Embora fazer uma arquitetura inovadora seja o sonho de muitos profissionais, são raras as ocasiões em que é possível propor algo fora do convencional, sem esbarrar na sensação de estar fazendo “mais do mesmo”, seja do ponto de vista da espacialidade, materialidade ou das técnicas construtivas.
Por inovador não estamos falando, necessariamente, de construções bilionárias ou megalomaníacas, mas de soluções criativas que dão resposta adequada a uma demanda, independente de qual seja. O uso de materiais tradicionais como madeira e terra, por exemplo, pode ser inovador em alguns casos, assim como o desenho de uma cobertura ou a espacialidade de uma arquitetura.
Durante a graduação a expressão da nossa criatividade acontece de uma maneira muito rica e espontânea, dentre outros motivos por termos professores dispostos a colaborar para o desenvolvimento das nossas ideias, em um espaço de liberdade e constantes discussões. É especialmente na transição para a vida profissional que sentimos uma dificuldade em continuar pensando de forma inovadora, de resgatar esse espaço e imprimir novas ideias. Do ‘lado de cá’ do diploma a nossa criatividade é limitada por diversos fatores.
O primeiro deles é a segurança ao produzir o que é convencional, testado e aprovado pela experiência. Ao propor algo diferente assume-se o risco de errar, o que não é nada confortável, especialmente quando falamos de um mercado que exige do profissional uma produção muito rápida e eficiente, quase maquinal.
O segundo fator diz respeito à inovação, processo trabalhoso que demanda muita pesquisa, estudo e desenho. O caminho da concepção até a ocupação da edificação é longo e é preciso analisar a viabilidade de projeto do ponto de vista técnico, social, legal, econômico e territorial, para então passar pelo processo de desenvolvimento do projeto em si: projeto arquitetônico, escolha da materialidade, sistemas construtivos, projetos complementares, desenhos, documentação etc.
Por fim, o fato de que a arquitetura é necessariamente colaborativa, ou seja, é essencial que todas as partes envolvidas no processo estejam unidas pela mesma intenção arquitetônica, objetivo definido desde a concepção do projeto, tanto pelo lado do cliente, que pode ser uma família, empresa ou órgão público, quanto da parte dos profissionais e fornecedores.
Da parte do cliente, há consigo uma bagagem referencial pro seu sonho; da parte do fornecedor, a disposição e o conhecimento técnico necessários para acompanhar a empreitada e executar o que foi proposto.
Apesar de parecer um percurso exaustivo, é muito gratificante dar solução a um problema ao longo desse processo. Ter a oportunidade de inovar sempre que surge uma necessidade, especialmente nas situações mais desafiadoras, é o que deixa o desenvolvimento de projeto ainda mais rico.
Nos deparamos diariamente com escassez de recursos materiais, demanda por sustentabilidade, programas de necessidades extensos, pequenos terrenos, topografias desafiadoras, orçamento enxuto, sonhos gigantes e, olhando sob essa perspectiva, são esses fatores que nos movem e nos incitam a inovar. Se os desafios que citamos aqui tornam a concepção da arquitetura mais complexa, esses também são capazes de torná-la ainda mais singular!