A urgência do minimalismo
A tendência passou a figurar em reports de previsão de futuro, na medida que começamos a receber notícias sobre escassez de recursos – tem um trabalho interessante, feito pela Global Footprint Network, que afirma que hoje já é necessário “1.6 planetas” para dar conta do nosso consumo anual de recursos naturais. Como só existe um planeta Terra, estamos esgotando recursos de gerações futuras e para agora também.
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Além disso, não podemos negar outras variáveis como crise financeira, e também muitas pessoas começando a “vida adulta” sem emprego, ou ganhando ainda muito pouco, o que faz com que viver com menos não seja questão de escolha. Então seja por consciência ou por necessidade, pensar em uma vida minimalista passou a fazer cada vez mais sentido.
O conceito começou surgiu durante a década de 60, atrelado a manifestações artísticas e culturais que defendiam o uso apenas do básico para se expressar. Com o passar do tempo foi incorporado em diversas outras áreas, ganhando o caráter de estilo de vida.
A principal característica deste estilo de vida é o desapego. Está relacionado com pessoas que priorizam o ser e o viver ao invés do ter – um movimento quase que de contracultura se considerarmos que tudo à nossa volta nos leva a querer sempre mais.
O que aconteceu foi que, muitas pessoas que conseguiram conquistar muito, principalmente recursos financeiros, foram entendendo que várias de suas necessidades imateriais não foram atendidas, levando a uma revisão de vida. Começamos então a ouvir falar mais sobre propósito, reconexão com a natureza, revisão de valores e expansão de consciência.
A economia e redução de gastos pode ser uma consequência da vida minimalista. Quando a gente resolve viver com menos coisas, naturalmente muitos gastos são eliminados e há uma reorganização financeira, geralmente investindo mais em experiências e momentos de prazer do que em “coisas”.
O minimalismo está bastante relacionado ao consumo. Mas não significa que a meta seja viver com pouco, “apertado” ou fazendo sacrifícios. O objetivo deve ser identificar o que é essencial e focar nisso. Viver com o necessário – e da forma necessária – para cada momento, livre de demandas externas, imposições ou desejos criados por outros.
Mas não seria errado dizer que o minimalismo prega o desapego. Com o tempo, a tendência é realmente entender que nada vai preencher totalmente as nossas necessidades, então se é assim, porque não tentar viver com menos dependência delas? Praticar o minimalismo é acima de tudo um exercício de autoconhecimento.
Em retorno a esta forma de estar no mundo, é provável termos mais tempo, mais liberdade, uma vida mais leve, com mais tempo produtivo e geralmente menos ansiedades. Já que o minimalismo é um estilo de vida, ele pode ser aplicado de várias formas, da moda à decoração – e se estamos falando sobre renunciar ao que não é essencial, podemos pensar até em hábitos, atividades...
Porém não há regras. Da mesma forma que não se restringe apenas a questões materiais, pode funcionar diferente para cada pessoa, sendo impossível assim criar fórmulas ou regras. Mas aqui vou compartilhar alguns aprendizados que fizeram sentido para mim:
Na decoração
Na decoração e na arquitetura o minimalista coloca em prática o “menos é mais”. Não necessariamente tem só a ver com o que é básico, mas sim com a atenção à necessidade e funcionalidade de tudo.
Por isso geralmente são espaços mais “limpos”, com menos coisas. Poucos móveis e o mínimo de adereços. Desta forma há a sensação de que os ambientes ficam mais amplos e organizados. Mas nem por isso precisam ser ambientes sem graça ou sem personalidade.
Se por um tempo se considerou que o minimalismo tinha a ver somente com cores sóbrias e neutras, eu particularmente gosto de olhar não para as regras, e sim para o valor e os benefícios. Principalmente quando se fala de Brasil onde cores e estampas tem muito apelo, eu acredito na licença poética de criar ambientes minimalistas que tenham sentido para si.
Na arquitetura as linhas retas e traços geométricos têm a ver com o movimento artístico, onde tudo começou. Mas não fique preso às regras. Um perigo grande aqui é pensar que para ser minimalista é preciso mudar tudo, gastar muito, com materiais caros, quando na verdade podemos rever aquilo que já temos e buscar alternativas essências e que tenham sentido.
Você pode adaptar a sua casa, priorizando a organização do que já tem, buscando dar mais destaque e respiro ao que você gosta, priorizando a qualidade e a funcionalidade do que realmente precisa. A liberação de espaço físico também tem tudo a ver com o minimalismo.
Com o tempo, tem muita gente que percebe que não precisa de tantos móveis e objetos decorativos. Que há livros que já foram lidos e que podem ser doados - caso não sirva para consulta. Que há móveis que não são usados e que podem ter sentido para outra pessoa. Assim como um monte de coisa dentro das gavetas.
A iluminação natural e a presença de plantas são alguns elementos comuns a projetos minimalistas, talvez pela “naturalidade” e pela sensação de estarmos “fora”, em contato com a natureza, afinal de contas, há algo mais essencial do que isso?
Na moda
Um guarda-roupas minimalista tem como base roupas versáteis e fáceis de combinar. Se pararmos para analisar vemos que temos muitas roupas no armário, mas usamos praticamente as mesmas, e geralmente são as mais versáteis e minimalistas, mesmo que a gente não se dê conta.
Além de existirem marcas com esse conceito - e eu adoro a Milk para camisetas, a Oriba para moda masculina e a Haight para moda praia feminina - você não precisa se desfazer do que tem e sair comprando coisas novas, basta você olhar para o que usa e considera essencial.
E caso venha a comprar, lembre-se sempre, se possível, em priorizar a qualidade, a durabilidade das peças, considerando também a sua origem e os impactos em ambientais e sociais para serem feitas. Se estamos falando que o minimalismo é um movimento pela vida, precisamos pensar também em outras vidas além da nossa.
Assim como na decoração não tem regras. É preciso identificar o que tem mais sentido para você. Durante um tempo se relacionava o minimalismo – e o consumo consciente – a tons neutros, claros... Existe uma explicação, certamente são peças mais versáteis, porém para cada pessoa pode ser diferente.
Se o seu armário minimalista é tipo o da Mônica ou da Magali dos quadrinhos, com apenas uma peça amarela ou vermelha e isso funciona para você, ok.
Pergunte sempre:
Eu realmente preciso disso?
De onde vem essa necessidade?
Existe alguma outra forma de acesso, como trocar, consertar, pegar emprestado...?
Para se aprofundar:
Siga @seja.minimalista – aproveite para baixar o livro “Seja minimalista”.
Assista ao documentário “Minimalismo” na Netflix.