Yasmeen Lari: conheça a primeira arquiteta paquistanesa
Yasmeen Lari já entrou para a história da arquitetura. A primeira arquiteta paquistanesa é conselheira da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e constrói casas para milhares de pessoas afetadas por terremotos e inundações no Paquistão.
Portanto, além de ser um símbolo da inclusão das mulheres, a profissional tem um papel importantíssimo na arquitetura social do seu país, ajudando inúmeras comunidades. Quer saber mais a respeito dela? Continue a leitura deste artigo!
A história de Yasmeen Lari
Ainda criança, Yasmeen Lari conheceu o poder da arquitetura ao ver seu pai, que era arquiteto, transformar o espaço do deserto paquistanês em centros urbanos. Ele também foi o responsável por planejar o desenvolvimento de Lahore, uma importante cidade histórica do Paquistão.
Durante a infância, ela percebeu a carência de arquitetos e, principalmente, de arquitetas em seu país. Com isso em mente, decidiu estudar artes para aprender a desenhar e, depois, se formou em Arquitetura pela Oxford Brookes University, no Reino Unido.
Após a graduação, com 23 anos, Yasmeen retornou ao Paquistão e abriu o seu escritório, o Lari Associates, tornando-se a primeira arquiteta do país. Em um setor dominado por homens, mais do que conquistar os primeiros trabalhos, ela tinha que lutar para conseguir respeito como profissional.
Apesar dessa dificuldade inicial, Yasmeen deixou seu nome na arquitetura paquistanesa e mundial, projetando obras que se destacam pela elegância arquitetônica.
Os principais trabalhos de Yasmeen Lari
Após a fundação do seu escritório, Yasmeen Lari trabalhou em vários projetos importantes. Alguns dos edifícios mais memoráveis da sua carreira são o Finance and Trade Center, o Pakistan State Oil House e o ABN Amro Bank, em Karachi.
O Finance and Trade Center foi projetado com consultoria da arquiteta canadense Eva Vecsei. O prédio foi planejado em torno de uma rede de pátios ajardinados e empregou métodos tradicionais de resfriamento dos espaços, minimizando o uso do ar condicionado.
Yasmeen também se tornou a primeira mulher presidente do Conselho de Arquitetos e Urbanistas do Paquistão e foi eleita para integrar o Instituto Real de Arquitetos Britânicos.
Ela manteve seu escritório até os anos 2000, projetando simultaneamente para as classes altas e baixas de seu país.
Apesar da trajetória de sucesso, não foram raras as vezes em que Yasmeen lidou com o machismo, tendo a sua autoridade e o seu conhecimento sendo frequentemente questionados e até ridicularizados por homens.
Apesar disso, sua marca está presente em diversas construções dos cidadãos paquistaneses e até do governo paquistanês.
A arquitetura social
Em 1973, Yasmeen Lari projetou a primeira iniciativa de habitação pública do Paquistão, chamado Anguri Bagh, em Lahore.
Quando o projeto foi apresentado às mulheres que moravam em casas sujeitas a inundações, uma das principais preocupações foi o que aconteceria com suas galinhas se elas se mudassem para um alojamento público.
Yasmeen, então, fez um esquema com terraços abertos ao ar livre, no qual elas poderiam criar seus animais e deixar seus filhos brincando.
O nome do projeto deriva do jardim mongol que existiu no local. Já o design com ruas estreitas, passarelas e pátios foi influenciado pelas cidades medievais paquistanesas.
Outro projeto ambicioso aconteceu em 1980. Trata-se do Lines Area Resettlement, que realojou 1300 pessoas em casas construídas com o cuidado de não distanciá-las de onde moravam e trabalhavam.
A obra consistia em casas autoconstruídas e incrementais para os residentes do maior assentamento informal do país, espalhado por mais de 80 hectares no coração de Karachi.
Usando o conceito de compartilhamento de terras e autofinanciamento, o projeto ajudou a reassentar inúmeras famílias. O desenho urbano foi baseado nas antigas cidades paquistanesas, com ruas estreitas e praças públicas.
No mesmo ano, Yasmeen e seu marido fundaram a Heritage Foundation, com o objetivo de pesquisar técnicas tradicionais de construção, projetos de restauração histórica e modos de salvaguardar o patrimônio cultural, de artes e ofícios do Paquistão.
A fundação também treina pessoas de comunidades marginalizadas para fazerem componentes de construções e produtos que podem, posteriormente, ser vendidos e ajudar a população local a superar a pobreza.
