Saúde combina com estilo e conforto
Na arquitetura e nos projetos de interiores, principalmente, os holofotes voltam-se para os espaços na área da saúde este ano. E os profissionais que têm experiência no setor ganham relevância. O layout dos ambientes, a disposição de mobiliário, acessórios e equipamentos obedecendo normas técnicas já eram lei nesses espaços, mas agora viraram notícia. No final de 2019, quando o mundo começava a ter conhecimento de que uma pandemia tomava corpo, o escritório BG Arquitetura entregava o projeto de uma clínica médica.
Meses depois, a empresa estaria engajada em um movimento chamado Arquitetos Voluntários que passaria a criar ambientes para cuidar de quem cuida dentro de hospitais gaúchos. As necessidades dos profissionais da área da saúde para terem condições de atender da melhor maneira seus pacientes tornaram-se evidentes.
Dentro do amplo espectro de atuação desde 1998, a BG Arquitetura tem cuidado de cínicas e consultórios médicos a tal ponto que hoje esse tipo de projeto corresponde a mais de 30% das criações do escritório. E isso credencia os profissionais do escritório a ocuparem espaço no setor e a ensinarem o valor de seguir as regras técnicas e a se antecipar às necessidades.
– É um tipo de projeto que demanda muito conhecimento técnico e atenção aos detalhes, onde cada especialidade tem suas características – ressalta a arquiteta Cynthia Garcia, o “G” da marca.
As diretoras Madia Borges (o “B”) e Cynthia fazem o atendimento sempre em times com os demais sócios (Rosandra Gaspodini, Cristiano Nickel e Tatiane Mallmann), juntamente com os estagiários. Nas equipes, também contam com parceiros arquitetos e designers, dependendo do escopo.
– Nosso trabalho é essencialmente em equipe, pois desde a concepção do projeto já trabalhamos com o time de marketing do cliente e os especialistas na área de engenharia e construção – revela Cynthia.
Clínica dentro de complexo médico
Neste projeto, de uma clínica dermatológica e de cirurgia plástica, com área de 138 metros quadrados de área dentro do Mãe de Deus Center, complexo ligado ao Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, a arquiteta Cynthia foi a titular e o arquiteto Cristiano, o coordenador. Ambos acompanharam a execução da obra. Como estagiárias, Carolina Poli e Julia Zorrer fizeram parte do time.
– Este projeto foi desenvolvido antes da pandemia, mas nunca gostamos de salas de espera apertadas, então sempre procuramos ter lugares amplos e arejados para os pacientes, não usamos muitos móveis, nem TVs, preferimos um WiFi bom e confortos como tomadas USB. A sala de espera VIP é um conforto extra para o paciente que tem de colocar algum anestésico para fazer procedimento poder ficar à vontade numa área em separado. Esta sala é muito conveniente agora, com a pandemia. Nesta sala VIP, foi criada uma charmosa bancada em mármore de carrara com iluminação especial para uma rápida maquiagem e teste de produtos.
Não existia compartimentação dos ambientes da clínica e a equipe da BG fez então uma análise dos espaços disponíveis dentro do Mãe de Deus Center.
– Esta obra envolveu os gestores do prédio, pois propusemos a instalação de um sanitário acessível PNE voltado para a circulação, beneficiando todas as clínicas do 12º andar – uma iniciativa da BG, prontamente aceita pelo gestor do prédio. Outra facilidade desta clínica é o acesso de médicos e funcionários separado daquele dos pacientes – diz Cynthia. Outro detalhe são os espaços específicos de apoio obrigatórios nas clínicas como a Central de Material Esterilizado (CME), o Depósito de Material de Limpeza (DML), sanitários e copa para médicos e funcionários.
Boas-vindas
Os cuidados percebidos pelos usuários, que nem chegam a perceber a complexidade técnica das clínicas de saúde e o esforço para prover o seu conforto, começam na recepção de 35 metros quadrados. E há também a recepção VIP, de 7 metros quadrados, para conduzir os pacientes a um recanto com privacidade. A Portobello está presente nessa área da recepção e do lavabo com porcelanato Oro Bianco 90cm x 90cm e, nos demais ambientes, com Pietra di Firenze Nude, material aprovado em espaços ligados a atendimento ou procedimentos na área da saúde. Ripados vazados verticais (o uso vertical é para facilitar a limpeza e o não acúmulo de poeira) e painéis em melamina e vidro jateado dividem as áreas de atendimento e de exames nos consultórios.
