Previsto para acontecer em julho de 2020 no Rio de Janeiro, o UIA2021RIO (27° Congresso Mundial de Arquitetos) foi adiado por conta da pandemia do coronavírus e reajustado para ser realizado 100% digital. Se por um lado perdeu-se o burburinho e o fervor dos eventos presenciais, de outro ganhou-se em abrangência: participaram mais de 88 mil pessoas de 188 países, com mais de 500 horas de conteúdo exclusivo desde o mês de março, quando iniciaram os debates on-line, finalizando com a programação principal dia 22 de julho.
O Congresso acontece a cada três anos e a edição 2021 bateu o recorde de participação na história do evento realizado pela União Internacional de Arquitetos (UIA). “O recorde de participação nos orgulha não pela vaidade de termos feito o maior congresso da UIA, mas, sim, pela certeza de termos conseguido realizá-lo em um momento histórico de extrema importância, no qual precisamos reinventar nossas cidades e melhorar a qualidade de vida dos habitantes. O evento precisou ser readaptado para o momento da pandemia e foi fundamental, justamente, para discutirmos a cidade do pós-pandemia”, disse Igor de Vetyemy, Comissário Geral do UIA2021RIO e Co-Presidente do Departamento do Rio de Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/RJ).
O resultado dos intensos debates, com pautas urgentes em torno do tema “Todos os mundos, um só mundo, arquitetura-cidade 21”, foi a redação da Carta do Rio, apresentada no encerramento do Congresso. O manifesto estabelece propostas objetivas para um novo modelo de cidade no mundo pós-pandêmico, mais atento às mudanças climáticas, aos bons espaços, à saúde pública, à dignidade da moradia e à redução das desigualdades.
A carta foi criada a partir das diretrizes expressas pela ONU, pela ONU-Habitat e pela UNESCO nos Objetivos do Milênio e na Nova Agenda Urbana. A aposta das instituições envolvidas com o Congresso é que o manifesto tenha a mesma força da “Carta de Atenas”, publicada após o Congresso Internacional de Arquitetura Moderna de 1933, que influenciou no desenvolvimento das cidades europeias após a pandemia da gripe espanhola e no pós-guerra, e até mesmo na criação do Plano Diretor de Brasília, por Lúcio Costa.
“A Carta do Rio não é só uma declaração de princípios, como costumam ser as cartas resultantes de congressos ao redor do mundo. Ela avança para ser, de fato, propositiva. Para o Brasil, queremos deixar a nossa contribuição com a entrega da carta para os prefeitos de cidades brasileiras, que podem se basear no documento para defender um planejamento urbano que considere sempre a diversidade e o bem-estar dos habitantes como foco principal”, ressaltou o Presidente do Comitê Executivo do UIA2021RIO, Sérgio Magalhães.
Lida para um público de congressistas espalhados por diversos países, a carta será novamente divulgada na Assembleia Geral da UIA. “A pandemia evidenciou, sobretudo, a relação de interdependência entre as dimensões política, econômica, social, cultural e ambiental na configuração dos territórios e das cidades e a urgência de se promover políticas públicas inclusivas, para que daí emane a Cidade 21”, diz um dos trechos da carta.
Alguns tópicos da Carta do Rio
- reconhecimento das diversas formas de produção das cidades, incluindo favelas e periferias;
- práticas que integrem renda, gênero e sexualidade, raça, culturas tradicionais e imigrantes à cidade;
- políticas de desenvolvimento urbano sustentáveis, que abriguem as diferenças;
- cidades com governança participativa, criativa e compartilhada;
- obras públicas licitadas a partir de projetos completos;
- moradias dignas, saudáveis e com localização adequada, através de políticas que possibilitem financiamentos justos;
- serviços de infraestrutura, saneamento, transporte e segurança universalizados;
- promoção da “cidade inteligente”, que alie instrumentos urbanos à tecnologia e à universalização dos serviços públicos de modo equitativo e inclusivo;
- uso inteligente e diverso dos vazios urbanos da cidade consolidada;
- mobilidade urbana que considera recursos ambientais e atende às necessidades de populações nos deslocamentos cotidianos.
Quem passou pelo Congresso
As atividades virtuais preparatórias do UIA2021RIO tiveram início em março deste ano, associadas aos quatros eixos temáticos do congresso: Fragilidades e Desigualdades; Diversidade e Mistura; Mudanças e Emergências; e Transitoriedades e Fluxos. Nos eventos preliminares, foram apresentados mais de 380 artigos e projetos desenvolvidos por arquitetos e urbanistas de 43 países.
Durante a programação principal, todo o conteúdo foi disponibilizado com tradução simultânea para cinco idiomas (português, inglês, espanhol, francês e mandarim). Além das palestras, foram transmitidas mesas-redondas, apresentações de trabalhos e atividades culturais em sete palcos diferentes.
Na semana do dia 18 ao dia 22 de julho, o Congresso digital recebeu nomes como Eduardo Souto de Moura (Portugal), Francis Kéré (Burkina Faso), Marina Tabassum (Bangladesh), Carla Juaçaba (Brasil), Elizabeth de Portzamparc (Brasil/França), Carme Pigem e Rafael Aranda (Espanha), Zhang Li (China), Stefano Boeri (Itália), Tatiana Bilbao (México), Solano Benítez (Paraguai), Anna Heringer (Alemanha) e Kengo Kuma (Japão).
- Com material da assessoria do UIA2021RIO, programação digital e documento Carta do Rio.