No design, a construção de uma identidade visual é importante por vários motivos, e no contexto local, é um dos elementos essenciais para a construção de uma imagem nacional. Por isso, quando falei recentemente sobre o sentido das tendências, citei a importância de reforçar o que o Brasil tem de único no design, como forma de resgatar símbolos com valor cultural, para além de tendências estéticas de curta duração.
Então, vamos falar do design de interiores brasileiro? As tradições do nosso mobiliário nacional remontam os povos originários, muito antes da colonização e da chegada de diversos outros povos, que somaram ao Brasil as suas próprias referências e culturas.
Nesse contexto, os objetos naturais, à base de palha, argila e madeira, são os mais importantes, e até hoje fazem parte dos nossos ambientes e da nossa identidade.
Para os povos originários brasileiros, as matérias-primas naturais têm uma íntima relação com o ambiente, que provê não apenas os recursos mas também boa parte da inspiração para a ornamentação dos objetos.
Um outro marco para a construção do design nacional aconteceu a partir dos anos de 1910, quando a ideia de design começou a ganhar forma e receber esse nome por aqui.
Na década de 1920, com o movimento modernista, a discussão sobre a identidade estética nacional teve um boom, tendo sido muito importante para a valorização da cultura cotidiana brasileira. A ideia de regionalismo teve papel de destaque, assim como o reconhecimento das diversas culturas que compunham a identidade nacional.
Por falar em cotidiano, é da realidade do dia a dia que surgem muitas das peças mais icônicas do design brasileira. Como reforça o professor de design da USP para a Vogue, Marcos da Costa Braga: “A materialidade representa quem somos. O modo como um povo lida com as questões cotidianas e quais instrumentos utiliza para resolvê-las revelam sua forma de agir e pensar”.
Nesse contexto, muitos objetos de destaque hoje surgiram sem autoria definida e se tornaram símbolos das casas brasileiras, como é o caso da cadeira monobloco e do espelhinho de moldura laranja. Quem nunca teve um desses em casa?
Outro símbolo nacional desses que a gente não sabe ao certo de onde surgiu é a cadeira espaguete, ou cadeira de fio, que até hoje, pode ser vista em incontáveis versões em feiras de rua, ou sendo vendidas por ambulantes que ainda passam de porta em porta. Ela é um bom exemplo do puro suco do mobiliário nacional: peças confortáveis, coloridas e democráticas, que ganham versões e mais versões a cada lugar que passam.
Já o filtro de barro é quase um símbolo nacional e é uma invenção brasileira. As moringas cerâmicas já eram usadas por povos indígenas em diversas partes da América do Sul, mas foi por aqui que o filtro de barro com carvão como conhecemos foi criado.
Ainda na década de 20, um símbolo da modernização do mobiliário brasileiro foi criado: as camas patente. Talvez você não a conheça por esse nome, mas com certeza já teve uma dessas ou um modelo parecido em casa. A cama se tornou um marco do design moderno no país, não apenas por ser uma criação nacional, mas também pelo seu desenho funcional, simples e fácil de montar, o que foi essencial para sua disseminação.
E se a partir da década de 50, Oscar Niemeyer se tornou um dos grandes arquitetos do Brasil, Sérgio Rodrigues se tornou o nome do design de interiores. Sua criação mais famosa é a poltrona Mole, que até hoje compõe ambientes e é adorada por muitos designers e arquitetos brasileiros.
Já a cadeira bowl, desenhada por Lina Bo Bardi, nunca chegou a muitos lares brasileiros, já que nunca foi produzida em larga escala, mas é um bom símbolo de como o mobiliário nacional pode ganhar o mundo como símbolo artístico.
E para você, qual é a peça mais icônica que representa o design de interiores brasileiro?