Do verde ao azul
Exatamente um ano depois de terem sido erguidos os 440 metros quadrados de construção ao longo de 12 meses no Condomínio Velas da Marina, em novembro passado, foi anunciado o International Property Awards nacional ao escritório Seferin Arquitetura pela morada com jardim central e espaço gourmet. O prêmio britânico conta com inscrições de todos os continentes e os participantes são convidados.
– Foi o terceiro ano seguido que recebemos convite deles para participar. Desta vez, estávamos confiantes e ganhamos a Melhor Residência Unifamiliar do Brasil. Consequentemente, estamos concorrendo à Melhor Residência das Américas (com resultado previsto para janeiro). O prêmio foi anunciado agora em novembro e logo depois recebemos o convite para participar de um prêmio na Itália – conta Marcelo Seferin.
Diferenciais arquitetônicos
Não é difícil mesmo ao espectador leigo se render aos encantos desta casa de lazer em Capão da Canoa, Litoral Norte gaúcho, e entender os motivos da premiação britânica. Imagens capturadas de qualquer ângulo mostram um projeto arquitetônico especial, conectado com a natureza de várias maneiras. Mas conhecer o protagonista e desfrutar do ambiente é privilégio de quem adentrar a residência: trata-se do jardim interno central, que conecta praticamente todos os ambientes da morada à densa vegetação.
Esse recurso ilumina a casa e valoriza as escolhas dos materiais que dão corpo à proposta arquitetônica diversa do padrão esperado para uma casa praiana de condomínio – em geral com um jardim apenas nos fundos, voltado ao lago artificial característico desses empreendimentos. O arquiteto Marcelo Seferin considera que Pietra Lombarda off White, escolhida na dimensão 120x120, “tem um conceito bem natural de pedra com fragmentos, mas que deixa os ambientes mais sofisticados do que outros com conceito de concreto ou cimento; neste projeto, era o que precisávamos, um piso mais discreto para destacar a madeira e a pedra das fachadas, mas que agregasse à composição dos materiais”.
A fachada dos fundos do terreno, voltada para uma das baías do lago do condomínio, propicia uma linda vista, porém, como a orientação é Leste, só recebe a luz do sol direta na primeira parte do dia. Assim, o jardim central foi a solução encontrada para proporcionar uma melhor insolação no ambiente social, o de maior permanência na casa. Isso sem falar na consequente ventilação cruzada, “uma alternativa passiva de sustentabilidade”.
– Além dos motivos técnicos da implantação do jardim central, ele se tornou um novo ambiente de jardim da casa. Nele, fugimos um pouco de uma área externa de casas do condomínio, mais íntimo, sem o visual das demais casas. Virou um local para momentos alternativos aos jardins convencionais: é possível relaxar entre as bananeiras e oliveiras, além de usar o ambiente para refeições menores – diz Marcelo.
O arquiteto paisagista do projeto, Fernando Thunm, lembra que o pedido foi que a casa tivesse uma “inspiração tropical”, com vegetação abundante e de grande porte. Thunm destaca entre suas escolhas as árvores jabuticabeira, oliveira e palmeira canariensis. E ressalta que optou por exemplares crescidos, o que rapidamente conferiu a forma desejada ao espaço central.
O que ninguém podia prever seria o quanto a nova casa seria usada com qualquer clima, em função da pandemia, como o refúgio para os finais de semana da família – um casal que recebe seus dois filhos com as famílias, com quatro crianças no total. Jardim central e espaço gourmet são os ambientes preferidos para o convívio entre as gerações, com alternativa tanto de estar sob a sombra das árvores do jardim central quanto de refúgio interno com lareira.
