Palácio Gustavo Capanema: um marco da arquitetura moderna brasileira
Certamente, o Palácio Gustavo Capanema é um marco da nossa arquitetura moderna.
Localizado no Rio de Janeiro, ele também é conhecido por diversos outros nomes, como Edifício Capanema, Edifício Gustavo Capanema (seu nome atual) ou Ministério da Educação e Cultura (MEC), em referência ao seu uso original.
Projetado por uma equipe notável, que contava com profissionais como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, além de consultoria de Le Corbusier, o prédio faz parte da nossa história e cultura. Apesar disso, está listado entre os possíveis imóveis que serão vendidos pelo Governo Federal.
Quer conhecer essa construção icônica e entender a importância de sua preservação? Continue a leitura!
História do Palácio Gustavo Capanema
O Palácio Capanema foi construído entre 1937 e 1945, com inauguração realizada por Getúlio Vargas, então presidente.
Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1948 e é um dos principais marcos da arquitetura moderna brasileira.
A criação do MEC aconteceu no governo de Getúlio Vargas, com seu projeto de centralização da máquina pública. Lembrando que, na época, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil.
O nome do prédio é uma homenagem ao ministro Gustavo Capanema, um intelectual que era ligado a inúmeros artistas vanguardistas e tinha em mente um novo projeto cultural para o país.
Ele buscava se apropriar das novas estéticas internacionais, como o modernismo, para refletir a busca pelo progresso e pela modernização do Brasil.
Concurso
Nesse sentido, a arquitetura moderna acabou servindo de base para a criação do prédio. Para definir quem seria o arquiteto responsável, o governo federal optou pela realização de um concurso nacional.
Apesar da intenção de desenvolver algo moderno, o júri que deveria analisar as propostas era conservador e academicista. Por isso, escolheu o projeto do arquiteto Archimedes Memoria, que possuía um caráter monumental e historicista.
Isso desagradou fortemente Gustavo Capanema — que legitimou o vencedor e pagou-lhe o prêmio devido, mas convidou o ex-diretor da Escola Nacional de Belas Artes, Lúcio Costa, para compor uma equipe e criar outro projeto.
Equipe e participação de Le Corbusier
O time montado por Lúcio Costa contou com nomes como Carlos Leão, Ernani Vasconcellos, Affonso Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx.
A euforia dos participantes era grande, visto que muitos eram arquitetos jovens na época e desejavam projetar algo impactante, uma vez que essa era uma oportunidade única. Poucos modernistas no mundo tinham uma chance dessas.
Diante da situação, Lúcio Costa decidiu solicitar a assessoria de Le Corbusier, um dos mais importantes arquitetos do século XX, considerado o “pai” da arquitetura moderna mundial.
O loteamento escolhido para receber o prédio ficava em uma área conhecida como Quadra F. Ao analisar o plano urbanístico para o entorno, Le Corbusier percebeu que rapidamente o palácio estaria cercado de construções menos expressivas. Assim, propôs a transferência para um espaço na Avenida Beira Mar, próximo ao atual Museu de Arte Moderna.
Também revisou o projeto inicial, elaborado pela equipe de arquitetos brasileiros, que foi considerado pouco arrojado pelo suíço naturalizado francês.
Porém, a permuta de terrenos não foi aceita. Então, antes de retornar ao seu país, Le Corbusier rascunhou um projeto alternativo para a Quadra F, que acabou não sendo usado.
No lugar dele, a equipe de Lúcio Costa utilizou o estudo anterior como base. Contudo, verticalizou a perspectiva horizontal do principal bloco, adaptando-a ao espaço disponível.
Outra adaptação importante foi substituir o corredor estreito com todas as salas dispostas do mesmo lado por salas dispostas em ambos os lados de um corredor central, com divisórias de meia altura, substituindo as paredes e oferecendo melhor ventilação e flexibilidade na ocupação.
Características, diferenciais e importância histórica do Palácio Gustavo Capanema
Em 1943, o Palácio Gustavo Capanema foi eleito pelo Museu de Arte Moderna de Nova York como o prédio mais avançado do mundo em construção.
E isso não foi por acaso. Afinal, o projeto da equipe de Lúcio Costa contou com vários pontos vanguardistas.
Para desenvolver a ideia, o grupo de arquitetos se atentou aos cinco elementos de referência do trabalho de Le Corbusier: planta livre, pilotis, terraço-jardim, janelas horizontais e fachada livre.
A equipe também considerou o emprego racional dos materiais, os métodos econômicos de construção, o uso de tecnologia industrial e a linguagem formal sem ornamentos.
É justamente por esses pontos que o Edifício Capanema é considerado um marco, inaugurando a arquitetura moderna brasileira.
Para aproveitar a luz e a ventilação naturais, foram usadas lâminas horizontais móveis, situadas na fachada norte.
O sistema é chamado de brise-soleil. Ele havia sido inventado por Le Corbusier três anos antes e foi usado pela primeira vez em larga escala no Palácio Gustavo Capanema.
Outra inovação foi o curtain wall, uma fachada envidraçada orientada para a face menos exposta ao sol. Instalações, acabamentos e móveis também foram desenhados especialmente para o edifício.