A aposentadoria e o recomeço
Em 2000, Yasmeen Lari decidiu fechar o seu escritório e se aposentar. No ano de 2003, ela se tornou conselheira nacional da Unesco para o projeto de preservação do Forte Lahore, considerado Patrimônio Mundial. No entanto, em 2005, um terremoto de magnitude 7,8 na escala Richter atingiu várias áreas do norte do Paquistão, matando 80 mil pessoas e deixando 40 mil famílias desabrigadas.
Após esse acontecimento, a vida e obra de Yasmeen se transformaram completamente.
Apesar de seus estudos e esforços para manter as tradições construtivas paquistanesas, a arquiteta resolveu reconstruir as casas usando moradias pré-fabricadas, estruturas de concreto e chapas de ferro galvanizadas doadas por diversas agências — além de seus conhecimentos construtivos com lama, cal, pedra e madeira, presentes nos escombros.
Com isso, Yasmeen conseguiu construir casas econômicas e ecológicas, ajudando um grande número de famílias desabrigadas. Ao lado de uma equipe de voluntários, ela ensinou as pessoas a usarem os materiais tradicionais para que construíssem moradias melhores e mais seguras, incentivando as vítimas a trabalharem por conta própria, em vez de dependerem apenas da ajuda do governo.
Moradias sustentáveis e resistentes
Depois dessa reviravolta na sua carreira, Yasmeen Lari passou a ter um impacto significativo não apenas nas comunidades marginalizadas do Paquistão, mas também em outros países.
Ao longo dos anos, ela desenvolveu sua habilidade de usar lama, cal e bambu em diferentes áreas de desastre. Assim, pôde aprimorar seu trabalho e transformá-lo em uma verdadeira forma de arte.
Com a eclosão do conflito em Swat, na província de Khyber Pakhtunkhwa, em 2007, a arquiteta começou a utilizar o bambu em seus trabalhos, criando instalações comunitárias, como as cozinhas para os campos de refugiados.
Em 2010, enchentes atingiram as províncias de Khyber Pakhtunkhwa e Sindh. Mais uma vez, Yasmeen usou seus conhecimentos em bambu e lama para fazer abrigos para as populações afetadas. As palafitas se tornaram uma maneira de proteger as pessoas das inundações.
Com isso, nas cheias subsequentes, de 2012 e 2013, a região não sofreu perdas de vidas humanas, de gados e nem de bens nas áreas trabalhadas pela arquiteta.
Quando terremotos abalaram novamente o Paquistão, em 2013 e 2015, ela projetou abrigos resistentes usando armações de bambus cruzados.
Yasmeen é pioneira no que chama de “arquitetura social pés descalços”, desenvolvendo projetos que treinam os habitantes locais para construírem estruturas sustentáveis e baratas capazes de suportar as inundações e os terremotos que assolam seu país continuamente.
Os prêmios
Por essas ações inovadoras, Yasmeen Lari já foi premiada várias vezes.
Em 2018, ela ganhou o prêmio World Habitat, que salvaguarda a dignidade, a saúde e a renda das mulheres.
A premiação foi dada graças à criação de um chulah (fogão) que economiza combustível e não emite nenhuma fumaça tóxica.
Essa alternativa foi criada devido ao fato de os fogões tradicionais paquistaneses prejudicarem a saúde das mulheres.
Já em 2020, Yasmeen recebeu o renomado prêmio Jane Drew, por elevar o perfil das mulheres na área da arquitetura.
A arquiteta também ganhou o cobiçado prêmio Fukuoka de Arte e Cultura Asiática do Japão.
Além desses, pelos seus trabalhos humanitários e sua contribuição para a arquitetura, ela foi condecorada com diversos prêmios paquistaneses, como o Sitara-i-Imtiaz e Hilal-i-Imtiaz.
O produto que reproduz uma joia do Paquistão
Depois de conhecer Yasmeen Lari e viajar pela arquitetura paquistanesa, que tal levar um pouquinho de tudo isso para os seus projetos?
Nero Venato, da linha Unique, recria um tradicional mármore paquistanês em porcelanato polido e está disponível em diferentes formatos: 90x180 cm, 120x120 cm e 60x120 cm, além de rodapé de 20x120 cm.
Esse produto pode ser usado em áreas comerciais leves (com tráfego mediano de pessoas e sem o trânsito de equipamentos), áreas residenciais (com tráfego leve de pessoas) e paredes externas e fachadas.
Gostou de saber mais sobre Yasmeen Lari? Então, aproveite para conhecer Enedina Alves Marques, a primeira engenheira civil negra do Brasil!