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Victória Rizzo: arte de criar aconchego

Gustav Klimt, falecido em 1918, estudou desenho ornamental, o que explica a riqueza dos fundos das pinturas do artista vienense. Victória Rizzo, na flor dos seus 29 anos, formou-se em 2014 na UniRitter, em Porto Alegre, mas teve uma formação anterior descompromissada e afetuosa no terreno da arte.

– Até meus 17 anos, fiz aulas de artes, viramos amigas da professora, e, na adolescência, íamos pra casa dela pintar e fofocar, sempre inspirada nas obras e cores do pintor Gustav Klimt. Agradeço por não ter escolhido arte como profissão: hoje, vendo meus quadros, penso que não era meu forte. Sempre gostei de combinações quando o assunto era cores, porém, nunca fui muito boa em desenho – admite.  

Em 2008, Victória Rizzo esteve junto a um Klimt original e muito representativo da obra do austríaco. Pintado em óleo, prata e ouro sobre tela, o Retrato de Adele Bloch-Bauer I faz parte do acervo do museu chamado de Neue Galerie New York, na 5th Avenue (Crédito: reprodução)

Das brincadeiras de infância, lembra das viagens a Gramado com os pais e o irmão, mais novo do que ela, e das bonecas. Sempre gostou da Barbie, mas “o mais divertido era montar a casa dela, desmontar e começar tudo de novo”. 

– Meu pai é engenheiro, mas a escolha foi sempre para o lado da decoração, desde de pequena amava ir em lojas de tecidos com a minha mãe: as combinações dos florais e xadrezes sempre me fascinaram – lembra. 

Interiores suaves, mas com elementos de décor em destaque (Crédito: Marcelo Donadussi, divulgação)

Victória destaca ter sido na escola “mais dispersa do que estudiosa, porém, minha mãe fez da história minha matéria predileta: eu trazia os polígrafos da aula e ela me explicava tudo, sempre fazendo minha imaginação aflorar”. 

Mas não eram apenas essas as experiências com a mãe: andanças pelo mundo são recorrentes inclusive profissionalmente na vida de Mylene Rizzo, que recentemente descobriu uma veia artística. A viagem inaugural de mãe e filha foi para a Europa e ela teve a mãe como cicerone, explicando tudo sobre museus, lugares e até hoje quando viaja “não é igual sem ela”. Depois retornou a Londres para um curso de inglês nas férias de verão no Brasil, em uma temporada de dezembro a março. Em muitas das viagens que a mãe fez, levando grupos, Victória retornou ao Exterior, abrindo seus horizontes para a criatividade e educando o olhar, tanto no colorido de países exóticos quanto na formalidade acinzentada do Velho Mundo. 

Cores, florais e xadrezes encantam a arquiteta Victória Rizzo (Crédito: Marcelo Donadussi, divulgação)

– A cor está em tudo, é umas das grandes responsáveis pela sensação que o espaço vai causar no usuário. Gosto de explorar ela de formas diferentes em cada projeto, em uma parede, objetos, tecido. Os tons têm o poder de mudar totalmente um ambiente – ressalta a jovem arquiteta. 

Cor personaliza o ambiente (Crédito: Marcelo Donadussi, divulgação)

Suas preferências atuais pela área de interiores ficaram mais claras perto da época da formatura, durante a segunda experiência no escritório BG Arquitetura. 

–  Fiz estágio em mais de cinco lugares, porém, minha grande escola foi a BG Arquitetura. Comecei trabalhando na área de eventos e em apaixonei, lembro até hoje com muito carinho dessa fase – a Cynthia (Garcia) foi uma mãe na arquitetura para mim. Saí da BG depois de dois anos de estágio e voltei no último ano da faculdade, um pouco antes de me formar. Aí eu me apaixonei por interiores: trabalhando com a Madia (Borges) aprendi muitas coisas, e foi ali que me formei e começaram a surgir os trabalhos, primeiros para amigos e familiares e depois outros clientes – relembra. 

Antes de criar a sua própria marca, Victória Rizzo Arquitetura, começou a experiência de um escritório próprio “devagarzinho, com uma colega de trabalho” e depois seguiu sozinha em carreira solo.

Conforto e aconchego (Crédito: Marcelo Donadussi, divulgação)

– Trabalhei por muito tempo na casa dos meus pais até ter um local para chamar de meu. Foi um aprendizado gigantesco, é um aprendizado eterno, cada projeto é uma escola. Eu amo residencial, adoro imaginar a casa das pessoas, entrar no mundo delas, e melhorar a qualidade de vida. 

