédio é utilizado com capacidade plena apenas no verão, com ocupação menor no restante do ano. Essa condição determinou a escolha pela instalação de chuveiros elétricos e a dispensa por um sistema central de aquecimento. Em paralelo, o arquiteto intermediou a contratação de um sistema de energia fotovoltaica e uma usina privada foi instalada na cobertura, com financiamento de longo prazo. “Incorporamos tecnologia de energia renovável, permitindo economia de tubulações e de sistemas que ficariam subutilizados e exigiriam maior manutenção”, avalia.

O resultado, segundo o arquiteto, foi a construção de um edifício com qualidade e orçamento baixo, dentro das capacidades de investimento da Associação, sem qualquer comprometimento da sua capacidade financeira.

Ousadia: circulação aberta nas escadas brutas proporcionam ao usuário a observação da paisagem. Piso da linha Twist, da Portobello (Foto: Arquivo/Pimont Arquitetura)
Ousadia: circulação aberta nas escadas brutas proporcionam ao usuário a observação da paisagem. Piso da linha Twist, da Portobello (Foto: Arquivo/Pimont Arquitetura)
No interior, opção pelo piso da linha Twist Fog e Mineral Técnica Stop Grafite (piso podotátil), ambos da Portobello. Parede central da escada em concreto aparente e corrimão em madeira maciça Garapeira (Foto: Fernando Willadino)
No interior, opção pelo piso da linha Twist Fog e Mineral Técnica Stop Grafite (piso podotátil), ambos da Portobello. Parede central da escada em concreto aparente e corrimão em madeira maciça Garapeira (Foto: Fernando Willadino)
Corredor aberto para a praça com iluminação dirigida para o piso para não interferir na ambientação dos apartamentos. Piso da linha Twist Fog, da Portobello (Foto: Fernando Willadino)
Corredor aberto para a praça com iluminação dirigida para o piso para não interferir na ambientação dos apartamentos. Piso da linha Twist Fog, da Portobello (Foto: Fernando Willadino)

Novos Alojamentos Apcef-SC

Localização – Balneário de Jurerê, Florianópolis

Projeto: Escritório Pimont Arquitetura, arquitetos Henrique Pimont e Alejandro Ortiz.

Execução da obra: julho de 2018 a dezembro de 2019 – EPC Engenharia

Área construída – 3.297,70m2

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Foto de destaque: Angelo Mincache

Novos alojamentos têm edificação em dois blocos de apartamentos. A praça principal da associação se estende pelo vão entre os prédios, subindo por uma “arquibancada vegetal”
Novos alojamentos têm edificação em dois blocos de apartamentos. A praça principal da associação se estende pelo vão entre os prédios, subindo por uma “arquibancada vegetal”
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Simone Bobsin
Colunista
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Jornalista com atuação no segmento de arquitetura e design há mais de duas décadas....

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