Para evitar a aparência de ambiente hospitalar, a BG caprichou no projeto luminotécnico. Cynthia ensina o que foi usado: iluminação indireta na recepção, com spots direcionais e temperatura de 4000k com intensidade de 300lux. Nos consultórios, a potência já sobe para 500lux, mantendo a cor mais suave. E, na sala de procedimentos, a luz é direta com temperatura de cor 6000k com intensidade acima de 500lux.
Na compartimentação proposta, os consultórios têm metragens diferenciadas pela natureza do atendimento: um dos espaços é exclusivo para o cirurgião plástico e já tem uma sala de procedimentos acoplada, esta, de 20 metros quadrados. Outro médico tem consultório de 13 metros quadrados; a doutora, espaço com 15 metros quadrados – que tem a maca de exames separada por biombos de madeira e vidro jateado –; e o quarto consultório é destinado a atendimentos diversos, de profissionais parceiros.
Todo o mobiliário tem design da equipe da BG, menos a mesa de um dos médicos que foi reaproveitada do seu consultório anterior e que traz a memória afetiva por ter sido desenhada pela irmã dele, a arquiteta Tatiana Maino que atualmente vive nos Estados Unidos. “Como a mesa era de madeira natural e vidro marrom café, usamos o mármore marrom imperador para unir os diferentes tampos em composição com as melaminas no tom fendi”, conforme a arquiteta Cynthia.
Para os consultórios da médica e do outro doutor, foram desenhadas mesas de vidro branco. O trabalho de criação de mobiliário chega até as macas, todas desenhadas para terem a funcionalidade necessitada pelos profissionais de saúde, com a adaptação de aparelhos como eletrocautério nas gavetas.
Para compor com esses móveis, a equipe da BG buscou usar peças com revestimentos adequados a clínicas médicas, de corino e vinil, mas de cores diferentes, como o tom fendi nas macas de exames. Usar tecidos em consultórios é proibido pelas normas técnicas.
Na decoração, como alternativa às plantas naturais (também proibidas), foi especificado um “vaso com planta artificial bem escultural e fácil de limpar como a réplica da folha de Guaimbé”, ensina a arquiteta, que conta terem aplicado também papel de parede em vinil, lavável e impermeável que tem textura e aparência de tecido”, este, outro material banido dos ambientes ligados à saúde.
Experiência em diversas áreas
Ao longo de mais de duas décadas, a BG já entregou mais de 800 lojas, montaram muitas franquias, que requerem uma formatação a ser replicada, de negócios de tintas, a telefonia e confeitaria. Concept stores, bares e restaurantes fazem parte desta lista. E, por mais de 10 anos, a BG dedicou-se a conceber eventos e espaços de arquitetura efêmera.
– Os projetos de arquitetura corporativa, como sedes de empresa e concessionárias de veículos, são tipos de projetos onde temos a oportunidade de construir os prédios desde a fundação até o projeto de interiores e a ambientação – destaca Cynthia.
Lançamentos imobiliários têm tido a contribuição da BG Arquitetura, com as equipes multidisciplinares de ambas empresas trabalhando em conjunto os conceitos de interiores e os espaços que os empreendimentos devem oferecer aos seus moradores. Apartamentos decorados fazem parte do portfólio do escritório e o segmento residencial sempre esteve dentro das atividades da BG, segundo a arquiteta: “Acreditamos que estes projetos se complementam com os corporativos e os materiais e tendências se cruzam”.
– A empresa evoluiu nestes 25 anos, mas uma coisa nunca mudou, nosso olhar personalizado com foco no detalhe e nas necessidades e oportunidades de cada cliente para que o projeto reflita a sua personalidade – conclui Cynthia.
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Foto de destaque: O porcelanato Oro Bianco contracena com os ripados, ambos valorizados pela iluminação agradável e acolhedora da recepção (Crédito da foto: arquivo pessoal das arquitetas Tatiane Mallmann e Cynthia Garcia)