Do período da faculdade, lembra do foco na arquitetura de edificações e que adorava ver os projetos do grupo BIG, de Bjarke Ingels, arquiteto dinamarquês que estudou Arquitetura em Barcelona.

– Gosto muito da nossa arquitetura brasileira – Marina Linhares, Arthur Casas e Triptyque – são algumas das minha referências, mas o mundo digital hoje permite uma busca constante de inspirações. Adoro arquitetura nórdica, às vezes, quando me dou conta, estou na página de escritórios de lugares que nunca ouvi falar – conta.

Particularmente, não gosta de ter hora para criar. Diz que salva muitas referências e que seu processo começa sempre na planta baixa porque “pensar em 2D facilita visualizar o todo”. Depois, parte para suas pastas salvas no computador com “referências que têm desde de recortes de revistas até fotos de viagens” e entra muito em sites de arquitetos e outros como Pinterest e Archdaily. Victória lança a planta à mão e depois passa para o computador e nem sempre usa render, mas gosta de trabalhar em cima da imagem em 3D. Gosta de algumas revistas admite a força da Internet.

– Acho que o mais desafiador é alinhar tudo isso com o gosto dos clientes. Hoje acho que já comecei a construir um estilo, as pessoas acabam me escolhendo por isso, mas no início era mais complicado. 

Victória Rizzo em ação tratando dos detalhes que tanto aprecia (Crédito: Marcelo Donadussi, divulgação)

Victória já teve a experiência de fazer um projeto de interiores para ela, como autora e cliente, há dois anos e garante que “cada projeto é um aprendizado” que propicia melhora a cada nova experiência:

–  Foi um projeto que mergulhei por mais de seis meses, na hora de projetar fiz muitas modificações.    

E, se fosse construir, projetaria uma edificação funcional, de linhas retas, com concreto e madeira, com as memórias da casa em que morou por muitos anos com os pais. Com a pandemia, acredita que a visão do morar mudou para todos:

– Vimos a importância da nossa casa, de se sentir bem, de ter um lugar pensado para nós. Amo chegar na minha casa, me dá uma sensação de tranquilidade, aconchego, e acho que ter um espaço assim aumenta muito a qualidade de vida. A tendência Hygge está totalmente ligada com este momento em que vivemos. Não é um estilo que podemos imitar, ou uma peça que podemos comprar, é um conceito totalmente ligado a conforto e bem estar. Modificações que o morador mesmo pode fazer para tornar a casa mais agradável e, com ajuda de um bom arquiteto, pensando na utilização do espaço, podemos morar e trabalhar com muito mais aconchego.

Delicadeza natural (Crédito: Marcelo Donadussi, divulgação)

Acho que o home office virou um espaço imprescindível em casa, ele pode ser um cômodo ou até mesmo um objeto, depende da forma de como o usuário prefere trabalhar. “Eu gosto muito de ficar na sala, por exemplo, uma mesa pode ser multifuncional, podemos trabalhar, comer, e receber nela”, ressalta, mas admite que estava muito acostumada a trabalhar do escritório e teve “bastante dificuldade no início” da quarentena. 

– Agora super me acostumei, estamos saindo quase todo final de semana, mas meu lugar preferido para descansar e trabalhar é a casa dos meus pais em Gramado: a tranquilidade daquele lugar me permite colocar as coisas em ordem e criar sem pressa – diz. 

Neste momento, a maioria dos seus projetos está concentrada no setor residencial:

– Senti que a pandemia fez as pessoas olharem mais para suas casas, investir no bem-estar. Estou com dois projetos na praia, o que mostra também o interesse das pessoas em deixar aconchegante as casas de finais de semana – destaca Victória, que observa o uso mais intensivo das residências de lazer como alternativa para as pessoas passarem parte da semana.

Entre os seus objetos de design, Victória lembra que curte as banquetas do brasileiro Ventura Lab, da arandela da Studio Drê Magalhães e do seu tapete da espanhola Lorena Canals. Mas a arquiteta tem seus sonhos de consumo em design, como possuir uma peça de Guilherme Wentz, um dos autores das linhas da Portobello, e inclui ainda uma obra de Inês Schertel nesta lista. De resto, vive um momento de desfrutar do resultado de seus trabalhos com os clientes satisfeitos.  

– Sou muito orgulhosa dos meus projetos. A gratidão dos clientes é o que me motiva e me orgulha: adoro receber uma fotinho deles usando a casa, e aproveitando os espaços. Quero continuar conseguindo atender todos os clientes, acompanhando as obras de perto e, é claro, criando.


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Foto de destaque: “Gosto muito de decoração, cores e estampas são minha paixão”, diz Victória Rizzo (Crédito: Marcelo Donadussi, divulgação)

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