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Nos últimos anos temos recebido cada vez mais informações sobre tendências e previsões do que está por vir. Elas estão em reports feitas por empresas pagas, em pílulas espalhadas de forma gratuita nas redes sociais e em eventos com cada vez mais apelo – provavelmente passou pelo seu feed alguém que foi ao SXSW, festival de inovação que aconteceu em Austin na última semana.
No início da pandemia, mesmo antes de saber “o que era”, “como”, “quando” e “se” irá acabar, recebemos diversos reports do “novo normal” e o mundo “pós-pandemia”. Eu mesmo tenho muito prazer em ler e compartilhar nas minhas redes (no meu instagram @carvalhando e na minha newsletter, o que descubro).
Acompanhando estes relatórios, de diversos lugares do mundo, tenho percebido cada vez mais que as tendências vão se mantendo ao longo dos anos (há quanto tempo você escuta falar sobre sustentabilidade, colaboração, vida simples, minimalismo...?). Ao mesmo tempo, muitas delas acabam virando oportunidades de mercado e não se concretizando de vez. Logo vem uma outra onda e movimentos importantes não são implementados.
Para facilitar a nossa leitura e percepção, Matt Klein e Sarah DaVanzo fizeram um levantamento para sintetizar mais de 500 tendências encontradas em mais de 40 relatórios com previsões para 2022, de empresas como WGSN, Trend Watching e Wunderman Thompson, classificando as 14 tendências culturais mais frequentemente relatadas.
Bingo. Algumas das tendências apontadas eu já escuto de uns 5 há 10 anos. Mas como falei aqui na minha coluna no mês passado, uma tendência, não é uma previsão de futuro, é a identificação de algum comportamento emergente (que surge por uma necessidade ou por um grupo de pessoas inovadoras). O que nos leva a pensar o porquê desses comportamentos não terem sido escalados, e até mesmo porque eles não saem nunca da pauta.
Quando apresentadas, as tendências não podem ser consideradas como uma peça “tamanho único”, que possa caber em todas as pessoas – até porque, não existe “todas as pessoas”. Os comportamentos, as vivências e experiências são diferentes e isso impacta na adoção e na escalada do que é apontado, por pessoas ou empresas.
Ao invés de sairmos por aí reproduzindo tudo o que ouvimos, precisamos escutar cada vez com mais crítica, pensando na aplicação do que está sendo proposto a recortes de gênero, classe, raça, localização... são muitos os fatores que podem impactar na adoção de um comportamento emergente.
As 14 principais tendências apontadas foram: Eco tudo; padrão digital; vibes; inclusão radical; brincadeiras lúdicas; eixos domésticos; saúde mental; renovação e reinvenção; moedas virtuais; imediatismo; “eu inc” (pessoas como marcas); barulho bom (áudio); mundo pet; nova educação.
Vou comentar sobre 3 delas, que acredito que tenham mais impacto no universo da arquitetura e decoração, trazendo alguns alguns insights para refletirmos sobre elas de forma mais crítica, mas principalmente para não deixarmos que elas se tornem apenas um “modismo” ou que se perca e possa depor contra a marca.
Eco tudo
A emergência climática tem acelerado a pauta da sustentabilidade na mídia, nas rodas de conversa e no mercado financeiro. Enquanto muitas pessoas se tornam mais conscientes sobre seus atos e cobram mais responsabilidade das marcas, há muitas empresas querendo se adequar, porém vendendo um discurso que não é profundo ou verdadeiro.
Palavras-chave (que mais apareceram nos reports): greenwash, compromissos, comprar para toda a vida, economia circular, impacto zero.
O que pede a mudança: mudanças climáticas, impaciência, culpa, atitudes de curto prazo e maus incentivos.
O que fazer: mudanças estruturais, ações de longo prazo.
Para se aprofundar: livros “Como salvar o futuro” e “Homo integralis”.
Brincadeiras
Períodos históricos pós-guerras, revoluções e pandemias geralmente vem acompanhados de euforia e vontade de liberdade. A leveza e o espírito brincalhão da infância podem estimular a extravagância, o jogo de cores, os ambientes de descompressão e descontração. O impacto pode ser percebido em materiais, cores e formas. Porém não se pode esquecer da responsabilidade que a vida adulta já nos confere.
Palavras-chave: maximalismo, memes, ironia, brincadeira, absurdo, juventude, catarse.
O que pede a mudança: crise, momentos de restrição, “más notícias”.
O que fazer: não esquecer da responsabilidade coletiva.
Para se aprofundar: filme Bo Burnham's Inside
Eixos domésticos
A nossa casa é o nosso coração, central para o nosso bem-estar e todas as funções. Depois de tanto tempo com restrições, estamos ainda mais próximos do nosso espaço, e é provável que ambientes mudem de função, que nossas necessidades básicas sejam inseridas em projetos – como espaços para trabalhar, estudar, se divertir e acolher pets.
Palavras-chave: flex, híbrida, saúde e bem-estar, DIY, trabalho remoto.
O que pede a mudança: mudanças nos modelos de trabalho e ensino, imprevisibilidade da pandemia.
O que fazer: abraças a impermanência e a multifuncionalidade.
Para se aprofundar: profissionais que estão refletindo sobre a nova morada @mauricioarruda e @ste_rib no instagram.
Mais do que uma lista para ser reproduzida, as tendências apontadas pelos relatórios devem nos fazer refletir sobre o nosso momento atual e para onde vamos. Fora isso, elas não têm muita utilidade. Para ver o report completo, clique aqui.