100 Lives depois: o que muda na casa?
Já faz alguns anos que Paulo Mendes da Rocha (cânone da Escola Paulista, uma das mais prolíficas do Brutalismo-Modernismo brasileiro, vencedor do prêmio Pritzker e do Leão de Ouro da Bienal de Veneza) nos contou em entrevista que “a arquitetura foi feita para amparar a imprevisibilidade da vida”. Aquilo jamais sairia das nossas cabeças. Mas foi durante a pandemia da Covid-19, situação mais imprevisível do século, que o mundo percebeu que ela, a arquitetura, é, de fato, uma das principais aliadas da própria ciência na preservação e evolução da espécie humana. Primeiro, pela sua condição elementar de abrigo diante da emergência sanitária que conduz ao isolamento, seja em casa, na organização das metrópoles, nos hospitais de referência ou nas unidades de campanha que precisaram brotar na velocidade da luz para contingenciar o eventual colapso do sistema público de saúde. Depois pela capacidade de compactar novas necessidades e anseios escoltados pelas paredes que chamamos de nossas – a segunda pele que habitamos e a que nos protege do resto do mundo durante “apocalipses” contemporâneos como o provocado pelo novo Coronavírus. Sob esse aspecto, na era em que fomos confrontados intensamente com nossas escolhas (ou melhor, oportunidades) de morar, o exercício crítico se fez mais presente do que nunca, quase como uma tormenta.
A ressignificação dos hábitos indoor, uma nova relação com o sentido do tato, as ergonomias cotidianas revisadas e ampliadas, agora somadas ao home office e, em muitos casos, em áreas que precisam se metamorfosear para acomodar simultaneamente atividades como lazer, estudos, pequenas oficinas e zonas de convívio, continuam amplamente discutidas no universo digital – só nós, os Decornautas, realizamos mais de 100 lives nos últimos 90 dias. Essas conferências áudio-visuais se tornaram a febre durante a quarentena, em todas as áreas, incluindo o setor da construção civil. Particularmente, em nossos diálogos com grandes pranchetas brasileiras (de Marcio Kogan a Arthur Casas, de Sig Bergamin a Alex Hanazaki, de Ricardo Bello Dias a Guilherme Torres, de Patricia Anastassiadis a David Bastos, de Gustavo Penna a Débora Aguiar, de Osvaldo Tenório a Jader Almeida, de Jayme Bernardo a Leo Shehtman), lançamos questões como a (re)organização das metrópoles, sistemas de moradia popular mais dignos (não dá para falar em eficácia do isolamento social quando as condições de habitação e saneamento básico são excludentes e escancaram os hiatos sociais), a arquitetura enquanto instrumento de cura, mobilidade urbana, o despertar e a catálise de determinadas tecnologias e, claro, exercícios futurologistas de como nossos refúgios devem se adaptar diante dos novos hábitos comportamentais, códigos sociais, panoramas econômicos, modelos de consumo e outros etceteras. Ouvindo todas essas fontes, algumas mais otimistas, outras menos, amalgamadas por profissionais de diferentes estilos, escolas, campos de atuação e níveis de projeção, fizemos um ranking de possíveis (e imagináveis) conversões do “morar” daqui pra frente. Algumas inacreditavelmente já em execução, outras tantas, quase utópicas.
Faça suas apostas e acompanhe o bate-papo no IGTV @portobello com os Decornautas!