Sem dúvida, Affonso Eduardo Reidy foi um arquiteto brasileiro que teve grande influência na modernidade carioca.
Na época, a cidade era o Distrito Federal. Por isso, recebeu importantes projetos dos quais Reidy fez parte, já que era profissional concursado da prefeitura.
Entre eles, fez história com obras emblemáticas como o Museu de Arte Moderna (MAM) e o Conjunto Habitacional da Gávea.
De maneira geral, a carreira de Reidy foi trilhada como funcionário público. Além disso, foi professor universitário.
Ele atuou em um período de ascensão do Rio de Janeiro. Mas, claro, sem deixar de lado a bossa da Cidade Maravilhosa, que influenciou a arquitetura.
Em uma época repleta de renovação cultural e artística, Reidy ajudou a levar modernidade também ao urbanismo da capital.
Saiba mais sobre a sua história e as suas obras!
História de Affonso Eduardo Reidy foi marcada por grandes nomes e obras
Filho de um inglês e de uma brasileira, Affonso Eduardo Reidy nasceu em Paris, em 26 de outubro de 1909. Entretanto, foi criado no Brasil, onde fez carreira.
Ele estudou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e concluiu o curso de Arquitetura e Urbanismo em 1930.
Foi estagiário de Alfredo Agache, urbanista francês responsável pelo plano diretor do Rio de Janeiro. Estavam previstos a remodelação, a expansão e o embelezamento da cidade.
Durante esse projeto, Reidy foi introduzido a três conceitos de Agache:
- a ideia de cidade funcional;
- a valorização das áreas públicas como espaços educativos para os cidadãos;
- o planejamento em larga escala.
Assim, a então capital do país ganharia uma imagem cosmopolita, seguindo outras grandes metrópoles do mundo. Isso sem deixar de lado um dos seus principais atributos: a paisagem natural.
Dessa experiência, Reidy saiu com uma visão técnica da cidade. Portanto, tornou-se capaz de buscar metodologias e instrumentos para a resolução de problemas.
O arquiteto foi casado com Carmen Portinho, terceira mulher a se formar engenheira no Brasil. Juntos, foram responsáveis por diferentes projetos no Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal, fundado por ela.
Eles ainda propuseram um projeto global de conjuntos residenciais que funcionassem de forma autônoma e estivessem em diversos pontos da cidade. A iniciativa tinha um cunho social, em que a habitação era vista como um serviço público.
Um exemplo de projeto desse tipo é o Conjunto Habitacional Pedregulho, construído pelo Departamento de Habitação Popular.
Reidy faleceu em 10 de agosto de 1964.
De professor a arquiteto concursado durante renovação do Rio de Janeiro
Voltando um pouco na história, no ano em que se formou, Affonso Eduardo Reidy foi indicado para ser assistente do arquiteto Gregori Warchavchik na Escola Nacional de Belas Artes.
A recomendação para atuar ao lado do pioneiro do modernismo brasileiro veio de ninguém menos que o mestre Lúcio Costa.
Em pouco tempo, o jovem arquiteto assumiu o cargo de professor que antes era de Warchavchik. As disciplinas eram Desenho e Planejamento Urbano.
Portanto, Reidy contribuiu para a formação de diversos arquitetos da chamada Escola Carioca.
Em 1931, ele ficou em primeiro lugar no concurso para construir um abrigo para moradores de rua, o Albergue da Boa Vontade. Uma obra tipicamente racionalista e uma das pioneiras da arquitetura modernista no Rio de Janeiro.
Ainda no início da década de 1930, foi aprovado no concurso público como arquiteto-chefe da Secretaria Geral de Viação, Trabalho e Obras da Prefeitura do Distrito Federal.
Em 1936, Reidy integrou a equipe que projetou o prédio do Ministério da Educação e da Saúde, atualmente conhecido como Edifício Gustavo Capanema.
A direção do projeto foi de Lúcio Costa. Outros grandes nomes fizeram parte desse grupo, como Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Jorge Machado Moreira e Ernani Vasconcellos.
Além desses renomados profissionais, Reidy teve a influência de Le Corbusier. Tudo começou quando era aluno, a partir da leitura das obras do arquiteto.
Dele, herdou uma visão mais poética sobre a arquitetura, o que equilibrava suas habilidades técnicas adquiridas com Agache quando era estagiário.
Durante sua vida profissional, alternou entre os cargos de diretor do Departamento de Habitação Popular e do Departamento de Urbanismo.
O arquiteto prestou serviço à prefeitura por 30 anos e se aposentou no início da década de 1960.
Projetos principais de Affonso Eduardo Reidy
Um dos maiores nomes do urbanismo moderno no país, Affonso Eduardo Reidy não é conhecido como Niemeyer, mas teve importante contribuição e reconhecimento por outros atributos de grande relevância.