Características
O prédio conta com 27.536 m² e 16 pavimentos. É formado por dois blocos, que se interceptam perpendicularmente, formando uma letra "T" invertida.
A construção vertical é suspensa por colunas de 10 m de altura. No térreo da construção horizontal fica o hall de entrada, o auditório e o salão de exposições (com extensão para o terraço verde).
No bloco vertical ficavam originalmente os escritórios do Ministério da Educação e Saúde e, depois, do Ministério da Educação e Cultura.
A implantação livre do edifício na quadra e a suspensão do seu volume vertical por meio de pilotis combinados com elementos paisagísticos diferenciados adicionam valor ao espaço urbanístico ao redor.
Artes gráficas
Um elemento muito marcante no Palácio Capanema é a integração entre arquitetura e artes gráficas.
No Salão de Conferências Gilberto Freyre estão dois importantes murais em afresco pintados por Candido Portinari: Primeira Aula do Brasil e Aula de Canto.
No Hall Nobre ou Salão Jogos Infantis há outro grande afresco do artista, que dá nome ao espaço.
Seguindo pelo hall, encontram-se outras salas nas quais estão presentes telas de mais uma série de Portinari, batizada de Os Quatro Elementos.
No antigo escritório do ministro está a tela Ar. No que pertencia a Carlos Drummond de Andrade, que foi chefe de gabinete dele, temos a Água.
Nos gabinetes ao lado estão as telas Fogo e Terra. No mesmo pavimento, mais 12 afrescos formam um grande mural e representam diferentes fases da economia brasileira.
Outro detalhe importantíssimo do Palácio Capanema que tem a assinatura de Portinari são os azulejos que o revestem externamente.
O emprego da azulejaria marcou a revalorização de um importante elemento da arquitetura luso-brasileira.
São de autoria de Portinari seis dos sete painéis — o último é assinado por Paulo Rossi — que reproduzem as mesmas tonalidades dos azulejos de Outeiro da Glória.
Aliás, Portinari teve uma ligação tão grande com o edifício que quando faleceu, em 1962, foi velado por lá.
Esculturas e paisagismo
Todos os detalhes do Palácio Capanema foram pensados para traduzir o modernismo brasileiro, inclusive as esculturas.
Celso Antônio de Menezes produziu três delas: Mulher Reclinada, em granito cinza; Maternidade, que foi, posteriormente, levada para a Praia do Botafogo; e Mulher de Cócoras, também chamada de A Índia.
Bruno Giorgi confeccionou Jovem de Pé e Adriana Janacópulos criou Mulher Sentada. Em uma das fachadas do prédio ainda está Prometeu e o Abutre, de Jacques Lipchitz.
O paisagismo foi projetado por Roberto Burle Marx.
Nos jardins térreos há canteiros que imitam ondas, com vegetação exclusivamente tropical. Lá, temos outra escultura de Bruno Giorgi, Monumento à Juventude Brasileira.
Também são de Burle Marx o terraço-jardim do mezanino e os jardins do 16º pavimento.
Na fachada, ainda existe uma escultura fixa, que, na verdade, por contenção orçamentária, é uma maquete da original.
Por tudo isso, o Palácio Gustavo Capanema é considerado um dos prédios mais relevantes da arquitetura moderna brasileira.
Resumidamente, ele reuniu nomes importantes de várias vertentes das artes plásticas, como arquitetura, artes gráficas e escultura.
Além disso, transformou de maneira significativa o modo como as construções eram planejadas e executadas até então.
A respeito do edifício, Carlos Drummond de Andrade escreveu certa vez:
“Dias de adaptação à luz intensa, natural, que substitui as lâmpadas acesas durante o dia; às divisões baixas de madeira, em lugar de paredes; aos móveis padronizados (antes, obedeciam à fantasia dos diretores ou ao acaso dos fornecimentos). Novos hábitos são ensaiados. Da falta de conforto durante anos, devemos passar a condições ideais de trabalho. Abgar Renault resmunga discretamente: ‘Prefiro o antigo’. [...] Das amplas vidraças do 10º andar, descortina-se a baía, vencendo a massa cinzenta dos edifícios. Lá embaixo, no jardim suspenso do ministério, a estátua de mulher nua de Celso Antônio, reclinada, conserva entre o ventre e as coxas um pouco da água da última chuva, que os passarinhos vêm beber, e é uma graça a conversão do sexo de granito em fonte natural. Utilidade imprevista das obras de arte”.
Gostou de conhecer o Palácio Gustavo Capanema e entender sua importância cultural para o Brasil? Então, aproveite para ler o nosso artigo completo sobre a história da arquitetura!
Corbusier era suíço e não francês como informado. Faltou mencionar a escultura fixa à fachada e a curiosidade de ela ser na verdade a maquete do quereria a original. Por contenção orçamentária, colocaram a maquete.
Olá, Sergio,
Agradecemos o aviso de correção e sugestão de complemento do texto!
Continue nos acompanhando.
Grande abraço,
Equipe Archtrends