Como arquiteta responsável pelo projeto de interiores, Camila Sanguiné, do HB Interiores, destaca o que considera “uma linguagem clean, mas também imponente, devido aos pontos marcantes do projeto de interiores: o ambiente da lareira, com o ripado de madeira e a bela composição de pendentes destaca a solução para a lareira. No ambiente gourmet minimalista, destaca-se o tom de cinza grafite escolhido em contraponto com a madeira das lindas banquetas com design de Marcelo Ligieri. E, na cozinha, o elemento que abriga a coifa, concebido e detalhado pelo escritório, que delimitou de forma elegante o ambiente”. Na base, um grande tapete de sisal com chenile unifica os ambientes da área social e traz o aconchego desejado.
Ao começar essa sua proposta de interiores, com a arquitetura resolvida, Camila já havia percebido a força do conceito do projeto arquitetônico, o que a inspirou ainda mais. A paleta de cores neutra que a arquiteta adotou, com os contrastes apenas entre banco, bege e cinza-grafite, visa respeitar o “pano de fundo”, a grande massa verde da vegetação e “não competir com ela”.
Essa harmonia entre arquitetura, paisagismo e interiores pode ser identificada nas manifestações dos responsáveis por esses projetos. Thunm ressalta que suas escolhas para os acabamentos de paisagismo sempre contam com o consentimento dos demais escritórios envolvidos, para uma “fluência entre os projetos”.
– O fato de os três escritórios (arquitetura, interiores e paisagismo) estarem bem alinhados foi o grande diferencial para uma finalização bem diferenciada do projeto – resume Thunm, responsável por pintar de verde o jardim central.
Para Marcelo, o projeto contou ainda com um desafio adicional. A casa de veraneio anterior dessa família estava localizada em um grande terreno na beira da lagoa de Imbé, outra praia do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Portanto, havia muita área de jardim em um endereço próprio à qual a família estava habituada. A troca por um condomínio horizontal era uma “grande mudança” na avaliação do arquiteto.
– Nossa intenção era que não sentissem a falta dos pontos positivos da casa anterior, o que já seria um grande passo para o sucesso do projeto – lembra Marcelo, que destaca o jardim central como o “grande fator de surpresa” para quem visita a casa e, claro, um ponto de contemplação e contato com a natureza para quem convive nela.
Natureza dos projetos
Este projeto “traduz um pouco” como Seferin Arquitetura projeta uma casa: “pé no chão, funcional e muito integrada com a área externa e a natureza”.
– Não nos apegamos a estilos. Temos muita admiração por algumas escolas como a uruguaia e a portuguesa. Adoramos o modernismo, mas sempre pensamos em uma arquitetura adequada para o seu tempo, funcional e pensada para os usuários. No Brasil, admiramos Isay Weinfeld, Marcio Kogan e Paulo Jacobsen. Já visitamos algumas obras deles e adoramos os detalhes. Muito fãs também do Paulo Mendes da Rocha. E, este ano, estudei bastante a arquitetura contemporânea da Austrália, onde estão fazendo excelentes projetos.
Aqui vale referir que em 2020 o escritório dos dois irmãos fundadores, Marcelo Seferin e Gustavo Seferin, focou em duas áreas. Gustavo está direcionado para a Seferin Arquitetos da Saúde, a nova marca que trabalha somente com arquitetura hospitalar e já tem no seu portfólio clínicas e grandes hospitais no Estado. Marcelo está à frente da Seferin Arquitetura, focada em arquitetura e interiores residenciais, mas também em projetos corporativos.
– Além das praias do Litoral Norte e de Porto Alegre, projetamos uma residência em São Leopoldo (Região Metropolitana de Porto Alegre). Também temos duas resistências em São Paulo: uma reforma completa na capital e uma nova construção no condomínio Quinta da Baroneza, em Bragança Paulista, da qual sentimos muito orgulho, pois o condomínio conta com projetos de todos os escritórios brasileiros que admiramos. Também temos um projeto de uma clínica construída em Rio Verde, Goiás. Em Garopaba, estamos finalizando a construção de um projeto na praia da Silveira. E já projetamos uma residência em Foz do Iguaçu, Paraná – enumera Marcelo algumas obras dos dois braços do escritório iniciado em 2017.