Foi um arquiteto técnico eficiente, que ajudou a transformar a realidade da cidade. Isso graças aos seus preceitos formais, construtivos e funcionais, além dos aspectos urbanísticos e sociais, fundamentais na arquitetura. Conheça, a seguir, algumas de suas principais obras.
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM)
Um dos projetos mais emblemáticos de Affonso Eduardo Reidy foi concebido em 1954: o MAM. A entrega da obra data de 1967.
A estrutura arrojada é uma das primeiras em concreto armado aparente no Brasil. Localizado no Flamengo, o prédio tem planta retangular apoiada por 14 pórticos trapezoidais.
Minhocão da Gávea
O Conjunto Habitacional Marquês de São Vicente, mais conhecido Minhocão da Gávea, tem uma concepção espacial de destaque. Ele forma uma linha curva que fica acima do Túnel Zuzu Angel.
Aliás, a construção do túnel foi um dos motivos para mudanças relevantes no projeto original. Além de impactar o desenho da cidade, afetou o que foi pensado para o térreo do edifício. Para começar, o prédio conta com 328 células habitacionais, mas previa 748.
Também estavam previstos creche, escola (primária e secundária), playground, mercado, quadras de esporte e teatro, entre outras comodidades. Contudo, apenas o posto de saúde e as lavanderias compõem a obra final.
Todos esses elementos foram pensados porque o Minhocão da Gávea foi construído para substituir as habitações de uma favela que ocupava o mesmo local. Sendo assim, a ideia era que fosse um espaço que reunisse todas as conveniências necessárias para os moradores.
Essa é uma construção que sintetiza a integração das edificações com a paisagem natural. O respeito pelas condições topográficas do lugar reflete a influência de Le Corbusier. No entanto, a intervenção em grande escala também mostra como Agache se fez presente nas obras do arquiteto.
Conjunto Residencial Pedregulho
Datado de 1952 e conhecido como Pedregulho, o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes é considerado pelos críticos como a obra-prima de Affonso Eduardo Reidy, juntamente ao Minhocão da Gávea.
No entanto, esse também é um dos projetos mais criticados do arquiteto. Na visão de pós-modernistas, ele não considera as necessidades e características da população. E esses fatores seriam os responsáveis pela degradação.
Inicialmente, foi projetado para ser residência de funcionários públicos. Eram 328 apartamentos em uma construção em linha curva com vista para a Baía de Guanabara. A obra segue a arquitetura corbusiana e fica em São Cristóvão.
Aterro do Flamengo
A integração da cidade e a democratização do uso dos espaços são preceitos de Affonso Eduardo Reidy que aparecem no Aterro do Flamengo, entre o Aeroporto Santos Dumont e a Enseada de Botafogo.
Além de ligar as zonas Norte e Sul do Rio de Janeiro, o projeto conta com um parque, que gera ambientes de lazer e convivência para os cariocas.
Na estrutura, os principais pontos são o sistema viário e o paisagismo.
O resultado é o Parque do Flamengo, conhecido por alterar a visão europeia de Pereira Passos, dando lugar ao modelo de espaço público brasileiro.
Residência Carmen Portinho
A construção de 1950 leva o nome da esposa de Affonso Eduardo Reidy e está localizada no bairro de Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade.
Fica em meio à vegetação, em um terreno com mais de 9 mil m². Há um declive bastante acentuado, que permitiu a divisão em dois volumes. Para que houvesse a conexão, foi criado um pátio interno com passarela.
O primeiro pavimento está diretamente no solo. O segundo foi projetado sobre pilotis, de modo a proporcionar uma visão do horizonte.
Na parte de baixo é feito o acesso principal, com direito a garagem, área de serviço e quarto de empregada. Já em cima fica a casa em si, com sala de estar, cozinha e suíte.
Teatro Armando Gonzaga
De 1954, o projeto do teatro reúne Affonso Eduardo Reidy e outras personalidades. Os jardins, por exemplo, são de Roberto Burle Marx. Já os painéis das laterais são de Paulo Werneck.
Localizado em Marechal Hermes, Zona Norte do Rio de Janeiro, o edifício foi tombado em 1989. Contudo, passou por reforma em 1996, para ampliar o conforto e a eficiência.
A exemplo do legado de Affonso Eduardo Reidy, conhecer o passado certamente ajuda a entender o presente. Assim, é possível se adiantar e fazer projeções para o futuro. Nesse contexto, que tal conferir as principais tendências para 2022 e se inspirar?
Foto de destaque: Affonso Eduardo Reidy foi um dos primeiros modernistas brasileiros (Foto: Arquivo Nacional)